O caminho que nos leva ao destino final é cansativo e tortuoso como aquilo que ele próprio guarda. Meu corpo, cansado da longa cavalgada durante o dia quente que corre solto, admira estasiado o mundo que se apresenta em todos os tons de verde. O ambiente que se inaugura perante meus olhos cobre boa parte da floresta que circunda a enorme casa em pedra clara na qual resido.
O caminho que percorremos agora em direção ao esconderijo onde se encontra Mullan não está na cidade, nem me oferece a oportunidade de desvendar e admirar a civilização deste país. Minha estadia aqui é verde, azul e dourada. Verde como os campos, azul como o céu e dourada como a cor dos cabelos do homem que penso sempre, mas que não nos acompanha na jornada de hoje.
Relembrar o pedido que fiz durante o café é como uma dor e um orgulho. Dói no arrependimento de proferir tais palavras nas horas anteriores, bem como se eleva meu orgulho ao mais alto brado de um Korcwovski a continuar seguindo ereta em meu cavalo malhado.
Minha respiração segue ofegante pelo longo exercício. O rumo que tomamos não poderia ser outro além do mais seguro e do mais castigador. Meu irmão e seus homens se apresentam silenciosos, rápidos e assustadores em cada minuto. Seus olhos firmes, seus comandos certeiros e a sensação de vigilância contínua dominam o ambiente que num sol escaldante se promove tenebroso e tenso.
André se estende firme, duro e reto em sua sela. Seu cavalo de um marrom lustroso parece acompanhar em imagem os sentimentos daquele que o monta. O silêncio o toma, a imagem de um rosto preso em traços firmes, bonitos, decididos e cansados. Este é um novo rosto, um perfil antes desconhecido do homem que carrega meu sangue, de uma criança que vi nascer. Este, para mim, é um outro homem. Um André desconhecido e que tem em suas veias apenas o sangue frio da morte. É assim que eu o sinto, é assim que meus olhos o distinguem por sob esse sol que nos domina.
-- Chegamos, homens! Sigam seus comandos. Todos em seus postos! -- a voz de meu irmão ressoa fria, próxima e baixa, me deixando acordar para a realidade que nos engole. Estamos todos reunidos, nossos cavalos bem treinados parados frente um pequena residência, um casebre escondido entre folhagens. A sensação de me perder por tanto tempo me captura em vertigem. Sem perceber estou aqui, cheguei ao destino final, ao encontro que ousei marcar com a verdade suja que carrega o nome de minha família. Agora não tem mas volta!
-- Senhorita Helena -- a voz de Gues surge baixa ao meu lado, seu rosto é sombrio e desmantelado, seus olhos sem expressão me fitam demoradamente como se esperando minha próxima reação. -- está na hora de conhecer Mullan. -- simplesmente impõe antes de deixar o meu lado e seguir com sua montaria para mais próximo da velha casa.
-- Está na hora,... finalmente! -- sussurro essas palavras engolidas em seco como se para tragar um pouco da coragem daqueles dois à minha frente.

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Desejo Viking
RomantizmAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...