Ohana:
Eu estava incrédula com toda aquela situação repentina. Onde estava sua maturidade? Desci do carro e antes de entrar, ela me alcançou. Com a mão ainda repousada sobre a maçaneta da porta, virei-me parcialmente para encara-la.
-Larissa: Pra mim foi só sexo e acabou por aqui. - deu sua posição como se não tivéssemos feito nada demais.
-Ohana: 'Tá de brincadeira comigo? - questionei desacreditada da normalidade que levava aquela situação.
-Larissa: Desespero não combina com você. - ela soou mansa após alguns segundos encarando-me. - Além do mais você é uma Lefundes, não esperou mesmo que eu confiasse em você, não é? - argumentou o verdadeiro motivo de todo aquele teatrinho, antes de passar por mim e adentrar a própria casa.
Eu só queria poder ligar para o Oliver e voltar pra casa, me afastar de tudo qual ela podia alcançar com facilidade. Mas nem se quer poderia fazer isso, meu motorista estava longe demais e convencer Pietro do contrário a ficar ali, só arruinaria tudo um pouco mais. Respirei fundo e engoli em seco antes de dar um passo à frente e adentrar o hall pela porta da garagem.
(...)
Peguei-me pensativa após sentar-me no enorme estofado da sala principal. Eu não havia visto-a outra vez e tão pouco queria. Eu estava chateada e frustrada com a expectativa que coloquei em mim, de talvez conseguir ser o suficiente para alguém além de mim mesma. Eu queria ao menos seu respeito e sinceridade, sem joguinhos de prazer e depois lidar com arrependimentos que nem se quer pertenciam à mim.
Eu tinha dado início a isso, e agora me sentia culpada pela enganação. Nunca deveria ter pensado em ser alguém melhor, este papel nunca coube a mim.
-Nicolas: Está com fome? - questionou o garoto sentado ao meu lado, e pelo olhar confuso de Mateo, Nic já havia feito aquela pergunta antes.
-Ohana: Hum? - resmunguei confusa, saindo do transe.
-Pietro: Ele perguntou se está com fome. Pela terceira vez. - soou aborrecido.
-Ohana: Ah... - aquilo saiu fraco, frustrado. - Não.
-Pietro: Está tudo bem? - meu gêmeo perguntou um pouco tenso, aproximando-se, e eu apenas assenti antes de praticamente afundar-me no estofado.
-Mateo: Ohana? - chamou delicado, baixinho. - Está tudo bem, mesmo?
-Ohana: Eu só... - tentei dizer algo, porém nada saia. Eu apenas afundava-me na agonia interna. - Eu estou bem, só estou cansada.
Com um sorriso falso, os convenci de que dizia a verdade. E após erguer-me, caminhei em passos vagarosos até a escada, tomando direção ao quarto de hóspedes.
"Eu não cederia a façanha de Ohana. Tão pouco confiaria nela como meu coração pedia. Eu conhecia a maldade de um Lefundes, e não me deixaria levar pela mais nova entre eles. Assim como seus pais, ela desejava poder, fama e glória. E faria de tudo para conseguir isso. Não importava quem tivesse de machucar. O medo de me viciar ao que tínhamos era maior que o desejo que me atraía pro seu corpo. Eu não podia arruinar e fracassar depois de tantos anos lutando por um lugar no mercado financeiro. Minha reputação não se alinharia a uma garota de 19 anos que mal entendia as responsabilidades de um adulto. Eu não desceria ao nível de descontrolar-me apenas por um toque quase irresistível, a voz mansa e persuasiva, tanto quanto o jeito delicado e manipulado de ser." - Pensava Larissa.
(...)
-Pietro: Ainda acordada? - Pietro perguntou por volta de uma hora depois, após direcionar-se ao quarto para dormir comigo.
-Ohana: Não consigo dormir. - o respondi baixinho.
-Pietro: Ohana, você não pode simplesmente engavetar seus sentimentos e passar a agir como se nada tivesse acontecido! - meu irmão soou manso, tentando ajudar-me de alguma forma. - Está vendo? Nem mesmo consegue dormir. O que aconteceu? - recusei-me a dizer.
Se Pietro soubesse o quanto eu tinha me esforçado nesses últimos meses para lutar contra minha própria mente... acabaria me poupando de inúmeras perguntas e argumentos.
-Pietro: Isso acontece sempre. - ele disse sentando-se na cama. - Você guarda tudo sozinha e depois que vem a tona, seu humor muda drasticamente. Isso acaba afetando as pessoas.
-Ohana: Está tudo bem, eu prometo. - respondi o tranquilizando. Fazendo tudo que ele dizia pra não fazer. - Só estou cansada, e minha cabeça dói. - menti.
Seus cabelos loiros caiam sobre seu rosto de maneira delicada, enquanto seus olhos castanhos pareciam-me um pouco mais intensos, preocupados. Sua postura nada desleixada, agora um pouco mais séria e firme. Estava sem camisa, como de costume... pude observar as tatuagens minúsculas espalhadas por pontos específicos do seu corpo definido. Ergui-me, sentando na cama e toquei delicadamente sobre uma em sua costela, quando ele apoiou o peso do corpo sobre os cotovelos, observando a visão lá fora através da sacada aberta. Era meu nome.
-Pietro: Sabe que pode sempre contar comigo, não sabe? - ele perguntou baixinho, manso.
-Ohana: Eu sei. - respondi em um sussurro falho, assim que sua mão grande e firme buscou a minha, entrelaçando-a com a sua. Após sentar-se outra vez.
-Pietro: Eu sei que há algo de bom nesse coraçãozinho egocêntrico e maldoso. - ele disse paciente, com um sorrisinho orgulhoso. - E mesmo que esqueçam-se disso, saiba que eu nunca esquecerei.
Pietro sempre foi meu único e leal protetor. Sempre esteve lá quando eu precisei. E sempre soube meus problemas, sem nem mesmo precisar que eu abrisse a boca para dizê-los. Ele reconhecia quando eu estava magoada, e tentava dar um jeito nisso, recordando-me de que eu era sua prioridade. E mesmo que eu fosse uma pessoa ruim, talvez péssima... Pietro sempre expressava o quanto eu era importante e incrível pra ele. Isso me mantinha viva.
-Pietro: Cadê a garota mimada e irredutível que eu conheço? - questionou assim que arrastei-me sentando mais perto dele.
-Ohana: Acho que ela cansou-se essa noite. - respondi em terceira pessoa. - O ego não foi tão grande a ponto de protegê-la. - respondi em um suspiro frustrado.
O braço de Pietro envolveu meu pescoço, puxando-me para ele e me abraçando de lado. Senti um beijo demorado no topo da minha cabeça, enquanto podia embriagar-me com o perfume masculino e importado. Eu jamais esqueceria daquele cheiro, de marca Dinamarquesa.
-Ohana: Eu só queria voltar pra casa... - sussurrei enquanto tinha a cabeça deitada em seu peito. Eu podia sentir o calor da sua pele, e proteção em seu abraço.
-Pietro: Não podemos, meu bem. - sussurrou carinhoso. - Não agora.
(...)
A madrugada tinha estado mais fria do que de costume. Eu tentei fechar os olhos e não pensar em nada, mas isso era impossível. Eu os abria vagarosamente, e ao virar-me para um lado via apenas o completo vazio. Ao inclinar-me para o outro, a saudade de casa e a insegurança.
Os três estavam disputando para ver quem me matava primeiro.
Poderia ter sido pouco pra ela. Mas pra mim tinha doído tanto... Eu era sim uma péssima pessoa, aquela personalidade me protegia na maior parte do tempo e eu era grata a ela. Entretanto eu vinha abrindo mão dela perto da empresária... mas não demorou tanto para que baixasse a guarda e Larissa apunhalasse-me diretamente.
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Impensado
FanfictionIvana Lefundes e Sidney, haviam tido gêmeos... e bem, eles haviam crescido com educação invejável, e padrões comportamentais ensinados. Mas será que fariam jus ao nome da família tão renomada e honrada? E quanto a Larissa? Quando apareceria no cami...