Acordo com a claridade tomando o ambiente. O tão conhecido sol que adentra a janela e o ar que penetra o quarto e refresca minha pele me dão boas vindas ao dia. Meu corpo imóvel pela força de braços que me apertam é um indicativo de que não estou sozinha. O braço forte e dourado que me firma próximo ao corpo duro em minhas costas é o grande marcador que puxa à minha mente o desavergonhado ato da noite anterior, da loucura que por segundos tomou meu espírito e que pode mudar nossas vidas, minha e do homem que parece relaxado em minhas cotas, para sempre. O peso desse conhecimento arde, e a dor da consciência recai sobre mim.
Sinto os braços me aconchegarem para mais perto, o abdômen e pernas colados em mim, a voz rouca que sussurra -- Vamos dormir mais um pouco, Helena. Temos muito o que resolver para o resto do dia. -- ele apenas diz, seu tom calmo me preocupando até o último respingo de tensão que seguro dentro do peito. -- Não precisa ficar assim tão tensa, Helena. -- ele diz segundos depois, já desperto e se levantando da cama que agora parece em nada acolhedora.
Me levanto de um salto, a vergonha corroendo meu rosto e a covardia angariando fundos para me fazer querer correr e me esconder neste vasto jardim que toma os arredores da casa. -- Sinto muito, Bjornan. -- apenas digo com a força que me resta ao encarar um responsabilidade irredutível.
-- Do que deve sentir muito, Helena? -- ele pergunta agora de pé enquanto abotoa sua camisa. Sinto seus olhos queimarem meu corpo ainda nu, mas não ouso olhá-lo nem por um segundo.
-- Do que fiz ontem. Arcarei com as responsabilidades desse absurdo, não se preocupe. -- finalmente apresento.
-- Arcará com a responsabilidade de quê? Poder ter um filho meu em seu ventre?
-- Sim. Não irei forçar nada sobre você, foi um erro meu.
-- E como pretende se responsabilizar sobre isso? -- ele questiona, seu corpo se tensionando ao me fitar diretamente em espera de uma resposta.
-- Eu... -- tento responder, busco algo de responsável e reconfortante para os ouvidos do homem que se firma ante mim. Mas as palavras não saem, elas se fecham no desespero que parece querer entrar em minha alma a cada segundo que tomo conta da insensatez que fiz na noite anterior.
--Por Deus, Helena! -- ele inicia com raiva, seu olhos são como chamas coléricas diante do meu imobilismo. -- Acha mesmo que te deixarei carregar meu filho pelo mundo sem me importar? Essa possível criança não foi feita sozinha, Helena. -- ele termina calmo, o ar que sai do seu peito parecendo cansado até mesmo de iniciar a discussão.
-- Mas eu o forcei! -- tento soar coerente, aceitar uma probabilidade que parece me sufocar cada segundo mais.
-- Deus... como pensa que conseguiria forçar um homem do meu tamanho, mulher?! Com que força conseguiria segurar alguém com o dobro do seu peso?! Eu também quis isso. Me deixei levar por seu corpo apertado ao meu, escutar seu coração batendo disparado, a necessidade que senti nos delicados braços que me apertavam. Deus... eu amei todo o instante do ato, toda a bravura que vi em você naquele momento. Amei escutar que se apaixonou por mim e amarei qualquer fruto desse momento. Quero me responsabilizar por você, Helena.
-- Não quero que um homem se sinta no direito de se responsabilizar por mim. -- tento me irritar diante das palavras que tão costumeiramente escuto, da realidade que tão fortemente aflige as mulheres à minha volta. Mas o sentimento não vem, em seu lugar o alívio parece surgir lentamente e fazer com que o amargor que pouco antes queria subir ao meus lábios retorne ao lugar nenhum de onde veio.
-- Senhor... Helena! -- Bjornan apresenta irritado, cansado das palavras que saem da minha boca. Suas mãos passeiam por seus cabelos num ato de ansiedade e estresse. -- Em nenhum momento pensou neste lugar como sua casa? Digo... em nenhum momento cogitou a possibilidade dessas terras altas e abençoadas pelos deuses ser a sua nova casa, este ser o seu quarto e eu ser o seu esposo? -- ele diz finalmente, seu corpo já se entregando ao desgastante de toda a conversa.
-- Porque diz essas tolices, Bjornan?
-- Não são tolices. Tenho tido esses pensamentos constantemente. Te ver todas as manhas, escutar sua voz, sentir a maciez e o calor da sua pele todas as noites. É como perceber que estive sozinho durante toda a minha vida, que caminhei na solidão e no abandono. Ter você em meus braços é perceber que nunca me enamorei de ninguém antes, que andei errante por esse mundo. Helena, quero lhe propor casamento, e a noite anterior foi só um algo mais para aprofundar esse anseio.
-- Acaso está doente, senhor? Em devaneios? Essa conversa... as coisas que aconteceram nesses últimos dias, creio que afetaram nossos julgamentos.
-- Não sou um homem torpe, Helena. Não tenho julgamentos e nem tomo decisões de forma impensada. Lhe digo o que verdadeiramente sinto.
-- E o que espera de um casamento como esse, senhor? Acha que serei uma boa esposa ou boa mãe? Que quero ser algo disso? Expõe seus sentimentos sem nem mesmo levar em conta os meus. Impõe seus anseios como se eu devesse acatá-los sem demora.
-- Não foi o que quis dizer, Helena. Não vou impor nada a você, pois o destino de minha família não está vinculado a um primogênito ou a subserviência de uma esposa. Minha terra reconhece e vive o amor, independente do que ele oferece ao encontro do destino.
-- Eu... -- novamente as palavras são roubadas dos meus lábios. Não consigo negar ao que me pede, mas também não consigo abandonar a teimosia e a liberdade de tantos anos de vida. Estou cansada e assustada. Me sinto sozinha, desamparada.
-- Não me responda agora. Te darei alguns dias para pensar. No mais, estarei no escritório caso precise. -- ele diz para logo se virar rumo a porta de saída.
-- E se não estiver grávida, senhor? Ainda pretende se casar comigo? -- solto em uma voz, a ansiedade pesando em meus ombros.
-- Não desejaria outra coisa, Helena. -- ele diz para logo mais desaparecer do quarto e me deixar respirando a ar apertado de um ambiente que carrega a obrigação de uma decisão para a vida. Estou exausta. Estou apavorada diante do futuro, diante das decisões que quis tomar e que agora não me atrevo a ter coragem o suficiente para prosseguir. Eu o amo, mas tenho medo do que vem com esse avassalador sentimento.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo Viking
RomanceAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...