|Cap. 56|

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Sinto saudade.

Sinto saudade e tenho medo.

Tenho medo do mundo que enfrento sozinha.

As vezes lembrar de você me dói o coração.

Existir sem você me dói a alma.

J.B.

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--Helena...-- a voz de Bjornan se faz escutar ao romper o silêncio que nos cobre durante a viagem de volta à casa. Seu tom é suave, tateante sobre a incerteza do que irá encontrar ao buscar um novo contato comigo.  É um chamado delicado, quase sussurrado.

-- O que deseja, senhor? -- digo em mal humor, aceitando a quebra do silêncio que armou sobre nós por boa parte da viagem. Meu rosto é duro, uma máscara contida. Sei que demonstro os sentimentos negativos que guardo em meu espírito. 

-- Por favor, precisamos conversar. Não quero que se distancie de mim. -- seu pedido é calmo, engarrafado por lábios secos e por olhos suplicantes. Seu rosto parece preocupado, entristecido com o que acontece entre nós. Seu corpo parece tenso ao se manter do outro lado do carro, afastado de mim. Suas mãos se enlaçam apertadas e firmes sobre os joelhos. Parece uma postura ansiosa, um ponto totalmente distinto do que esse homem costuma ser para pessoas e momentos como este. A importância que parece dar, o anseio que seus olhos parecem conter ao me fitarem tão intensamente na iluminação amarelada que cai sobre nós não condiz em nada com os risos, as chacotas e o jeito fácil com que levaria o assunto.

-- E o que deseja conversar, senhor? Sobre como me tratou como tola? Ou sobre como fez minha imagem ir à lama? Ou mesmo sobre como criou um escândalo que poderá afetar a mim sobremaneira? -- meu corpo finalmente reage com o sangue quente que carrego em minhas veias, meus sentimentos gotejam em raiva pelos lábios que agora questionam de forma incessante e ríspida ao homem que está sentado no banco da frente, que me olha de um jeito estranho e que aperta meu coração com possibilidades tão amargas de tragar.

-- Me desculpe! Não foi gentil da minha parte, não foi nada honroso com você. Eu... -- suas mãos vão para o cabelo, um costume que demonstra seu estresse, sua ansiedade. -- Fiquei com tanto ciúme! -- ele finalmente diz, seu rosto uma mistura de alívio e choque pelo proclamado. -- É isso!... Não pensei que as coisas chegariam a tal, não pensei que me corroeria de ciúmes ao ver como todos ali te buscavam com os olhos famintos, te desejavam. Odiei cada segundo, quis te jogar sobre meus ombros e caminhar de retorno à casa no mesmo instante que pisamos naquele maldito espaço cheio de olhos ávidos. Fiquei cego por sentimentos de posse, pela loucura do ciúme. Fui um tolo!

--Sim, foi um tolo! -- reafirmo suas palavras, apresento afrontosa a concordância. -- ...Mas eu também! -- dou seguimento as verdades que explodem em meus lábios agora que o calor do momento se dissipou um pouco. -- Sempre vivi com toda coragem do mundo, rindo da cara conservadora e tradicional daqueles que me cercavam e cochichavam a meu respeito. Me deixei levar por essa falsa sensação de liberdade, de força e poder que só o dinheiro e um título nobre podem trazer ao ser estúpido que se dispõe a usá-lo. -- respiro fundo antes de acrescentar mais uma parte dos sentimentos que vão se aterrando  em meu coração. -- A verdade é que minha raiva não foi sobre qualquer escândalo, sempre os tive em conta e silenciei a todos com o poder do nome de minha família. O que acontece é que me senti irritada quando seus olhos e seus lábios me julgaram, como me fizeram sentir menos, sentir que estava errada.

-- Me desculpe, Helena!... você não merecia isso. Não merecia segurar o peso dos meus sentimentos ruins. Prometo estar ao seu lado para qualquer obstáculo que seguir depois da noite de hoje. Você é preciosa, Helena. Uma mulher incrível.

-- Não precisa se desculpar, nem dizer coisas irreais como essas.... Não sou nada especial, não sou nada incrível. 

-- Sim, você é! -- Bjornan diz ao içar seu corpo para o banco que estou, se colocar ao meu lado e me puxar lentamente em um abraço tranquilo. A força de seus braços, o calor do seu corpo, as batidas fortes do seu coração e o cheiro bom que emana me dão conforto, me fazer querer chorar mil lágrimas, derramar sobre seu peito a dor que carrego, os sentimentos que me engolem e o medo de não saber lidar com todos eles. Estou cansada da vida que levo, das escolhas que faço, da realidade que aprendi a viver. Estou cansada da solidão que me domina agora que sinto seus braços poderosos sobre meu corpo. A solidão dói, ela arde como um fogo invisível. Ela é um elefante branco que de tanto estar na sala vai nos forçando a acostumar com sua presença. Mas a solidão não desaparece, ela só se camufla, se torna parte. E se tornar parte, se fazer ser natural é desesperador. 

-- Bjornan... -- chamo fraca, minha voz abafada pelo apertado abraço. 

-- Sim, Helena?! -- ele responde, um som agradável sobre minha cabeça.

-- Acho que me apaixonei por você. -- apresento direta, jogo para o ambiente a verdade que toma meu coração e me dilacera. 

-- Então somos dois apaixonados. -- ele diz ao puxar meu rosto para encará-lo. Seu olhar suave, suas mãos quentes que seguram minhas bochechas  e o sorriso bom que vai ganhando seus lábios.

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