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Pietro:

Acordar depois de horas, foi como erguer-me na cama e levar um tapa na face sem dó alguma. Só então eu acho que havia tido consciência do que havia feito.

Levei as mãos aos meus cabelos macios e lisos, jogando-os para trás. Já não estavam molhados, como estavam quando deitei-me no acolchoado. A luminosidade do quarto já era parcialmente escura, mas as cortinas fracamente reluzentes mostravam-me que ainda era dia.

Levantei-me, pondo-me de pé. Pude sentir o carpete em meus pés descalços e olhar-me no espelho a frente. Encarei-me por alguns instantes e pude visualizar minha expressão cansada. Caminhei até o banheiro da suíte e então escovei os dentes outra vez, molhei o rosto e respirei fundo.

Ao sair do quarto, pude sentir meus pés tocarem o chão amadeirado e gelado. Caminhei em passos vagarosos e ao passar pelo quarto da minha irmã, percebi apenas uma pequena fresta na porta. Revelando que ela estava lá dentro. Bati levemente na porta e em palavras de tom regulado ela permitiu-me adentrar seu espaço.

Em silêncio ela permaneceu, estava notoriamente chateada. E bem, eu havia sido mesmo um babaca e era merecedor da sua indiferença.

-Pietro: Tem um plano pra manter isso tudo escondido dos nossos pais? - questionei ao sentar-me em sua cama.

Ohana estava de costas para mim, sentada na cadeira enquanto sua coluna curvada e olhar atencioso revelava-me sua concentração na enorme quantidade de livros a sua frente. Sua inteligência era admirável, tanto quanto seu foco estudantil.

-Ohana: Acha que eu não tenho um plano? - questionou óbvia, sem virar-se para mim.

-Pietro: E se esse plano falhar? - questionei.

-Ohana: Eu tenho um plano B. E se falhar... um plano C, um plano D... bem, você conhece o alfabeto. - disse dispersa, convicta.

O silêncio ensurdecedor tomou conta do lugar outra vez, eu podia sentir o misto de sensações em meu interior. Entre a dúvida de apoiá-la como sempre fiz, ou achar isso errado por mais que a Larissa que conheci fosse uma farsa.

-Ohana: A próxima vez... que erguer a voz pra mim, será a última vez que partilhará da minha presença. - ela disse tirando-me do transe.

Eu era sempre respeitoso com ela por mais que brigássemos raramente. Impor ordens a ela com a ideologia em minha cabeça, era algo nunca feito. Apesar de nos apoiarmos muito, mesmo que seja em situações erradas, ainda assim respeitávamos os espaços e decisões de ambos. Eu havia mesmo passado do limite.

-Pietro: Perdão, eu passei dos limites. - pedi em um tom manso, onde ela assentiu uma única vez em positividade.

"Eu sacrificaria mil reinos para que tivéssemos um final feliz, já você me sacrificaria para que todos eles fossem seus."

Essa era a parte do nosso livro favorito. E ele nos remetia bem agora. A concretização do meu silêncio era a resposta para Ohana. E ela a queria. Seus olhos profanos pediam-me a decisão, agora.

-Ohana: Se acha que o certo é contar aos nossos pais que estou me envolvendo com uma mulher de 24 anos, e que por ventura essa mulher é uma fugitiva. - ela disse paciente, ao olhar em meus olhos. - Apenas diga-me, se quer ganhar esse jogo...

A encarei por curtos segundos e levei minhas mãos firmes entrelaçando-as com as suas. Olhávamos um para o outro, eu estava em dúvida, e Ohana em espera.

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