Como posso começar esta carta que parece encarar tantas surpresas?! Meus queridos, como posso escrever tudo que ronda meus pensamentos, as novidades que me aparecem em todos os minutos?!
Meu amado casal, antes de adentrar em assuntos mais sérios ou delicados devo acrescentar um pedido de desculpas por não lhes enviar nenhuma notícia durante as longas semanas que se passaram. Em defesa própria, os dias neste paraíso verde são monótonos e quase impacientes. Ainda não tive a oportunidade de caminhar entre a sociedade normanda, muito menos conhecer e selar vínculos com outras pessoas, outras damas que pudessem vir a me fazer companhia. Meu caro senhor Bjornan parece gostar de manter sua casa calma e seus convidados em uma existência sem graça e enfadonha. Mas não devo mal dizer seu nome enquanto estou sob seu teto.
Iniciando todas as novidades que me surgiram faz tão poucos dias e que culminaram em assunto para esta carta, informo feliz sobre o aparecimento de André e seu bonito ajudante Guez. As andanças desses dois jovens me espanta, assim como a força da amizade que carregam. Meu coração se mantem preocupado com meu pequeno irmão, seu corpo não parece mais o mesmo e seu espirito sempre tão puro e iluminado tem se deixado morrer um pouco. Talvez sejam só preocupações infundadas da cabeça de uma irmã atarefada com assuntos secretos e que um dia lhes serão contados, mas que não tem nenhuma fonte de descanso e paz entre roupas bonitas ou festas efervescentes.
Vocês também e com toda certeza devem estar curiosos e ainda mais preocupados sobre o destino de Pedro, sobre o que André parece ter deixado para terminar em águas orientais. Confesso que me acerco de curiosidade interminável e constante, mas o olhar de meu irmão e o medo castanho que vivo encontrando nos olhos cada segundo mais abatidos de um menino que já viu a mais pura e delicada beleza, me fazem por muitas vezes recuar. As suspeitas crescem, mas com elas o medo de descobrir mais do que eles se prepararam para me oferecer e eu aceitar. Pareço fraca? Covarde? A realidade da afirmativa toma meu sono. Devo tanto. Sinto tanto. Me arrependo, irmão, de não ter aberto meus olhos e abandonado minha felicidade egoísta, ou agora, quando a oportunidade novamente me surge, o véu do medo se põe escuro, grosso e firme sobre meus olhos.
Perdão por não ser o suficiente Korcwovski. Perdão por deixar essa carta tão pesada, por arrasta-los mais uma vez para esse turbilhão de emoções. André me assegura de que pode fazer tudo o que pretende sozinho, que pode acabar com o sofrimento que nos perfura a todos, mas eu tenho receio de que o peso que carrega, o fardo que parece suportar por todos seja grande demais. Meu querido irmão caçula, deixo que ele lhes explique o que se passa, pois não me sinto no direito de contar aquilo que apenas escutei e nunca tão cruamente vivi. Sinto novamente por essa carta, queria que lhes fosse um tanto mais leve.
Com amor e saudade,
Helena.
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Desejo Viking
RomansAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...