Acordo sozinha, a cama está fria na parte vazia ao meu lado, o frescor dos lençóis abandonados acaricia meu corpo numa manhã quente. O sol invade a única janela do quarto, seus raios tentam me atingir em toda sua gloria. Os dedos não mais suaves de um sol que já se levantou faz algum tempo banha o espaço que ocupei na madrugada anterior, clareia um lugar que no escuro de uma madrugada fria pareceu tão sem esperanças.
Me espreguiço um pouco, me deixo aproveitar o espaço da cama, o macio dos lençóis, o ar puro que entra pela janela aberta e o silêncio que reina no quarto amplo. Me corpo já desperto sente a beleza do dia, se anima para alguma aventura suave e refrescante do lado de fora da casa.
-- Já está na hora de levantar, não, princesa?! -- a voz de Bjornan me toma ao adentrar ao quarto, seu corpo longo e musculoso já está vestido e preparado para os trabalhos do dia. Sua entrada é espontânea, seus olhos me fitam sem vergonha pela cena que se apresenta, pelo momento íntimo que é o acordoar de uma dama.
-- Já é muito tarde? Creio que dormi como uma pedra! -- digo na suavidade da cama, meu corpo ainda ocupando os espaços do enorme colchão enquanto novamente me espreguiço para só assim levantar tranquila e ajustada, pronta para mais um dia.
-- Já passam das nove, mas nada que deva se preocupar, senhorita. -- ele ri, seu rosto de traços fortes se acalmam naquele pequeno sorriso bonito. -- O dia está lindo, então resolvi subir e te acordar, mas não se sinta obrigada a levantar por isso. -- ele acrescenta ao me ver sentar na cama languidamente, meus movimentos lentos e a expressão ainda preguiçosa que toma meu rosto.
-- Não, creio que tenha razão. O dia parece estar muito bonito para ficar dentro de casa. Estava emocionalmente cansada e esse sono longo me fez muito bem, mas agora devo me levantar e fazer algo. -- digo ao fitá-lo, meu corpo já se aquecendo pela energia do dia. -- O que te parece um piquenique com as meninas? Uma boa ideia para o dia de hoje ou ainda é muito cedo para tentar essas coisas? -- pergunto ao me levantar da cama, a camisola longa que cobre meu corpo se arrastando pelos meus pés enquanto caminho até a janela e observo o dia que reina do lado de fora.
-- Me parece uma boa ideia. O dia está muito bonito, já faz muito tempo que todos estão presos dentro desta casa. Minha irmã tem melhorado de forma constante, então um momento agradável e feliz no jardim deve lhe fazer ainda melhor.
-- O senhor nos acompanhará? -- pergunto ao me virar em sua direção, minhas costas recebendo o vento suave e o sol quente que adentra pelo espaço aberto que ocupo. A sensação é gostosa, calorosa e boa. Meu espírito se alegra, meu corpo parece receber a energia que emana da natureza bonita, exuberante e verde à minha volta. O dia de hoje deverá ser um grandioso dia.
-- Creio não poder dar a devida atenção a todas vocês no dia de hoje, Helena. Alguns compromissos me chamam para dentro daquele maldito escritório ou para alguma noite quente nos salões da sociedade afrancesada de Rouen.
-- Por Deus! Vamos finalmente sair para alguma festa? -- pergunto surpresa.
-- Não há necessidade de você ir comigo.
-- Quer que eu fique presa nessa casa para sempre, senhor? Sou uma mulher da sociedade, uma mulher muito acostumada com os prazeres noturnos de uma boa festa, uma boa música e conversas supérfluas. -- acrescento numa respiração só, tentando dar lugar ao meu anseio por sair deste mundo tão encantador e parado que é a casa do Viking à minha frente.
-- Se assim deseja, Helena... -- ele diz logo após meu ataque. -- Agora preciso ir. Estarei no escritório durante o dia.
-- Podemos então fazer o piquenique? -- pergunto antes que ele parta.
-- Claro! Sinta-se livre para fazer coisas como esta aqui em casa, Helena. Não quero que se sinta como uma simples convidada durante todo o tempo que passar aqui. Quero que seja feliz neste lugar, que aproveite de minha casa e que seja uma boa companhia para minha irmã. Não poderei comparecer ao piquenique, mas posso pedir para que Bughie as acompanhe se assim desejar.
-- Não será necessário, senhor! Estaremos em seus domínios, no jardim lateral ou algum outro lugar próximo e cômodo.
-- Ainda prefiro que alguém esteja com vocês.
-- Posso pedir para que Gaspar nos acompanhe. -- acrescento rápida, não deixando espaço para que o piquenique se transforme em uma junta policial no lugar de um momento de lazer e descanso entre amigas.
-- Então ficamos resolvidos. -- ele diz ao seguir para a porta.
-- Obrigada, Bjornan! -- digo poucos segundos antes dele sair, ganhando um olhar firme e um simples consentimento de cabeça. Não costumo falar muito o seu nome, as palavras são desconfortáveis e íntimas demais para meus lábios livres. Esse nome tão estrangeiro parece preencher minha boca, o som dessas palavras parecem ocupar um espaço maior que o desejado, causar consequências indefinidas e tão bagunçadas que eu escolho nunca pensar. Meus dias seguem se tornando uma deliciosa tortura, meu corpo segue ganhando as delícias da carne e o carinho do aconchego de braços fortes, mas minha mente e meu coração parecem saber que não deveriam aceitar esse fim ou se deixarem ser guiados para o abismo que é gostar tanto do impossível.

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Desejo Viking
RomanceAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...