Narrador:
O garoto que antes portava-se de joelhos enquanto chorava ansiosamente, agora era erguido de pé, por Kalil e Oliver. Seus olhos fecharam-se imediatamente, em meio as lágrimas já não controladas. Abriu a boca tentando buscar ar, e quando conseguiu... sentiu todo seu interior antes inabalável, tremer por inteiro.
Pietro encontrava-se em seu momento mais insano de ódio. Segurado pelos motoristas da família.
Seus cabelos longos e castanhos, pareciam maiores por ter a cabeça inclinada aos céus, da varanda, enquanto tentava aos poucos observar as nuvens tão brancas quanto neve.
-Oliver: Continua respirando, comigo... - a voz parecia soar em balbúrdia, com sua mente tão agitada.
Sua visão turva o impedia de ser responsável, estava profano naquele momento. Sua boca amargava, seu corpo arrepiava-se por inteiro... e as lágrimas pareciam imparáveis. Mesmo que ele permanecesse em silêncio absoluto.
As mãos sujas de Kalil, com o sangue do gêmeo, tocavam as costas definidas e desnudas. As marcas vermelhas espalhavam-se pela pele esbranquiçada enquanto mantinham-o de pé.
Não tão distante dali, Ohana mantinha-se escondida no canto escuro do próprio quarto, abraçando-se enquanto sentadinha no chão permanecia. Tudo ouvido ali, eram seus sussurros em meio ao choro doloroso ecoado, que partiam o coração da mãe, do outro lado da porta... que implorava para ajudá-la.
Acontece que Sidney sempre esteve lá por eles, aparecendo quando a raiva os dominava, os guiando para um caminho melhor. Por anos, Sidney os fez precisar dele. Sidney era o maior aliado dos filhos. Ele foi o único, que pode os dar a chance de merecer amor, mesmo com todo egocentrismo e bloqueio emocional. Ele foi o melhor amigo que um dia, os gêmeos puderam ter.
Mas aquele melhor amigo parecia ter morrido dentro de toda aquela petulância e irresponsabilidade. E o gosto da perda levava ambos os gêmeos a perderem o ar, o chão e a razão.
(...)
Pietro:
Kalil e Oliver levaram-me ao de chuveiro de água gelada na área de lazer, próximo à piscina. Eu podia sentir a água escorrer pelo meu corpo desnudo da cintura pra cima, levando-me a pensar tanto nas gotas frias e rápidas, a ponto de focar-me aos poucos.
-Kalil: Está conseguindo... - sorriu gentil, enquanto meu coração ainda acelerado parecia quase explodir.
Levei uma das mãos aos meus cabelos já molhados, os jogando para trás e respirando fundo, como se pudesse sair daquela situação em um estalar de dedos. Pude tatear todo meu tronco, sentindo as definições corporais, e a pele completamente molhada. Toquei a calça jeans encharcada e senti meus pés ensopados dentro do Dolce & Gabbana.
(...)
Não comi naquele dia, nada descia. A ânsia de vômito era tremenda e a repulsa por qualquer contato social igualava-se. Joguei-me no sofá enquanto vestido num largo moletom e calças também confortáveis, permaneci. Eu praticamente escondia meu rosto com o capuz, almejando que nenhum olhar de pena caísse sobre mim, ainda assim era impossível.
Eu costumava ser o garoto confiante e protetor para Ohana, mas agora só precisava me sentir confortável e protegido.
-Ivana: Fechem a casa. - ouvi a voz materna ordenar a Kalil, que já vestia roupas secas e sociais.
-Pietro: Não... ainda não. - soei em um sussurro, e ambos ouviram-me.
Já se passavam das 19:00, papai não tinha voltado e mamãe tão pouco parecia se importar com isso. Ohana havia se trancado no quarto desde a discursão, e nem se quer havia saído. Aquilo também me preocupava, mas talvez ainda estivesse abalado demais para tentar cuidar dela.
-Ivana: Vamos, vou te levar pra cama... - chamou carinhosa, tocando minhas costas e abraçando-me da maneira que podia.
Antes disso, peguei meu celular sobre a mesinha de centro, abri a conversa com Larissa e então entreguei o aparelho a minha mãe. Ela saberia o que fazer.
-Pietro: Primeiro cuidamos da Ohana... - sussurrei rouco, referindo-me a sempre dar prioridade a ela. - Depois você pode fechar a casa.
Ela sempre seria minha garotinha.
-Ivana: Sua irmã não quer ver ninguém. - disse entristecida.
-Pietro: Eu garanto que ela vai querer vê-la...
Abracei a mim mesmo enquanto mamãe digitava com precisão, e então ao finalizar, ficamos no sofá juntos. Abraçados, esperando pela morena que disse não demorar muito.
(...)
Os saltos altos tocaram o porcelanato, e do outro lado da sala pude ver sua expressão preocupada. Ela vestia uma calça bem justa, uma blusa social que demarcava bem suas curvas e tinha os cabelos ondulados soltos.
-Larissa: Posso? - questionou baixinho ao apontar pra escada, e não demorou nem segundos para que eu e mamãe concordássemos.
-Ivana: Ei... - minha mãe chamou, enquanto a seguíamos. - Pode ficar essa noite, se quiser. - sorriu fraco ainda tristonha e a morena sorriu gentil, tímida.
Larissa:
Eu tinha a senha eletrônica do seu quarto, ela havia dado-me a um tempo. Não demorou muito para que eu digitasse no pequeno aparelho tecnológico ao lado da porta, e a tranca destravasse. Adentrei o ambiente frio devido o ar condicionado e parcialmente escuro, devido a fraca iluminação vinda do abajur. E então, notei que ela estava escondida debaixo do edredom preto, de linho. Retirei meus saltos e os coloquei ao lado da cama, prendi meus cabelos em um coque rápido, e então me enfiei no edredom. Aconcheguei-me a abraçando por trás e dando a ela todo meu afeto.
Beijei sua cabeça e a envolvi melhor, enquanto ela chorava silenciosa, com os olhos fechados. Afastei alguns fios dos seus cabelos loiros, e isso foi o suficiente para que ela virasse-se para mim, escondendo rapidamente o rosto em meu pescoço, abraçando-me.
Eu parecia ser sua salvação naquele momento...
-Ohana: Não vai embora hoje... - pediu chorosa, enquanto eu já não podia ver sua face.
-Larissa: Ei... - chamei em um sussurro falho, quando entrelacei nossas mãos e as descansei em meu peito. - Não vou sair daqui!
Abraçadas permanecemos ali por um longo e demorado tempo. Eu a demonstrava em cada toque, meu total apoio, enquanto ela chorava ainda baixinho. Estava de fato abalada e eu reconhecia bem esse sentimento de impotência e inutilidade. Foi desrespeitoso o ocorrido.
-Larissa: Por que não me ligou antes? Eu vinha. E se não quisesse ficar aqui, eu levava você comigo. - mencionei acariciando seus cabelos.
-Ohana: Você estava trabalhando. - respondeu baixinho, rouca e arrastado. Sem ainda me deixar ver seu rosto. - Eu não queria atrapalhar.
-Larissa: Não importa. Quando algo acontecer e precisar de mim, apenas ligue. - sussurrei em seu ouvido. - Não importa o que eu esteja fazendo ou onde esteja, eu vou até você.

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Impensado
FanfictionIvana Lefundes e Sidney, haviam tido gêmeos... e bem, eles haviam crescido com educação invejável, e padrões comportamentais ensinados. Mas será que fariam jus ao nome da família tão renomada e honrada? E quanto a Larissa? Quando apareceria no cami...