|Cap. 13|

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O quarto ao lado, o quarto principal e o quarto da noite anterior é o mesmo quarto ao qual me disponho. Sua cama ampla, sua lareira bem preparada e o fogo que aquece, as mantas limpas e a promessa de aconchego. Tudo é tão mesmo como o mesmo homem que comigo ocupou ardorosamente esse quarto.

Meus olhos acompanham tudo do mesmo, do já conhecido e reconhecido espaço. Eles tentam embriagar minha mente de imagens para que a memória da violência anterior não tenha caminho. Meus olhos tentam, mas meu corpo ainda guarda as sequelas do tempo passado, dos minutos anteriores que romperam com meu eu. Meu corpo treme no aquecido quarto, ele se força pela dignidade de longos anos em prática a se manter de pé, firme pela vontade de nunca cair em desgraça aos olhos do mundo. Meu mundo hoje é este quarto. Este quarto e o homem nele.

-- Helena?! -- a voz rouca e baixa de Bjornan me puxa de volta à realidade. Seu corpo ágil e dourado, seus músculos firmes e estendidos manobram com rapidez as peças de roupa que cobrem seu torso. -- Tudo bem? -- seus lábios perguntam a preocupação de seus olhos.

-- Nada que uma boa noite de sono não possa resolver, Viking. -- tento soar divertida após o embaraço, menos desamparada do que realmente estou após o pavor sofrido no quarto ao lado.

-- Não precisa se manter dura e impassível, Helena. Você está segura aqui comigo! -- ele diz conforme caminha em sua semi nudez junto a mim. Seus dedos longos tocam meu rosto, o áspero de sua pele marcada pelo trabalho e o calor de sua palma me agitam estranhamente. Sinto em meu íntimo uma mistura de desejo e medo. Desejo pelo homem que me toca tão delicadamente, e medo pelo destino que estou aceitando tomar em minhas mãos.

-- Eu sei!... -- respondo fraca, deixando as sensações de sua pele contra a minha arderem em consolo. -- Estou apenas cansada... com medo....

-- Você está segura, Helena. Eu prometo! Não deixarei que nada neste mundo lhe faça mal. -- suas palavras soam como verdade aos meus ouvidos, mas o que sei é que nem toda verdade dita é uma verdade cumprida.

-- Mesmo que o mal seja a sua família? -- ouso em minhas palavras, busco respostas em suas ações.

-- Por que diz isso, Helena? -- sua voz é áspera como o toque de seus dedos que instantaneamente se separam de mim.

-- Na recado deixado...-- tento manter a calma e a racionalidade em minhas palavras, forçar aos sentidos do homem ao lado os meus direitos de respostas. Sua história, ou melhor, a história que contou sobre sua irmã me soa corrompida, mentirosa e isso me perturba. -- Qual a relação da sua irmã com tudo isso? Por que o nome dela estava ali, e por que ela saberia do que poderia acontecer comigo? -- minha voz é firme pelo medo, pela dor, pela coragem, pela fusão de sentimentos que atordoam minha mente em busca de continuar vivendo. O medo bateu em minha porta, entrou em meu quarto e me deixou um recado. O medo me toma.

-- Não há relação, Helena! Minha irmã nunca faria mal a ninguém, só a ela mesma. Sua mente está doente, mas não tem essa perversidade. -- seus olhos são como fogo e seus lábios carregam o sentimento novo que surge contra mim, um ar de repugnância pelas meus pensamentos. -- Minha irmã teve apenas um destino cruel e esta maldita pessoa quer usá-lo!

--Eu não estou acusando a sua irmã de ter provocado tudo isso, apenas quero respostas sobre o motivo do nome dela estar ali, naquele miserável papel. Maldição! Você não está sendo muito diferente dos outros, você está me escondendo algo e me deixando no escuro como todos. Você está sendo tão burro quanto meu irmão, está apanhando do mundo sozinho por não ter coragem de dividir. Saiba que não sou uma mulher idiota ou ignorante!

-- Eu sei disso....

-- Não, não sabe! Você me tirou da tranquilidade do meu lar para apenas me colocar em risco com suas mentiras. Me tirou do seio da minha família ao pedir minha ajuda, mas agora se nega a dividir o que guarda sob 7 chaves. Acha que não sei o que se passa, que não vejo o desespero de sua irmã, os sinais de uma mente abusada?... Merda, Viking maldito! Merd.... -- não consigo terminar os impropérios, pois antes sou agarrada com força e beijada com urgência.

Meu corpo não percebe o momento exato, ele apenas sente o susto de ser puxado. Sinto os lábios macios que cobrem os meus, a língua que força passagem e a luta contínua do homem à minha frente para retomar o controle sobre o ambiente e sobre mim. Sigo sedendo em vontade e desejo, vejo meu corpo ir se agarrando ao corpo firme, meus braços necessitados em tocar a pele quente e firme e minha dignidade se apagando da mente como bolhas de sabão. Isso é insuportável, a dor de ceder tão facilmente e o desgosto ao saber meu significado. Não, não mais!

-- Não!...-- empurro com dificuldade seu corpo. Me separo de seu beijo, de seu contato. Seus olhos turvos, nublados pelo momento e desconectados do que aconteceu me fitam.  Esses olhos quentes não parecem saber como consegui me desvencilhar, como fui capaz de sair da tentação que ele bem sabe meu corpo clama e aceita em prazer. -- Não sou uma prostituta que se cala com um beijo, que se cala na vontade de um homem. Maldito seja você por acreditar em algum momento que este é meu lugar. Agora, por favor, saia deste quarto ou eu sairei. -- minha voz é profunda, firme em sua demanda. 

-- Eu sairei!... -- ele apenas diz ao tomar conta do ambiente, das minhas palavras que caem como chumbo e contribuem para o ar intragável do quarto. Seus olhos me evitam agora, mas seu rosto é como máscara dura e inabalável. Ele se afasta mais e mais, com seu peito nu e seus passos ágeis ele se encaminha à porta. -- Chamarei uma das empregadas para passar a noite contigo.

-- Não há necessidade. Quero ficar sozinha hoje... -- respondo firme e presa na amargura que como fel amarra meus lábios.

-- Não é uma opção, Helena. Ou uma das empregadas passa a noite aqui contigo ou eu passarei. -- ele termina logo antes de sair do quarto e me deixar sozinha. Me deixar ainda mais sozinha.


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