Meu coração está em disparada enquanto caminho entre as várias salas até o ambiente destinado ao jantar. Desço cada degrau com uma sensação ruim em meu espírito agitado, um gosto amargo que cobre meus lábios. Sigo buscando calmaria e tolerância por entre os corredores do enorme casa, respiro pesadamente antes do encontro fatídico e da noite que parece ter seu tortuoso fim nas palavras afiadas de uma jovem fora de seu estado.
-- Bom noite, srta. Helena. Está encantadora! -- a voz do senhor da casa me toma firme e ainda lisonjeira. Seu sorriso é perfeito e moldado por traços fortes, um tartã colorido com o símbolo de sua casa cobre seu corpo dourado em sinal de respeito ao primeiro encontro.
-- Bom noite, senhor! -- respiro fundo, me acalmo e respondo polida. Meus olhos admiram a beleza que cobre ao masculino ser à minha frente, seu corpo firme que se levanta para me ajudar na disposição das cadeiras à mesa.
-- Diga seus cumprimentos à srta. Helena, Mirha. -- Bjornan impera, fazendo meus olhos tão enfeitiçados se desprenderem de sua energia e beleza para caminhar por todo aposento.
A sala de jantar é bem disposta e moderna, a enorme mesa de 12 lugares ocupa o espaço central. O tecido fino, os talheres em prata, a elegância das cadeiras estofadas em verde escuro me mostram o luxo, o requinte e ainda sim uma vida não extravagante.
-- Bom noite, Mirha!-- digo após o longo silêncio que nos cerca, quando não mais posso fugir do embaraço que me toma.
-- Não irá responder ao cumprimento, irmã?! Foi nessa educação que nossos pais a incentivaram?!
-- Por favor, Sr. Bjornan, não a pressione.-- tento diluir a tensão que se forma como massa densa no espaço reservado. Os olhos da jovem dama, seus traços limpos pelo banho forçado, seus cabelos presos num emaranhado indulgente e suas vestes desajeitas me mostram o muito feito para este momento e o pouco que resta para um final violento. Seus olhos escuros, dilatados e viciosos só mostram o desejo do mais vil comportamento.
-- Como queira, Helena. Farei em sua honra o que pede. Mas, irmã, não siga pensando que seu comportamento não virá sem represália e correção. -- termina antes de mandar servirem os deliciosos pratos preparados para o jantar.
-- E nossos pais, irmão, o que eles o ensinaram? Trazendo essa mulher para casa e me forçando a sentar ao seu lado...-- a voz de Mirha retumba arrogante e sarcástica -- Já não é o suficiente que eu tenha que estar tão próxima dessa vagabunda? -- seu corpo finalmente explode em ira nos segundos após o chamado de Bjornan para o início do jantar. Sua boca traça cada palavra agonizante, dura e desrespeitosa sem vacilo. Seus olhos turvos de ódio fitam ao destinatário quando a jovem dama possuída se levanta em fúria de sua cadeira.
- Mirha! Já para seu quarto! -- a voz do senhor da casa impera alto, decidido, sufocado em assombro pelos limites que sua irmã tão facilmente cruzou, pelo espaço que mesmo em sua loucura nunca antes havia entrado.
-- Como queira, irmão! Farei o que bem prefere.... -- sua foz é fria agora, tão rápido e assustadoramente desprovida dos sentimentos turbulentos que a dominaram, mas carregando o mesmo ar de vilania sempre instaurado. Seu corpo se move calmo ao circular a mesa, seus pés silenciosos caminham para fora do recinto profanado.
-- Mirha!-- chamo firme seu nome ao me levantar da cadeira e seguir seus passos. Seu corpo se vira em curiosidade e desaforo ao meu encontro. Ao nosso calmo possível destino.
-- Sim, srta. Helena?!.. -- sua voz é doce em ironia, mas seus traços de regojizo pouco duram ao receber de minhas mãos o silêncio que merece. O tapa é forte, decidido e sem arrependimentos na ação daquele que o instaura. O barulho se espalha por toda sala, o som ardente se mistura ao encolhimento da jovem senhorita e a marca vermelha que toma lasciva seu lado esquerdo do rosto.
-- Nunca, srta. Mirha... Nunca mais ouse me chamar de vagabunda ou qualquer outro adjetivo inaceitável. Não admito que minha dignidade, mais que meu nome, seja jogada na lama. Que minha moral seja novamente pisada. Da próxima vez lhe baterei com gosto por tal ofensa, e quem não se importará com as represálias de seu irmão será eu! -- minha voz soa dura, um ponto firme ao ambiente deslocado. Um ponto de violência numa criação tão educada. Mas meu espírito se cansou de ser sempre rechaçada, ofendida gratuitamente por um e nunca bem amparada pelo outro. Decidi permanecer aqui, se ainda me quiserem, mas prometo não mais depender de outros nas minhas salvações diárias. -- Agora vá para o seu quarto! -- termino ainda dura, meu olhar firme sobre o seu.
O som de passos pelo corredor, a aceitação mortificada da jovem que sai em silêncio, tudo isso é abandonado ao receber a chamada do homem que ainda segue à mesa, sentado em seu trono e abismado com a situação.
-- Sim, bati em sua irmã! E repetiria mil vezes se necessário. Não aceitarei mais ofensas como essas. Dizem todos que ela está doente e mentalmente debilitada, mas sua língua é ferina aos ataques inteligentes e diretos sobre mim. -- digo ao me virar ao seu encontro e ter seus olhos penetrando minha alma em resposta a raiva contida. Seu corpo grande parece se segurar, parece ainda conter a adrenalina por ter se forçado a permanecer impassível durante o confronto que presenciou. Parece ter se esforçado ao máximo para não - novamente e sempre - proteger sua doce irmã dos malogros do mundo.
-- Não acho que agora seja um bom momento para conversarmos, Helena. Vá para ser quarto também! -- seu rosto firme, seus traços bonitos e seus lábios desejáveis se tornam, nesses segundos e nessas poucos palavras, a mais odiosa das visões.
-- Não! Não irei a lugar algum antes de terminar minha refeição, senhor. -- reafirmo minhas palavras pela corajosa afronta e me sento no antigo lugar disposto. -- Acredite, senhor, não sou sua irmã para que receba o mesmo tratamento. Não sou uma criança para ficar de castigo por qualquer travessura, por qualquer capricho ou porque um homem crê puramente que está em seu pleno direito. Não sou mais nada disso e não permitirei que creia em tão absurdo. Agora, se não quer mais a minha ajuda e nem minha presença aqui, me avise e partirei amanhã sem falta.
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Desejo Viking
RomanceAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...