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Pietro:

Encarei minha irmã na mesa ao lado assim que a mulher saiu da sala, e seu olhar pareceu perdido. Sorri desta vez, não em provocação ou ladinamente, sorri em chateação por algo idiota cometido.

-Pietro: Esse seu Diabo interior buscando por liberdade, vai acabar aprisionando você. - mencionei baixinho, chamando sua atenção.

-Ohana: Cala a merda da sua boca. - sussurrou em ignorância, levando-me a sorrir.

Levantou-se e sentou-se ao meu lado, deixando a marquesa completamente confusa. Busquei sua mão, entrelaçando-a com a minha e senti seu corpo relaxar quando encostou-se ao meu. E então, eu a abracei de lado enquanto ainda assistíamos aula teórica.

Entretanto, não importava o que fizesse. Eu sempre estaria lá, sempre estaria ao seu lado.

-Pietro: Se cair... cairemos juntos. - relembrei nossa promessa, antes de deixar um beijo em sua cabeça.

(...)

Ohana:

Ao sair da sala, caminhei diretamente para a saída do campus, mas antes que fizesse isso completamente... a figura feminina e imponderada passou pelo corredor caminhando cheia de confiança e autoritarismo. Em seu rosto, óculos escuros cobriam sua expressão, já suas mãos, escondiam-se no bolso do sobretudo.
Meu olhar chamou por sua presença, e em passos mais lentos aproximou-se de mim. Sem toca-la, aproximar-me demais, apenas a encarei por alguns segundos. Até que os alunos afastassem-se, já que estávamos na saída e continuamente eles saiam, e então após alguns minutos o ambiente aparentou mais calmo e discreto.

Seus óculos escuros foram retirados e logo pude ver a face delicada por inteiro. Os olhos castanhos já não pareciam tão instigados e contentes como costumavam ser, quando nos víamos. Não sorria, nem mesmo carregava uma expressão duvidável. Estava enciumada e eu podia ver.

-Ohana: Preciso.. - mal comecei, e fui interrompida.

-Larissa: É de um terapeuta que você precisa. - revelou de forma rápida, sútil.

-Ohana: Uou... - sorri fraco com seu estresse, entretanto sua expressão não mudou. - Está irritada?

-Larissa: Com quem pensa que está falando? - aquilo soou gélido, sem afeto algum. Fazendo-me recuar o riso fraco.

Seus olhos tornaram-se escuros, e sua postura manteve-se severa. Enquanto eu a olhava de cima a baixo, sua seriedade não tornava-se menos notável.

-Larissa: Meu corpo não é um objeto ou sobremesa disponível pra você, quando quer. - revelou calma, entretanto, chateada. - Eu não sou sua vadia.

Dei um passo à frente, ficando um pouco mais próxima. Eu podia sentir sua tensão, ao mesmo tempo em que sua fúria almejava gritar comigo.

-Larissa: Não me trate como uma garota obcecada por você. - revelou com frieza, e completo desprezo no tom de voz. - Porque eu não sou.

Seu olhar petulante, tornou-se divertido, porém furioso e ainda mais enciumado quando a marquesa aproximou-se estendendo a mão e com a voz doce, chamando-me para ir com ela. E de certo modo, aquilo me pareceu desrespeitoso. Melissa carregava um olhar pretensioso.

-Larissa: Você é inacreditável, Ohana. - mencionou em desprezo. Larissa apenas colocou o óculos escuro no rosto como outrora e caminhou, seguindo seu caminho.

Recusando qualquer proposta vinda da marquesa, caminhei em sua direção entrelaçando vagarosamente minha mão a sua. Quando notei que já estávamos em uma região menos movimentada.

-Larissa: Precisa tomar uma decisão antes de sair por aí segurando minha mão. - mencionou tentando nos desvencilhar de forma discreta, entretanto mantive nossas mãos entrelaçadas, a fazendo me olhar sutilmente.

-Ohana: Acabei de tomar uma decisão, não viu? - questionei a deixando silenciosa.

Caminhei com a mão segurando a sua, até que chegássemos ao seu carro e ela parasse, virando-se para mim.

-Larissa: Ela ou eu. - disse rapidamente, soltando minha mão.

Eu me mantive em silêncio por alguns minutos, e então respirei fundo. Eu precisava de uma decisão, porque sabia que ela era capaz de tomar uma se eu não fizesse.

-Larissa: Você me teve, me teve como ninguém jamais teria. Mas você está preferindo me deixar ir embora aos poucos. Você me teve todos esses dias, eu fui sua mesmo quando você era dividida a outra pessoa. Eu fui sua mesmo sabendo que não deveria. - disse paciente, olhando nos meus olhos, proferindo com toda sinceridade que existia em seu ser.

Busquei suas mãos como outrora após olhar em volta e ver que o estacionamento estava pouco visível, devido a quantidade de carros.

-Larissa: Eu fui humilhada, traída e trocada repetidas vezes. Sabe o que me manteve de pé em todos esses anos? - questionou-me. - Meu amor próprio. E dessa vez eu vou escolher a mim.

Segurei-a pela cintura, almejando não deixá-la ir enquanto meus pensamentos acelerados buscavam uma solução.

-Larissa: Ohana, por favor. - pediu em um sussurro falho, quando a encarei, desviando o olhar pra sua boca rósea.

-Ohana: Lari... - chamei frustrada, quando afastou-se direcionando-se a porta do motorista, me deixando pra trás.

E então respirei fundo quando a vi ligar o Rolls Royce, enquanto olhava-me pela janela com uma postura chateada. Quando me dei conta de que aquilo não seria fácil, destravei o Maserati ao meu lado, adentrando-o sequencialmente e dirigindo em direção a minha própria casa.

(...)

Durante a tarde, após tomar um banho demorado, me vi tentando estudar pra última prova, na manhã posterior. Mas estava difícil demais, a todo momento sua expressão chateada e enciumada vinha em minha mente... quando entrou na sala e encarou-me.

As batidas fracas na porta revelaram a presença de Pietro, e logo seu corpo masculino adentrou o quarto. Ainda sentada na cadeira, o observei de pé em minha frente, abrindo os braços para que eu o abraçasse e então assim o fiz. Descansei minha cabeça em seu peito, sentindo seu cheiro único. Suas mãos frias acariciavam meus cabelos enquanto sua boca tocava minha têmpora em beijos demorados.

Pietro:

-Ohana: Eu não posso... - sussurrei falha.

-Pietro: Claro que pode, meu amor. - sussurrei baixinho, sem olhar em seus olhos. - Se assim desejar.

-Ohana: Eu não posso permitir-me apaixonar por ela com toda essa escuridão. Eu não sou boa o suficiente. - disse baixo. - Pietro, eu só não... não posso.

Toquei seu rosto, e então a fiz olhar para mim. Os lumes castanhos pareciam aborrecidos e perdidos. Suas mãos delicadas seguravam minha cintura, e mesmo que por cima do moletom, eu podia sentir o carinho afável feito.

-Pietro: Então a deixe ir... - mencionei. - Essa confusão toda passará e em breve, estará inabalável como sempre.

Um sorriso surgiu em seus lábios, e logo soube, havia tomado uma decisão. E essa decisão não era favorável a empresária, a machucaria.

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