|Cap. 8|*

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-- Minha encantadora Helena! -- ele diz logo depois de me convidar a adentrar ao recinto. O quarto amplo, bem iluminado por uma enorme janela central, os livros de contabilidade, a mesa dura e grande de madeira pesada, os tapetes quentes e o sorriso convidativo do homem que me chama, entalham um ar agradável ao escritório em questão. Meu corpo treme com o pequeno gracejo de lábios perfeitos, relembra dolorosamente feliz a noite anterior.

-- Em que posso ser útil, senhor? -- arremato polida, numa clara brincadeira aos modos cordiais do enorme homem loiro à minha frente.

-- Entre e sente-se, Helena. -- conduz, seu rosto abandonando os traços amigáveis e se convertendo em seriedade. -- Precisamos conversar sobre minha irmã e sua situação dentro desta casa.

--E o que deseja me contar, senhor? -- digo também séria, aceitando a necessidade e o peso do assunto tão secamente iniciado. Meus olhos procuram distinguir nos seus todo sentimento. Procuro com vontade saber os segredos, antecipar o desespero que parece correr como gelo em minhas veias. Tenho medo. Medo da verdade, medo das consequências e medo do que sempre estou procurando forçosamente me enganar.

-- Não há necessidade de me olhar tão assustada, Helena. Não há perigo algum! -- ele diz abandonando um pouco de sua feição dura ao perceber o estado um tanto alarmado sobre aquilo que ainda não sei, mas que meu coração parece assustadoramente entender e o pavor instaurado em meu corpo consentir. -- Eu prometi a você que estaria segura ao meu lado, então não se preocupe. Não é nada grave o que tenho a lhe contar, e mesmo se fosse, eu daria minha vida para lhe proteger  e sacrificaria minha alma para que encontrasse com segurança o caminho de casa.

-- Então não me deixe mais aflita, senhor, e me conte toda verdade. Não percebe que a ausência de respostas para minhas perguntas me deixam em frangalhos? Não percebe que me sentir perseguida por algo que não posso ver está comendo toda minha coragem?

-- Peço desculpas se te coloquei em algo tão ruim assim, Helena, mas se fez necessário. Pela minha amada irmã, se fez necessário mentir para você à caminho desta casa.

--Suas palavras me assustam...

-- Por favor, deixe-me continuar. -- invoca firme -- Como bem sabe, minha querida Mirha está doente. Uma doença de alma, de cabeça. Ela nem sempre foi assim, assustada, cansada,... louca. Mirha era uma jovem agradável, calma, delicada e feliz, mas um trágico acidente marcou nossas vidas alguns anos antes. Minha amada irmã deixou de ser tudo isso quando numa manhã calma e ensolarada saiu a passeio pelas matas virgens que nos cercam. Uma única manhã para sumir, quatro malditas semanas para encontrar. Este foi o tempo, 4 semanas em  que estive no inferno. -- suas palavras me tocam cada vez mais enquanto seus passos lentos nos deixam mais próximos, mais íntimos pelo segredo passado.-- E foi numa noite, depois de todos os dias de sofrimento que passamos durante seu desaparecimento, que Bughie encontrou Mirha tentando alcançar os portões da casa, se arrastando ensanguentada e perdida, lutando como um animal por sua vida. Depois disso, depois de tudo isso, minha jovem irmã, minha pequena Mirha nunca mais foi a mesma. Ela, tão cheia de vida e doçura, deixou sua alma como pagamento na natureza selvagem que nos rodeia. -- ele termina sem me fitar, seus olhos brilhantes de emoção percorrendo o detalhe em pedraria do meu vestido sobre ombro. Seu olhar buscando, sem qualquer vestígio de sexualidade, apenas não encarar o julgamento de outro. Um julgamento sobre sua irmã. Um julgamento sobre a sua obrigação em proteger aquela que carrega seu sangue.

-- Ela contou a vocês o que aconteceu durante todo o tempo que passou longe?-- tento com coragem e cuidado formular verbalmente algumas perguntas que rondam minha mente. Busco, esculpindo delicadamente cada palavra, entender e, ao mesmo passo, não ofender ao homem que se entrega. Que se dispõe sob meus olhos em seu mais puro eu, eu sua verdade crua e em seu estado frágil.

-- Tentamos inúmeras vezes, mas todas sem sucesso. A cada vez que forçávamos algo do ocorrido, minha irmã nos abandonava mais e mais. Não consegui ver aquilo, não consegui e não consigo assistir o terror em seus olhos, a dor que se expande no vazio. 

-- Você não acha que ela precisa de alguém com mais preparo, alguém que realmente possa ajudá-la?

-- Helena, minha irmã está louca para o outro, está descompensada em seu passado doloroso, mas sei que ela ainda é a mesma. Sei que no fundo de seu peito ela ainda é a mesma. Você, senhorita, com seus modos nada delicados e sua elegância feroz, consegue tirar daqueles que juraram nada entregar. Você, Helena, é a minha esperança para encontrar a verdade que Mirha esconde. 

-- E como acredita que possa fazer isso? Senhor Bjornan, sua pequena irmã me odeia com força e me assusta com a mais terrível vontade. Não sei se sou capaz de enfrentá-la, de forçar sobre ela o que ela realmente é. 

-- Eu acredito na senhorita, e acredito que conseguirá fazer tudo tão natural como a própria existência.

--Por favor, não me bajule! Estou assutada com tudo que tem dito, mas quero imensamente ajudar. Porém, senhor, mais do que essa história triste que me conta, tenho medo das reações de Mirha. Ela não carrega culpa, bem sei, mas as coisas que tem feito...

-- Acredita que minha irmã tem invadido seu quarto durante as madrugadas, sim?!

-- Não posso afirmar com toda certeza, mas a jovem é a única que carrega em seus olhos desejo suficiente de me prejudicar. -- coloco a realidade em minhas palavras, jogo francamente meus medos sobre o belo homem à minha frente. Seus olhos me observam, buscam a confiança, escondem a verdade. 

-- Prometa que tentará me ajudar e eu a protegerei.

-- Como?

-- Faça isso, Helena. Três meses, tente durante três meses! -- seu pedido é sincero. Sua dor é real.

-- Muito bem!-- concedo ao seu desejo.-- E como pretende me proteger? -- continuo sem trégua.

-- Dormirá comigo, Helena. Durante o dia será protegida por meus homens de confiança, durante a noite esquentarei seu corpo e a guardarei de todo mal. 

-- Por Deus!....

-- Não precisamos de formalismos, muito menos de pudores depois do prazerosa noite anterior. E a ideia me parece excelente. -- ele responde em um sorriso, seus olhos abandonando parte do negativismo anterior e espelhando o desejo quente e a fanfarrice de um jovem aventureiro.

-- Não posso negar que também me atrai, não ouso mentir tão descaradamente. Mas, Viking, não estamos no meio do nada. Não estamos nas terras selvagens que cercam esta casa ou em algum mundo quente e desconhecido. Não posso me dar ao luxo de que algo tão perturbador e deliciosamente maldoso caia nos ouvidos e seja despejado pelas bocas dos fofoqueiros. As notícias, principalmente estas notícias, atravessam o mundo mais rápido do que podemos sonhar.

-- Não há a mais remota necessidade de outras pessoas saberem. Vamos dividir uma cama, não proclamar nossos votos.

-- Tem razão. Tem toda razão! -- aceito sua palavras fáceis que nada explicam, afirmo aceitando o desejo que me consome por mais algumas noite ao lado deste homem, mas, com toda minha independência, entristecida pela maneira como sou significada. A validade de uma mulher é algo a se pensar no mundo em que vivemos, o desejo de uma mulher é algo a se esconder. Meu desejo se compara ao do homem que ricamente me fita, mas meu corpo nunca poderá falar abertamente isso.

-- Minha adorável Princesa, por favor, não se sinta ofendida com o que falo, pois, se falo, é porque acredito que possa ser honesto em meu desejo e meus sentimentos quando estou em sua presença. Acredito que carrega em seu corpo a mesma vontade de entrelaçar nossos corpos, de gozar eternamente e de não se culpar por isso. -- seus olhos procuram os meus, alegando uma fala clara e honesta. Seus dedos, num roce calmo e elegante, acariciam minha bochecha e conseguem transformar o mais ingenuo toque em ardente vontade.

-- Não pense bobagens, Viking! -- tento espirituosa. -- Agora, se não tiver mais coisas a dizer, devo terminar meu passeio pelos arredores antes do jantar. -- digo antes de me guiar para a saída.

-- Não se canse muito, Princesa. Preciso que esteja bem disposta! -- ele diz, e posso escutar seu estrondoso riso quando fecho em minhas costas a pesada porta que o guarda de meu anseio, que nos separa de toda uma conversa que tão facilmente mudou de rumo. Meu medo agora é que este homem, com suas boca mágicas, consiga me impulsionar a fazer tudo. Me guie cega para qualquer ponto.

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