Capítulo 30

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-— Crescemos juntos. Fizemos realmente o ensino fundamental juntos, os nossos pais eram muito amigos, ele é o caçula, tem uma irmã... pensando bem, não tem realmente muita coisa pra falar sobre isso.

- Porquê que perderam o contato?

- Em um determinado momento nós tivemos que nos separar, eu mudei de casa, os meus pais venderam a nossa casa de infância, na época eu tinha 12 anos, e foi quando nos mudamos para a Europa, por causa de uma grande oportunidade de trabalho que o meu pai teve. - Ele bufou de desgosto.

- Por causa daquilo, a família toda fez um grande sacrifício, até mesmo a minha mãe, teve que deixar o trabalho, e simplesmente seguir o meu pai. Quando voltamos 2 anos depois, compramos outra casa, mas ele já não vivia aqui também.

- Ele ficou muito emocionado quando te reconheceu, perdeu até o tom de gozação que tinha cara antes de você chegar. - falei.

- São dez anos. É muito tempo, pra mim, foi como se eu estivesse vendo um fantasma. - Ele riu com a ideia. - Não ficaria espantado se fosse o caso dele.

- E como era a vossa relação?

- Duas crianças problemáticas e rebeldes. - Riu novamente. - Os nossos pais chegaram a acreditar que éramos uma má influência um pro outro.

- Então... A viagem...

- Talvez. - Ele me cortou. - Também pensei muito sobre isso. - Ele endireitou o cabelo que estava tapando a vista esquerda. - Quero acreditar que a viagem não foi proposital.

Eu assenti e permanecemos em silêncio. Só ouvindo o barulho das ondas, não me ocorria nada pra falar, pensei em levantar ou lhe dizer pra voltarmos ao luau, mas, não sei se era uma boa ideia também.

- Sabe... Eu sinto que...quanto mais fácil a gente acha que algo vai ser, ela se torna bem difícil. Eu achei, eu achei que isso tudo seria bem mais fácil do que está a ser agora. - Ele não estava a olhar pra mim.

- Não entendo.

Ele abanou a cabeça, como se tivesse simplesmente pensado em voz alta.

- Você gosta daquele cara?

- Do Bruno?

Qual era a finalidade daquela pergunta?

Ele negou com a cabeça.

- Do Kellan.

O que?

- Não...eu nem conheço ele nem nada. - falei o mais confusa que pude.

- Quando vi quão próximos vocês estavam um do outro, o meu primeiro instinto foi rebentar a cara dele, mas eu não posso ser violento sempre que eu ver você com outro homem...ainda mais quando você realmente quer ficar com esse " outro homem"...

Ele falou mais alguma coisa, mas em algum momento eu deixei de prestar atenção, foi meio automático. Não sei se em algum momento eu já encarei tanto alguém com a intenção de ver através dela.

Mas a maneira como ele falava, a maneira como ele franzia o cenho, a maneira como o cabelo meio comprido dele batia na cara dele por causa da ventania, até mesmo a maneira como aqueles olhos castanhos brilhavam, era desconcertante. Mas eu tinha que me recompor.

- É uma grande merda ficar naquela suíte, enorme, e com aquele cara lá.

- Chace...

- Mas...- ele me cortou. - O meu coração bateu mil vezes mais rápido quando eu vi quão próximo de ti o Kellan estava. - Já é super irritante acordar e ter que ficar no outro quarto, acordar e não te dar bom dia como eu gostaria, não sair juntos pra caminhar, não jantarmos a luz de velas, não nadarmos juntos, não dizer que você fica linda sempre que você acorda...é bem irritante não poder fazer nada disso, e pior ainda com aquele cara lá. Ele não impede definitivamente nada. Se bem que muitas vezes vocês estão juntos, conversando, passeando, ficando íntimos, mas...

Ele virou, olhou pra mim e mordeu o lábio inferior.

- Eu prefiro mil vezes te ver com ele, do que com qualquer estranho que apareça aqui ou em qualquer lugar Theo. - Ele entrelaçou os nossos dedos.

- Mas... - comecei.

- Eu sei. - Ele não desviava o olhar de mim. - Não é sobre estarmos juntos fisicamente ou não. É uma coisa que eu não consigo evitar, eu fico possessivo, irritado, chateado, emburrado, e o facto de que... Nesse momento qualquer pessoa ter a possibilidade de fazer...de fazer... você esquecer de mim. - Ele apertou os meus dedos e baixou o olhar.

- Ninguém vai me fazer esquecer de você. - Eu puxei a minha mão da dele. - Eu não uso pessoas pra substituírem pessoas.

- Mas não seria você Theo. É como se. - Ele levantou novamente o olhar. - É como se uma parte de mim, estivesse a ser retirada e eu simplesmente, estaria olhando sem fazer absolutamente nada, mas não porque eu não posso, por opção. E essa não é a realidade.

- Chace olha...

- Você é incrível, e os homens não são cegos, nem todos querem a intensidade que você transmite, e outros querem, e eu ficar simplesmente vendo as coisas acontecer...eu não consigo fazer isso.

- Isso soa tão egoísta Chace.

- Gostaria de dizer que não, e desculpa Theo, mas enquanto eu tiver forças pra lutar pelo que eu quero, nada vai me vencer fácil.

- Isso só torna as coisas mais difíceis, será que você não nota?

- Eu nunca na minha vida vou me perdoar por deixar você ir assim. - ele encostou a cara dele na minha, e olhou profundamente nos meus olhos.

- Se você algum dia, decidir seguir em frente com qualquer outro homem Theo, eu não vou te perseguir, eu não sou um maníaco, eu vou te deixar viveres a tua vida porque isso vai ser uma escolha tua, você decidir que quer as coisas assim, que seguir, em frente, ter um novo amor...- hesitou...-Não me amar mais. - Ele colocou a mão na minha orelha esquerda, encostou as nossas testas e fechou os olhos.

- Eu vou sair da sua vida, mas... Eu nunca, nunca, nunca, vou desistir de você, de nós, de tudo. Porque eu tenho forças, fé e amor, e isso não vais desvanecer tão facilmente, porque eu não vou deixar Theoany, eu não vou só olhar enquanto eu puder lutar por ti, eu... não...vou, te deixar ir assim.

Eu fiquei completamente sem fala, fechei os meus olhos e respirei fundo.

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