|Cap. 53|

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 -- Devo acrescentar que não esperava tão encantadora dama como acompanhante de um desavergonhado selvagem, senhorita Ianievna. -- o homem que é meu par em meio ao salão abarrotado sussurra quando nos aproximamos nos passos marcados da dança.

-- Por mais selvagem que o senhor Bjornan possa ser, não creio que acompanhar mulheres desencantadoras seja um de seus defeitos, senhor. -- brinco ao comentar. 

-- E parece que também não esconde o sangue que carrega. -- ele diz num sorriso aberto e encantador enquanto conecta seus olhos aos meus. É um olhar profundo, marcado, contornado por cílios longos e escuros, por um traço negro que naturalmente os delineia. São olhos de alguém que deveria ser apaixonado pela vida, mas que, ao mesmo tempo, carregam um certo cansaço mapeado em finas linhas na pele que os envolvem. 

-- E por que diz isso, senhor? -- questiono ainda fixa na força do olhar que se permite e não se importa em estar preso ao meu.

-- Conheço seu irmão, senhorita Ianievna. 

-- E de onde o conhece, senhor? -- pergunto atrevida, deixando com que um pouco de medo atrelado à curiosidade se dissipe dos meus olhos que o fitam ainda mais intensamente, da minha voz que tremula em seu final de sentença.

-- Acredito que possamos, André e eu, ser classificados como rivais que se tornaram amigos. -- ele diz num riso, pouco antes de se afastar novamente ao seguir os passos coordenados da dança. A resposta que ele dá, tão dissimulada e dúbia, consegue me fazer pressentir um pouco mais dos perigos anteriormente atestados por Bjornan. Essas palavras soltas e inocentes, mas que podem carregar significados perversos ditas enquanto dançamos alegremente. Essas palavras tão oportunamente liberadas para que me deixem ansiosa para o próximo encontro, curiosa para a fatídica explicação apenas garantem que o homem que me acompanha nesta dança é alguém acostumado a brincar com sentimentos alheios, com o desejo interrompido do outro.

-- Não irá explicar o que quis dizer com o comentário anterior, senhor? -- interrogo quando novamente nos encontramos ao som cadenciado da animada coreografia. Entro no jogo que este misterioso homem parece tão ardentemente se dispor a apostar. 

-- Não se preocupe, senhorita Helena. Não há mistério no que disse, então não me mostre esses belos e grandes olhos de raposa assustada.

-- Então me responda, senhor.

-- Acredito que possa dizer que André seguiu sendo meu rival nas proezas da conquista amorosa, mas que se tornou meu amigo diante das batalhas que fomos forçados a compartilhar ao longo dos anos.

-- Meu irmão parece sempre compartilhar tortuosos caminhos. Espero que este não seja o caso em questão, senhor.

-- Então devo desapontá-la, senhorita. Seu irmão parece estar fadado a trilhar os tenebrosos destinos daqueles que cruzam seu próprio terrível caminho. -- ele apenas diz, seus olhos deixando os meus, seu corpo parando ao finalizar a dança com um suave cumprimento. A expressão de seus olhos, o aperto de seus lábios, as mãos que se fecham em punhos ao finalizar todo o ritual promovido pela etiqueta das danças de salão parecem clarear o seu desgosto pela verdade tão logo proferida. -- Mas não se atenha a isso, senhorita Helena, deixe que as coisas se encaminhem por sua própria natureza. Agora vamos, já é hora de retornar ao velho selvagem que me fita com tão encantadores olhos de fera. -- ele ri numa última provocação ao suavemente nos guiar em direção a um Viking de lábios amarrados e olhos que parecem querer nos queimar em cada passo.

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