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Ohana:

-Ohana: Larissa de Macedo Machado. - citei seu nome por inteiro, em um sussurro. Ao mesmo tempo que olhava-a nos olhos. Sequencialmente presenciando um sorriso qual não era tão notável. - É um belo nome, Anitta.

Seu verdadeiro nome ecoou bem no meu tom de voz, levando-me assistir a morena morder o canto dos lábios em meio a um sorriso ladino.

-Larissa: Foi bem afundo, sobre mim. - revelou em um tom baixinho, enquanto eu ainda acariciava seu rosto. - Como?

-Ohana: Minha mãe. - revelei. - Não foi tão fácil como imagina. - contei.

Um relacionamento abusivo em sua juventude a levou a ruína. Por isso, eu compreendia toda sua insegurança em relação a mim. O egocentrismo de Thiago Magalhães, a levou aos dias inesquecíveis e mais dolorosos de toda sua vida. Anitta era seu passado, Larissa a mudança para construir uma vida nova.

-Ohana: É tudo verdade? - questionei e ela assentiu meio sem graça.

-Larissa: É tudo verdade. - afirmou outra vez, mas desta, em voz alta. Desviando o olhar, me levando a segurar sua mão como outrora. 

Esse era seu caminho agora, fingindo que não havia vivido toda aquela história. Humilhada, presa a uma obsessão de afeto inexistente, persuasão, perseguição. Sua única solução foi sua própria morte, criar uma farsa. Tornar sua vida uma completa bagunça desde então. Tudo pra ir embora da Itália, aos 20 anos de idade.

-Ohana: Eles sabem? Porque se sabem, fingem muito bem. - questionei baixinho, atraindo sua atenção outra vez. Referindo-me aos gêmeos, e ela respondeu assentindo positivamente.

-Larissa: Os carreguei comigo sem pensar duas vezes. - ela explicou-me. - Thiago poderia ser um bom pai em meio social, mas em casa os via como fardos. Eu não podia deixar os dois sozinhos, ali... com ele e todo aquele poder material.

A vi respirar fundo, enquanto olhava nos meus olhos e contava-me detalhadamente partes da história, que eu nem imaginava.

-Larissa: Por isso a proteção e o ciúme exacerbado por mim. Eu nos salvei quando ninguém mais podia. - ela explicou-me o afeto dos dois em relação a ela. - Thiago sempre esteve neles biologicamente, mas eles sempre foram meus... mesmo que não possuamos laços sanguíneos.

-Ohana: Como foi parar na Itália em meio a toda essa confusão? - questionei enquanto ela brincava com os anéis em meus dedos.

-Larissa: Conheci Thiago em uma festa no Brasil, enquanto comemorava meu aniversário de 18 anos. - respondeu deixando esboçar um sorriso patético. - Acreditei nas suas palavras eloquentes, e me deixei levar pelas suas histórias fictícias. Eu era só uma idiota, órfã que morava na casa dos tios, e boba procurando um rumo na vida. E bem, achei um terrível. - ela sorriu de si mesma.

-Ohana: Mas como minha mãe sabe disso? - questionei depois de alguns minutos em silêncio, enquanto ela ainda brincava com as joias em meus dedos e eu a olhava paciente. - Ela falou-me vagamente sobre a tal "Larissa Machado" antes de virmos pra cá. Por isso cheguei a conclusão de que ela poderia confirmar-me se estava mentindo. Entretanto nada faz sentido...

-Larissa: Trocamos os documentos, tanto meus como dos gêmeos. Mudei minha aparência, forçando-me a viver "escondida" por longos meses até conseguir uma estabilidade financeira para manter-me e manter os adolescentes. Fiz investimento em ações do grupo SBF, com o pouco dinheiro que tinha. Esperando que desse certo. Seu pai quem facilitou-me a documentação, de forma ilegal, arriscando a própria carreira para tornar-los legítimos sem levar-nos a justiça para receber autorização.

-Ohana: Mas por que não confia... - nem me deixou terminar, e então respondeu.

-Larissa: Meses depois, seu pai disse que se eu não sumisse ele mesmo diria a Thiago onde eu estava. - respondeu-me séria. - E assim fez. E foi aí que começou nossas viagens por toda a América Latina, mesmo que Thiago não soubesse nossos novos nomes ou aparência devido às mudanças, sabia que estávamos em território brasileiro e Latino.

Era algo longo, confuso, mas não duvidoso. Ela dizia tudo aquilo com convicção e seriedade, sinceridade. Além do mais, as peças iam se encaixando vagarosamente aos questionamentos que eu tinha em mente sobre sua vida.

(...)

Perdemos-nos em silêncio ainda no carro, enquanto mantínhamos o ar condicionado ligado. Larissa ainda segurava minha mão, dedilhando os anéis cheios de diamantes cravados. E enquanto isso, eu a observava atenciosamente. Não havia chorado atoa, ou por impulso. Seu passado ainda a assombrava, e eu não tinha o mínimo direito de querer que ela jogasse meus joguinhos sem finalidade. Eu não podia levá-la a afundar outra vez, apenas pra satisfazer meus desejos.

-Larissa: Quer voltar pra faculdade? - questionou baixinho, erguendo o rosto para olhar-me. Tirando-me do transe.

Neguei rapidamente. Eu já havia perdido alguns horários, e teríamos poucos momentos como aquele. Eu ainda tinha tantas perguntas, mas não as faria. Ela estava mais estável, eu não queria vê-la mal outra vez. Entretanto, se eu não a teria casualmente... nem mesmo amorosamente, por não sentir nada. Por que não conseguia desvencilhar-me e dizer a ela minha decisão?

Não havia sido só sexo. Muito menos amor, afinal... de que serve o amor? Absolutamente nada.

Já havia um longo tempo que estávamos ali, em frente ao restaurante italiano. E não nos incomodava o fato do local ser movimentado, afinal os vidros do carro eram fumê. Larissa agora dava atenção ao celular, mexia em alguma rede social e tinha a cabeça apoiada no apoio de braço qual separava o banco do motorista, do passageiro. Peguei-me levando uma das mãos até os fios castanhos, movimentando-os vagarosamente para longe do seu rosto. Acariciando sua cabeça.

(...)

Larissa havia me levado pra casa pouco tempo antes de Pietro chegar da faculdade, acabando com o medo de que ele nos visse juntas. Era meu irmão, mas não sabia de nada, e tão pouco seria receptivo em me ver com ela, sozinha. Não havíamos nos beijado ou trocado afeto maior que aqueles momentos calmos.

-Pietro: Como você consegue estar mal, depois bem em um momento, e desaparecer em outro? - questionou assim que encontrou-me na cozinha, sem ao menos cumprimentar-me.

-Ohana: Apenas estou usufruindo do emocional abalado que ganhamos ao longo dos anos. - o respondi, sem muita importância.

-Pietro: Você precisa de um psicólogo. - ele afirmou, encarando-me após direcionar-se a geladeira e pegar uma garrafinha de água.

-Ohana: Por que eu gastaria 300 dólares com um psicólogo se posso gastar 100 em drogas e conversar com 3 fadas e 5 duendes? - questionei óbvia, antes de pegar meu suco sobre o balcão e subir as escadas. Sem dar a ele satisfações.

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