A mesa de jantar é primorosa. Os convidados me alegram os olhos e aquecem minha alma. André está lindo em seu cabelo preso, sua camisa de algodão branca e suas calças de couro negro. Suas vestes de sempre, do meu tão amado irmão, limpas e simples me trazem o prazer do momento e, pela primeira vez, um sentimento de lar.
Meus olhos buscam captar todas as imagens, absorver no mais íntimo os detalhes dos presentes. O jovem Guez complementa seus trajes negros com algumas indumentárias diferentes. Colares e pulseiras tomam seu pescoço e pulso e nos dá, para todos na enorme sala, uma sensação exótica e bela. Os traços delicados de seu rosto e sua pele bronzeada, misturados aos badulaques que carrega, dão ao rapaz uma alta sensualidade mística. Bjornan o fita, seus olhos presos na beleza daquele corpo magro e estranhamente atraente, seus traços tensos, seus punhos apertados em apreensão e seu rosto belo marcam um segredo, uma desconfiança ou a abrasadora força do próprio medo. Os olhos claros do senhor da casa não fitam ao belo Guez com desejo, curiosidade ou a felicidade dada pela amizade e o convívio, seus olhos o fitam duros na certeza de um futuro cheio de dúvidas, dor e solidão. Seus olhos mostram compaixão, ansiedade e um algo de mistério pelo corpo dourado, longelíneo e frágil que se dispõe a sua frente.
-- Mirha não participará do jantar? -- pergunto diretamente a Bjornan quando tento dissolver o sentimento que sobe pressionando e quase sufocando a todos no ambiente.
-- Minha irmã se sente indisposta hoje. Talvez ela vá lhe visitar mais tarde, Guez! -- Bjornan afirma casual ao depositar um sorriso bonito em seus lábios
--Visitar mais tarde? -- pergunto incrédula e envergonhada pelo insólito da afirmativa. Por mais que minha idade e a experiência que cobrem meu corpo me permitam andar com passos mais longos e uma mente mais aberta, alguns tabus da sociedade a qual pertenço e me criaram travam toda e qualquer disposição positiva para a conversa em questão.
-- Minha irmã gosta muito deste moleque aqui, Helena. Assim, todas as vezes que estes dois companheiros aportam nestas terras abençoadas pelos deuses, minha amada Mirha procura passar seu tempo ao lado deste magricela. - Bjornan me explica, uma tentativa de acalmar os semblantes já alarmados e tão estranhamente bem conhecidos por este belo homem. Seus lábios se curvam num sorriso maroto, seus olhos acendem num brilho quente de excitação da brincadeira e desejo.
-- Também gosto de passar meu tempo com ela, mesmo não podendo ajudá-la como bem gostaria. -- a voz rouca e sem emoção de Guez corta o ar da noite, corta os sentimentos agradáveis e sensuais que construía a tão pouco. Ele caminha em nossos corpos como uma sensação estranha, profunda e sem vida.
--Por favor, vamos finalizar todo esse início de conversa esquisita aqui e apressar este jantar. Estou faminto! Tem ideia de quanto tempo não como nada de descente?! De quanto tempo estou comendo produtos desidratados, salgados e conservados?! Por Deus, meu coração não aguenta mesmo essa vida mais. Estou exausto! -- a voz de André nos toma, o sorriso largo e bonito que o acompanha tira todo o ruim do momento, nos entrega de volta ao presente e nos energiza para um jantar realmente agradável. Como sempre, este meu amado irmão consegue ser tudo aquilo que os outros precisam, toda felicidade e pureza que uma alma tanto sonha.
-- Sim, que o jantar seja então servido! -- a voz de Bjornan soa alta, um imperativo para que se inicie a apreciação de boa comida e boa conversa.
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Desejo Viking
RomansaAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...