|Cap. 11|

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Escrever é um trabalho árduo, mas quando os personagens não se deixam apagar e assim invadem sua mente em busca de vida, sei que é hora de voltar. Então vamos que vamos!

Jane B.

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O CAPÍTULO

Meus pés tocam cada degrau de pedra polida enquanto meus dedos acariciam a parede fria que me guia num sem fim rumo ao quarto. Meus pensamentos se perdem, deixam-se amparar ao léu. Meus olhos quase não podem ver a frente, meu sistema ainda permanece abalado pela coragem de tão poucos momentos antes. A coragem que ganhei se acabou ao me retirar da mesa, satisfeita e exausta. Meus lábios se fecharam pelo e no silêncio que se amargou na pura força de vontade de me manter ali, de quebrar as ordens e por em desaforo ao anfitrião da casa.

Agora, calma e lânguida, meio trêmula e cansada me encaminho para o quarto. Meu antigo quarto. Minhas mãos empurram a parta, meu corpo se deixa passar pelo vão e logo mais se escora em decadência ao me proteger recostando na madeira pesada, me fechando do outro lado do mundo. Meu quarto, este quarto, será um esconderijo de algumas horas antes de ser obrigada a partir.

Caminho até a lareira acesa, um pressentimento mais que acertado dos empregados que escutaram ávidos toda a discussão. O fogo alaranjado me toma em letargia, mas minhas mãos ainda se movem ao desamarrarem os laços do vestido, puxarem para o chão a peça de tecido que me aperta. Sem força e sem vontade para sair do torpor, sigo para a penteadeira, escovo o cabelo e me preparo para dormir. Dormir e relaxar. 

Prossigo ainda presa na teia da letargia, no pensar coisa alguma que me toma em névoa e faz com que minha mente zarpe ao desconhecido espaço escuro do nada. Assim, nesse conjunto de ausências, me guio rumo a cama. Apenas vou e sinto, apenas sigo e faço mecanicamente o ato de  puxar as cobertas. É neste segundo, neste pequeno momento que a centelha de vida novamente invade meu corpo pelo horror da cena. Meu grito me ganha, me enlaça e sufoca. Grito pelo susto e pelo pavor, forço meus pulmões na busca pelo ar que o momento me toma. Meu corpo não reage como espero, meus movimentos parecem decadentes na tentativa de buscar ajuda. Me empurro o mais rápido que consigo para fora da porta, tento formar as palavras de socorro ao encontrar Bjornan e mais dois outros soldados que correm ao meu encontro.

-- O que acontece, Helena? -- sua voz é entrecortada, seu corpo rijo e sua respiração forte quando me fita na procura de qualquer mal causado. -- Por que gritou? Esta ferida? -- suas perguntas continuam ao passo que suas mãos verificam as muitas partes expostas pela roupa íntima. 

-- N- não... só que... -- não posso concluir a frase ao ser puxada ainda mais pelos mesmos braços que agora me enrolam em seu enorme tartã, um movimento ágil de desprender com o broche o grosso tecido que ricamente cobria seus ombros.

--Por Odin, está quase nua! -- sua voz explode ao se aperceber de todo meu corpo e visualizar o embaraço de seus homens diante da cena. --Por que está... -- suas palavras param ao verificar a forma como desavergonhadamente me agarro ao seu corpo, a forma como me aperto em seu peito num abraço que busca ajuda e esconde o terror deposto em lágrimas. -- O que aconteceu, Helena? -- suas mãos me confortam em uma caricia amigável e até infantil.

-- Meu quarto... -- falo entre seus braços, deixo que o sussurro escape entre soluços -- Minha cama esta coberta de sangue e...  

-- Verifiquem! -- o voz de Bjornan é firme em comando, mas seus braços ainda me apertam em delicado consolo. O cansaço me toma uma vez mais, a dignidade que quis ter ao pronunciar em pensamentos que nunca mais dependeria de outra pessoa para minhas salvações diárias caem por terra ao comprovar minha incapacidade de buscar pela devida ajuda, demorar em aterrado pavor.

-- Senhor! -- a voz de um dos soldados se infiltra em meus pensamentos ao sair do quarto. Seus olhos brilhantes parecem também assustados com o que presenciou. -- É melhor que veja isso!

-- Um segundo e estarei indo, Korhai! -- diz pouco antes de me afastar calmamente de seu abraço e me fitar os olhos. -- Vou chamar uma das empregadas para que fique contigo em meu quarto enquanto verifico o que ocorre lá dentro, Helena, ok?!

-- Não!... -- afirmo agora mais contida e controlada, me apercebendo da vergonhosa cena que pareço ter feito durante esses minutos. Sua fala mansa, seu cuidado com minha fragilidade e seus olhos esquisitamente preocupados me colocam no papel de sua irmã, no papel frágil que a mente devastada de Mirha ocupa. -- Por favor, gostaria de entrar com você e entender melhor o que se passa. -- Seus olhos me fitam curiosos pela inesperada ação, mais ainda preocupados com o que possa ter me deixado nesse estado.

-- Tudo bem! -- ele apenas diz pouco antes de me libertar de qualquer contato e se adiantar pela porta.

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