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Larissa:

Eu ainda olhava em seus olhos, e neles não se via remorço. Fui tirada dos devaneios quando Ohana o empurrou de leve pelo ombro, mandando-o ir embora.

-Tiago: Eu vou matar você. - ele disse em um ira, apontando o dedo pra mim.

Virou-se de costas para afastar-se de nós. Mas o extinto protetor de Ohana não o deixou fazer.  A garota vestida em uma blusa larga e branca, que se via longa devido o short legging em tonalidade preta curto vestido. Deu passos rápidos em direção a ele, o puxando pelo punho o obrigando a olhá-la.

-Ohana: Eu não tenho medo de você. - soou sincera, e ele a olhou impaciente. - Não me importa o que seja.

-Tiago: Aé? - questionou patético, sério. Dando passos vagarosos para enfrentá-la, entretanto Ohana não moveu-se um milímetro.

-Ohana: É. - confrontou, enquanto assentia milimetricamente, tendo um sorriso superior nos lábios. - E não vai tocar um dedo nela. Porque eu posso acabar com a sua vida patética em minutos.

-Tiago: Você não tem peito... - ele sorriu esnobe.

-Ohana: Quer apostar? - soou convicta.

Ohana o empurrou, enquanto ainda sorria. Era tão corajosa.

-Ohana: Você não é nada. - sorriu perversa. - Sugiro que nunca mais, diga o nome dela.

Caminhei puxando-a, para que o deixasse ir. Enquanto ele a encarava sério, entretanto parecia compreendê-la o suficiente, para assentir milimetricamente e caminhar em direção ao interno. Em direção a aparente nova família.

Ohana entrelaçou a mão a minha, enquanto ainda o perseguia com o olhar. As minhas estavam gélidas, as dela em temperatura comum. Não aparentava nervosismo, medo ou temor.

Era dona daquele egocentrismo porque sabia que tinha poder para tê-lo.

-Ohana: Está tudo bem? - questionou levando a mão livre ao meu rosto, enquanto eu permanecia estática no mesmo lugar.

-Larissa: Está. - sussurrei em um fio de voz.

-Ohana: Me da a chave do carro. - pediu baixinho, e eu a entreguei as chaves da Mercedes qual estávamos temporariamente.

Caminhamos juntas pela trilha por mais uns cinco minutos, e durante todo esse tempo ela não ousou soltar minha mão. Eu sentia-me segura, mesmo que desnorteada pela nostalgia negativa. Ohana destravou o veículo ainda distante, e esperou que eu adentrasse-o primeiro. A observei olhar em volta, a observei cercar as árvores com seu olhar atencioso e obstinado, antes de abrir a porta do carro entrar nele. A primeira coisa que fez após isso, foi travar as portas e ligar o veículo.

Sua mão ágil foi até o GPS, e a vi marcar uma localização distinta ao hotel qual nós hospedávamos. Era algo em turco, eu não conseguia ler, ou entender.

-Ohana: Quer conversar sobre o que aconteceu? - questionou repousando a mão em minha coxa, enquanto arrancava com o carro, em extrema facilidade.

Pude observar o velocímetro subir em questão de segundos, enquanto ela confortava-se melhor, e mantinha habilidade em fazer a enorme curva no alto do morro onde era o ponto de encontro para aquela maldita trilha.

-Larissa: Quero... mas não agora. - respondi paciente e ela assentiu milimetricamente.

Levei uma das mãos até sua coxa, enquanto ela tinha as duas no volante, mantendo a velocidade alta, em meio a curva perigosa. Eu engolia em seco, a vendo fazer aquilo com tanta facilidade. Entretanto, o medo percorria meu interior.

-Larissa: Pode ir um pouco mais devagar? - questionou paciente.

-Ohana: Não. - respondeu olhando no retrovisor, e logo pude ver os faróis de uma outra Mercedes chegar mais perto. - Coloca o cinto de segurança.

-Larissa: Amor. - chamei nervosa.

-Ohana: Agora Larissa.

Pude sentir meu corpo gelar quando os pneus começaram a derrapar sobre a estrada, em meio a curva. Onde nos encontramos no alto do morro, descendo consecutivamente naquela curva sem fim.

-Ohana: Preciso que ligue para o meu pai. - disse enquanto dirigia em velocidade, vez ou outra levando a atenção ao retrovisor. - E que coloque no viva-voz.

Seus olhos castanhos me buscaram protetores.

-Ohana: Eu darei um jeito nele. - sorriu ladina.

(...)

-Sidney: O que quer Ohana? - questionou entediado.

-Ohana: Que resolva os problemas de Larissa com Tiago Magalhães.

-Sidney: Não vou fazer isso. Eu disse a você que era traria problemas. - soou em um ressalto.

-Ohana: Você vai sim. - disse convicta, levando a atenção ao retrovisor outra vez, aumentando um pouco mais a velocidade do carro. - E vai ser agora.

-Sidney: Eu disse que deixaria você aprender com as consequências.

-Ohana: Acontece... que eu não sofro consequências, Papai. - disse em paciência, já parecia ter tudo arquitetado em mente. - Tenho um pen drive, com todas as ilegalidades cometidas por você em profissão.

-Sidney: Como?

-Ohana: É... - sorriu fraco. - Tenho comprovantes das proprinas aceitas. Tenho comprovações de que pagou juízes para autorizarem liberdades não merecidas. Quer ouvir mais?

-Sidney: Como pôde? Eu sou seu pai!

-Ohana: ELA É MINHA MULHER! - praticamente gritou, em completa impaciência. Aumentando ainda mais a velocidade. - Você tem poucos minutos, ou vou perder a vida e destruir a sua antes que isso aconteça.

-Sidney: Espera! Está em perigo Ohana? - ele pareceu ficar mais nervoso. Pela filha.

-Ohana: Tic tac... papai... - disse antes de levar o dedo para encerrar a chamada.

Ohana olhou o GPS, por alguns segundos, mantendo a velocidade. Avistou um beco a esquerda, e pude vê-la derrapar os pneus com tudo antes de adentra-lo sem ao menos saber se teria saída.

-Larissa: Onde aprendeu a dirigir assim? - questionei surpresa, ao mesmo tempo confusa.

-Ohana: Eu tive meus lados rebeldes. - respondeu atenta por onde dirigia com velocidade.

Adentramos uma via principal segundos depois, enquanto ela desviava dos carros eu olhava o retrovisor. Estavam mais longe, entretanto, ainda nos perseguiam. Tiago não era tão fácil de lidar assim, e eu sabia bem disso.

-Larissa: Não vai fazer isso? Vai? - questionei nervosa quando vi a distância o semáforo fechar e Ohana olhar para ele com obstinação.

-Ohana: É... eu vou. - disse em um sussurro.

Engoli em seco, quando a vi pisar fundo no acelerador e o velocímetro subir como louco. Fechei os olhos quando a vi passar entre os carros, mesmo tendo o sinal fechado. Inúmeras buzinas foram ouvidas, entretanto aquele ato maluco nos deu tempo suficiente para que ela adentrasse outros becos, levando-nos a vias quase mórbidas.

-Ohana: Não sei onde estamos. - sorriu idiota, entretanto confiante. - Mas acho que conseguimos. 

Sua mão pressionou minha coxa de leve quando adentramos uma estrada de terra, em meio a poucas casas em área rural.

-Larissa: Você é maluca. - soltei em um fio de voz.

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