|Cap. 42|

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Ah...
Eu sei que prometi a você.
Eu também prometi a mim!
Mas é tudo tão difícil...
Ninguém consegue escrever coisas boas quando está tristes, nem coisas tristes quando nos sentimos apenas vazios.

É... Escrever é mesmo um ato de coragem. Coragem para si e para o outro. É força arrebatadora contra o mundo.

Jane B.

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O relógio deve soar suas malditas badaladas discretas nas salas e escritórios que se dispõem pela casa. Não escuto nada, mas meu coração marca as compassadas rítmicas da agonia, da curiosidade e do cansaço. Tantas perguntas, tantos medos tomam minha mente agora que me disponho com Mirha e Mullan no quarto que tão feliz acordei algumas horas antes. Meus olhos se perdem no silêncio das palavras que os lábios de nenhuma das três mulheres ocupa. Estamos exaustas e abandonadas na desinformação que um quarto sempre traz ao coração de jovens mulheres que esperam. Esperamos. Sofremos por respostas, sofremos para ter coragem de formular devidas respostas para perguntas que pairam desajustadas e asfixiantes sobre o ambiente.

-- Não podemos mais seguir assim. -- inicio, busco coragem do amago de meu ser.

-- Assim como, Helena? -- Mullan pergunta, um desfio velado sobre um corpo curvado no canto direito da cama, enquanto Mirha parece se fechar em seu próprio ser, suas próprias dúvidas.

-- Silenciadas. -- respondo. -- O que aconteceu de fato naquele momento, quem é este homem e o que ele veio fazer aqui? -- prossigo.

-- Aconteceu o que foi pronunciado por Guez, mas sinto que os minutos pareceram infinidades em todo aquele horror. Estou cansada, Helena. Senti minha vida por um fio, senti que o meu sangue sobre a terra não valeria mais que alguns punhados de ouro para aquele maldito morto. -- Mullan responde, sua voz como adaga poderosa e afiada, seus olhos brilhantes com as lágrimas que se apertam por não cair e seu corpo que treme ligeiramente ao recordar.

-- Então Guez o matou? -- acrescento curiosa, assustada com a realidade da notícia.

-- Guez nunca erraria algo assim, não quando é a vida de outro em suas mãos. -- a voz de Mirha soa ao fundo, seu corpo em pé próximo a janela parece refletir seu estado de espírito desamparado. Sua voz é calma, espaçada e fria. Distante. -- Já sobre as outras perguntas, temo que ficaremos sem respostas até que meu irmão possa vir nos dizer algo. Estamos assustados nesse buraco escuro, mas devemos sair daqui em algum momento. Escolhi viver aquele dia, e essas não foram palavras vazias. Não deixarei que Guez passe por isso sozinho, que banhe de sangue suas mãos em nome da nossa salvação e que se veja abandonado no final de tudo. Helena, eu compartilho com aquele garoto a maior dor do mundo, uma alma dilacerada e o trilhar de um caminho sem volta.

-- O que quer dizer com isso, Mirha?!... -- pergunto ao me aproximar alguns passos. O peso de sua voz, seus olhos perdidos para o lado de fora e o segredo velado que parcialmente nos revela molda ambiente. Sinto preocupação, receio e um desejo de agarrar aos ombros daquelas duas jovens tão amaldiçoadas pelo mundo, tão desafortunadas. -- O que quer dizer com tud...

-- Senhoritas! -- A voz de Alia chama do outro lado da porta ao interromper meus intentos sobre o que Mirha disse segundos antes.

-- Entre, Alia! -- digo ao ver por encerrada qualquer tentativa de extorquir da boca de qualquer uma das duas jovens alguma outra informação. -- O que deseja? -- acrescento ao ver a jovem empregada entrar no amplo aposento.

-- Senhorita Helena, o senhor Bjornan a mandou buscar. -- ela acrescenta tímida, todos ainda deslocados com as cenas anteriormente assistidas.

-- Sim, já irei. -- digo ao avançar para a porta. -- Mirha e Mullan, espero que possamos ter outras conversas futuras. Descasem por alguns momentos até o meu retorno. -- acrescento pouco antes de deixar o quarto acompanhada da jovem Alia. Meu coração dispara enquanto caminho longas passadas até o destino que me chama. A noite será interessante, provarei novamente do doce sabor de um baile, mas terei em minhas costas a responsabilidade de angariar ajuda contra demônios de um novo e sombrio mundo que se abre ante meus olhos. Espero estar preparada para o dia do juízo final, como pensa Mirha. Mas não quero estar lá por Guez, mas sim por meu pobre irmão que, na certeza que rompe minha alma, dará sua vida para que seu jovem companheiro não pereça sozinho. Irei estar lá para segurar as mãos de meu irmão, para puxar seu corpo longe da vida que parece já ter se apagado no espírito de Guez. Meu amado André, você sobreviverá!

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