Desço apressada as escadas que me levam ao salão principal. Minha animação parece contagiar aos empregados da casa que se adiantam em me ajudar nos preparativos para um excelente café da manhã no jardim, a mais pura lembrança dos momentos felizes do tempo de criança dos dois irmãos donos desta casa.
-- Espero que aprecie comer debaixo de uma árvore, Mirha! -- digo com um sorriso caloroso para a menina ainda tímida que se encontra sentada numa das confortáveis poltronas da grande sala.
-- Esses momentos doces fizeram parte de um passado feliz, Helena, e espero poder aceitá-lo novamente. --ela apenas diz, seu semblante se obscurecendo com as lembranças que forçam sua memória e escravizam sua boa vontade.
-- Já é um maravilhoso começo!
-- Vejo que já estão se arrumando para aproveitarem o dia de hoje, senhoritas. -- escuto a voz de Bjornan ao entrar na ampla sala. Seu corpo alto e firme, sua voz animada e seu radiante sorriso que consegue tão facilmente refletir a felicidade estampada em seus olhos e guardada em seu coração, nos brinda com uma calorosa presença.
-- Estamos tentando, senhor! -- acrescento divertida e contagiada pela boa manhã que o mundo tão belamente proporciona. -- Estamos esperando ao jovem Gaspar e sua companheira de quarto.
-- Ainda não acordaram? -- ele pergunta curioso.
-- Já levantaram faz muito, mas nossa convidada ainda segue relutando ao bom convívio com esta casa. -- acrescento.
-- Por favor, Helena, não diga isso sobre Mullan. Bem sei como é se sentir prisioneira, mesmo tento todo o mundo aos seus pés ofertados pelos mais doces braços. -- a voz de Mirha chega suave, seus olhos encaram seu irmão na doce cumplicidade que só a dor do passado pode oferecer.
-- Não digo por mal, Mirha! Não tenho ideia do que passou com você ou do que se passa na mente daquela jovem mulher, mas gostaria de proporcionar bons momentos, mesmo que tão poucos e em tão contados dias antes de sua partida. Sei que soa absurdo eu querer que ela aproveite seu tempo de liberdade antes de se afogar nos perigos que a esperam em nome da salvação de tantas vidas.
-- Senhoritas, por favor, não vamos começar com conversas tão tristes. O dia tem um lindo e agradável sol, os ventos estão favoráveis para aproveitarem o belo jardim desta casa e as deliciosas guloseimas da cozinha. Pensem só em se divertirem, esqueçam dos problemas do mundo por alguns instantes, me provoquem de inveja ao ter que me prender num maldito escritório enquanto escuto suas gargalhadas e conversas. -- Bjornan finaliza numa cara fechada de falso desolamento.
-- E porque não aproveita o dia conosco, senhor? Deixe para depois ou para outro as papeladas do dia. -- digo num real convite.
-- Eu bem poderia aproveitar do dia com a companhia de vocês, Helena, mas seu amado irmão André, como sempre, consegue superar as melhores promessas feitas para o belo dia.
-- O que acontece?
-- Este maldito saiu para resolver alguns problemas, logo agora quando tantos estão sobre a minha cabeça.
-- Que problemas? -- pergunto curiosa e assustada, um mix de profundas e silenciosas emoções que toma meu ventre e meu peito, mas que não são revelados no impassível de minhas feições.
-- Tudo! -- ele apenas diz, sua voz demonstrando o voluntário desejo de se retirar ao ter falado mais do que pretendia. -- Agora, por favor, peça para que alguém apresse aquele magricela e sua bela companheira de quarto antes que o dia acabe. Se precisarem de algo mais, estarei em meu escritório. -- diz ao sair rápido e furtivo da sala.
![](https://img.wattpad.com/cover/137095984-288-k887244.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo Viking
RomanceAlguém sabe quando o amor surge? Alguém sabe quando deixamos de temer perder a liberdade para ficar ao lado do outro? O amor seria mesmo essa faca de dois gumes, que de um lado te dá alegrias nunca antes vividas e do outro te toma alegrias nunca mai...