Capítulo 49

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— O Chace...- comecei mas eu não tinha mesmo nada a falar a favor dele naquele momento.

— Ele tem que te dar um tempo. Desaparecer por um tempo, ou até mesmo pra sempre. - o cabelo dele voava freneticamente de um lado para o outro por conta da ventania.

Suspirei.

— Ele sabe.

— Não. - negou com a cabeça quem nem uma criança. - Ele não sabe.

— Porquê você não está lá em baixo mesmo?

Mudei rapidamente de assunto, já ficava bem farta de falar constantemente sobre o Chace, afinal ele já ficava o dia todo entalado na minha cabeça, sem eu evitar isso. E querendo ou não, o Bruno é uma pessoa maravilhosa e talvez...talvez, ele mereça sim uma oportunidade.

Ele mostrou um sorriso bem presunçoso.

- Ah, as boas coisas nunca ficam a vista de todos né?

Arqueei uma sobrancelha.

- É o aniversario do seu irmão.

- Que eu vejo todo santo dia de todos os meus 22 anos. Mas voce...eu não vejo toda hora, todo minuto, todo segundo, todo dia, então cada oportunidade de ficar contigo, devo aproveitar ao máximo.

— Será que você tem um caderno onde você escreve essas coisas?

Ele arregalou os olhos e deu uma gargalhada bem sexy.

— Não sério, diz, você passa a noite acordado pensando né?

— Você é a minha maior inspiração, é só olhar pra você, fico todo bobo já.

— Ah claro.

Fiquei arrepiada e com frio, a ventania já estava forte, muito forte, o Bruno notou e riu mesmo assim.

— Quer entrar?

— Vamos ficar com os outros?

— Mmmm...- ele passou por mim e pegou a minha mão e me puxou pra andar com ele sem responder a pergunta.

Passamos por uma porta que eu nem notara que estava lá, e tinham escadas lá, possivelmente eram as escadas que os irmãos dele usam pra subir onde estávamos, descemos as escadas que também não eram tão longas, entramos numa sala grande novamente, que não era muito estranha pra mim, olhei para a sala novamente e vi...ele me puxou pra subir as outras escadas e quando subimos sim...dei conta sim...era a escada que dava ao quarto que eu ficara quando vim pra cá.

Passamos pelo quarto, duas portas depois na parede esquerda tinha também duas portas, o Bruno abriu a que estava mais na direção da janela que terminava o corredor.

Ele pediu pra entrar e eu entrei ele entrou depois de mim e fechou a porta, as lâmpadas acenderam.

— Vamos ficar no meu quarto, se quiser claro. - ele ficou de frente a mim.

O quarto era do mesmo tamanho que o quarto que eu usei da outra vez, tinha uma cama no meio do quarto bem contra a parede, a cama era de medida normal, não era exageradamente grande, ou bem pequena, era uma cama de casal, embora ele seja solteiro, a decoração era azul e cinza, as cortinas das janelas muito bem escondidas eram cinza, as janelas ficavam do lado esquerdo e do direito tinha uma porta, que estava entre aperta, era o armário.

De frente a cama, tinha mais uma porta, era provavelmente o banheiro, e no lado mais a esquerda tinha uma grande estante que ocupava boa parte da parede, até a porta do armário, a estante estava dividida em dois, de um lado tinham muitos livros, todos organizados, e do outro tinha o computador, uma cadeira também azul com forro cinza estava de frente a secretária, e tinham mais algumas coisas por cima.

— Claro. - falei por fim.

Ele sentou no tapete felpudo que tinha no meio do quarto e eu sem hesitar fiz o mesmo.

— Se quiser sair ou cansar de ficar aqui, é só dizer, eu te levo pra lá, afinal voce veio mesmo pra ficar na festa.

— Onde foi sua autoestima? acha que vou cansar de você porque?

Deu de ombros e sorriu como uma criança.

— Sabe...você me deixa meio desconcertado ?

— Eu?

Suspirou.

— Quando eu era bem pequeno... eu nunca acreditei no amor.

Não interrompi.

— Não me lembro de ter recebido muito amor dos meus pais. - ele olhou pro alto e voltou a baixar o olhar. - Os meus irmãos estavam sempre aqui, a me apoiar, davam afeto e essas coisas, mas dos meus pais, nunca recebi nada além de mimos, e também nem era tanto, eles quase nunca estavam em casa. E eu não sei se posso realmente culpar alguém por certos comportamentos que eu tive no passado com as mulheres, não sei se posso culpar a minha mãe por não ter me ensinado nada sobre como tratar uma mulher, como ser um homem forte, se bem que a vida me ensinou isso perfeitamente ,bem depois, com o passar dos tempos.

— E os seus pais?

— Debaixo da terra.

— Os meus sentimentos.

— Obrigada, mas o ponto não era exatamente deixar as coisas assim bem melancólicas... eu só. O meu último relacionamento terminou porque eu era um grande desleixado, coisinhas simples eu não podia notar, mudar, por vezes só me perguntei se eu podia culpar alguém

— Os relacionamentos tem altos e baixos. - falei.

— Todos os meus relacionamentos passados tinham mais baixos do que altos, e era sempre por minha causa.

— Você não dev...

— Não, às vezes eu olho pra você, para oque você já passou sabe, com o Chace, como você meio que tentou explicar oque aconteceu...

Os olhos dele ficaram meio tristes.

— E eu sinto, oque elas sentiram, oque eu fiz elas sentirem. - ele brincou com o tapete e evitou olhar pra mim.

— Mas no começo, quando eu tentava...um pouco, mas...não funcionava, pensei até que não fui feito pra essas coisas, amar, se apaixonar...

— Mas você ama os seus irmãos.

— Ah mas eles também são bem chatos.

Ri daquilo e ele também, aquilo foi na brincadeira claro.

— Por um tempo, tudo que eu quis era só descobrir, sentir essa sensação, de amar...mas... - ele negou freneticamente e levantou, mas eu continuei sentada, ele andou em direção a cama, e girou de um lado pro outro.

— Tudo...tudo que eu sempre quis, era sentir isso, mas eu nunca encontrava, provavelmente porque eu procurava, e ouvimos por ai que você não procura o amor né.

Ele bagunçou o cabelo.

— Eu queria...- ele passou a mão pelo rosto nervoso e continuou a girar de um lado pro outro. - Porra eu queria que eles me ensinassem, que eu não posso fazer uma mulher chorar, sentir-se insegura, sentir-se insuficiente, não posso fazer uma mulher deixar de sorrir, que eu não posso fazer promessas que não vou cumprir, que eu tenho que me importar com oque os outros sentem, que as mulheres são pra serem amadas e bem tratadas, queria que eles me ensinassem que é normal um homem chorar, que não devemos guardar os nosso pensamentos só pra nós mesmos, me ensinassem a me colocar no lugar dos outros, que as palavras tem poder, me ensinassem a ser mais sensível, mais carinhoso, merda, eu queria que os meus pais me ensinassem a ser homem.

Olhei pro Bruno que passava a mão freneticamente no rosto, que estava inquieto, triste, com raiva, ira, nervoso, furioso, cansado, que estava só, mas acima de tudo.

Que estava cheio de traumas.

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