|Cap. 55|

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Meus passos são calmos, bem elaborados pelo treino e pela prática de uma vida. Meus olhos estão fixos à saída, meu rosto marca alto a indiferença sobre os olhares curiosos que me acompanham. Sei o preço que esses senhores e senhoras atrelam com seus pensamentos a mim, mas sei também o que realmente valho. Valho em ouro aquilo que nenhum desses presentes conseguiria pagar, valho em orgulho aquilo que eu mesma mal consigo suportar sobre os ombros. Sou um título velho, um sobrenome manchado em sangue, um corpo que se torna troféu nas mãos daqueles que o detêm.

Sigo meus passos, meu coração disparado parece querer saltar o peito para fora do meu corpo, minha respiração contida pela dureza da necessidade de estar sempre composta. Aqui, mesmo sendo uma sem nome e sem dignidade, diante de olhos curiosos e ansiosos eu mantenho o orgulho maldito e cansado de uma família inteira. A porta de saída se apresenta rapidamente conforme deixo minha consciência se aperceber do todo e meu ego se aperceber de mim.

-- Helena?! -- a voz sussurrada de Bjornan me toma em fôlego. Sinto o ar quente que roça meu pescoço, a sensação calorosa de seu corpo próximo, a mão grande e firme que segura a minha nesse compasso de segundos. Seu toque é uma surpresa, sua ousadia um deleite para uma sala cheia. É estímulo mais que suficiente para o falatório que vai tomando como chama que lambe esfomeada a mata seca, é a formação de um escândalo. Este pequeno momento, esta pequena ousadia de um chamado é o toque final para a desgraça que cairá sobre nós, que nos amarrará ao futuro incerto e controlado pela língua odiosa dos outros. -- Irei com você para casa. -- sua voz pronuncia clara, sua mão ainda apertada à minha. 

-- Muito bem, senhor! -- apenas digo sem ousar fitá-lo, meus pensamentos divididos entre vários sentimentos. A raiva que me desnuda, a sensação do calor de seu corpo próximo que me inquieta, sua declaração tão aberta diante de um espaço cheio que me despudora.

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