|Cap. 16|

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Minha mente está agitada pela surpresa que me aguarda, mesmo que meu corpo não demonstre. Meu rosto sempre foi e será uma máscara de falsa felicidade, leveza e futilidade, mas minha mente sempre escondeu o sofrimento, a dor e o desejo de alcançar os sonhos de outros. Meu corpo robusto e altivo, minha cabeça erguida e desafiadora são os traços da realeza, do aprendizado duro e contínuo das obrigações de existir mulher.

Desço as escadas de forma suave, deixo que meus pés aquecidos e delicadamente calçados em seda não provoquem barulho algum. Meus olhos procuram firmes e espertos qualquer sinal do que me espera no solão a frente, meu corpo acordando para algo bom e tão amplamente desejado. O arrepio me toma, a ansiedade me agarra. Entro no ambiente espaçoso, e antes mesmo de procurar já encontro pelo amor e felicidade ao presente que tão amavelmente me esperava.

-- André!... -- solto um suspiro ruidoso, um gemido de choro e felicidade compartilhados no espaço diminuto do meu corpo. Minha alegria é infinita, meu ser não se contém. Corro ao seu encontro, o aperto em meus braços e não consigo ver mais nada. 

--Irá me sufocar assim, mana! -- a voz de André sai divertida enquanto se deixa ser apertado longamente pelos braços da saudade.

-- Deus... que saudade estava de você! Parece fazer tantos anos, tanto tempo que não coloco os olhos em minha família. -- digo pouco antes de me forçar um afastamento. Olho para o grande caçula à minha frente, admiro seus traços incrivelmente bonitos e fortes, seu cabelo ainda maior solto e rebelde, seus olhos escuros como a noite e brilhantes, seus sorriso perfeito que apesar de combinar tão bem com a pele bronzeada e o jeito fácil com que leva todas as pessoas ao ser redor, nunca tocam o mínimo a sua alma e com isso a verdade. -- Você parece cansado... 

-- Nossa viagem foi longa e cansativa, minha irmã. Chegamos faz poucas horas, ainda na madrugada e não paramos de trabalhar por nada. Mas agora vamos, cumprimente também Guez! -- sua voz é firme e cansada, o nome que toca seus lábios é como o significado de uma palavra usada sempre e que depois da felicidade do seu aprendizado na infância perde toda a importância. O sentimento de antes, a preocupação e o amor sempre estampados parecem ter se corroído ao ponto do átomo que não se vê.

-- Olá, Gaspar! Me desculpe pela indelicadeza, fiquei muito eufórica com a presença de meu irmão. 

-- Não se preocupe, srta. Helena! Compreendo perfeitamente que estava com saudades de seu irmão. -- a voz de Guez é fraca, rouca e crua. Sua voz apenas ressalta os sinais de um corpo cansado, frágil exausto em toda vivência. Sua pele bronzeada e bonita perdem espaço para a magreza espantosa, as olheiras que se mostram gigantes sob seus olhos, a respiração fraca que sai de seus pulmões.

-- Mas como tem passado? Você me parece tão abatido.... Meu querido André não tem cuidado de você? Este meu irmão caçula tem te posto em muito trabalho? -- minha voz sai inquisidora, demonstrando meu espanto ao observar o que foi um magro e bonito garoto. -- Responda, André! -- me viro para meu irmão, o encaro na busca de algum significado além do cansaço da viagem, prendo minha respiração no medo de algo mais.

--Vamos, Helena... seja sensata! -- a voz de André soa igualmente abatida, perdendo lentamente seus brilhos de alegria e juventude. -- Nós apenas estamos desgastados. Exaustos da viagem e com muitos negócios para resolver.

-- Que negócios? -- pergunto corajosa ao em intrometer nos assuntos pessoais de meu irmão.

-- Vamos falar mais tarde sobre isso, irmã. -- André inicia -- Agora gostaria apenas de me deitar um pouco. Então, mais tarde, quando já puder falar com vocês de forma apropriada, te contarei tudo o que queira saber e tudo o que preciso dizer.

-- Está bem.... -- minha voz sai numa confirmação sem graça. Mesmo sabendo das necessidades daqueles dois, meu coração os quer perto  e falantes. Quero poder abraçar quantas vezes mais meu querido irmão, saber sobre Alexia e Mikhail, sobre todos aqueles que deixei em Londres ou sobre qualquer possível e pequena coisa que ele possa me oferecer.

-- Bjornan, ficaremos no mesmo quarto de sempre? -- André pergunta.

-- Sim! O quarto já está devidamente preparado para vocês. Se quiserem algo específico, chamem a qualquer dos empregados. Eles estarão a disposição de vocês.  -- o enorme loiro ao meu lado finaliza diante de uma inclinação de cabeça de André e Gaspar que saem silenciosos rumo ao quarto de dormir.

[...]

-- Por que não me contou que eles estavam vindo para cá antes? -- minha voz é imperativa, angustiada e irritada mal vejo desaparecer a sombra de meu irmão e seu parceiro. Todos esses sentimentos se mesclam com a felicidade de os saber bem, de rever o meu sangue, de escutar a voz doce do meu pequeno irmão.

-- Helena, por favor!... Eu não tinha certeza sobre a vinda deles à esta casa. Esses dois são cachorros de mar. São ariscos, misteriosos e aventureiros. -- ele diz ao me puxar para um abraço, elançando seus braços firmes em minha cintura e aproximando calorosamente nossos corpos. -- Você não gostou da surpresa? Então não receberei nenhum presente em agradecimento?! -- seus lábios formam um sorriso esperto por saber que nunca poderei negar tal afirmativa.

-- Maldito, Viking! -- digo antes de ser surpreendida por um beijo.

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