Deixe Ir

Capítulo 14

- Eu gostei de acreditar nisso, e sinceramente...- fui interrompida com a voz do Eli, era a Weza, fiz um sinal com a mão e atendi.

- Theo... porquê... o celular...- eu ouvia entre cortes.

- Weza, eu não estou ouvindo absolutamente nada, espera, eu vou procurar um lugar. - falei quando olhei pro sinal e eu realmente não tinha rede, entrei em casa pra sair do barulho e ainda não ouvia nada, então subi até ao terraço onde não tinha ninguém e estava bem escuro por acaso, mas a chamada tinha caído e quando eu tentava ligar, dava chamada encerrada.

Digitei uma mensagem para a Weza que sinceramente não sei se ela recebeu, parei por um minuto e admirei o ambiente lá em baixo, a nana estava muito feliz e sorridente, as crianças não paravam de correr e gritar como sempre, estava perfeito. Quando recebi uma mensagem, mas não era da Weza.

"Muito interessado numa próxima saída, mas dessa vez sem a parte melancólica"- ri da mensagem que o Bruno mandou e quando estava prestes a responder ouvi passos.

— Você vai fugir de mim a noite toda? - perguntou a voz conhecida.

— Eu não estava  fugindo de você. - falei quando ele apareceu no meio daquela toda escuridão, o luar e as luzas do andar de baixo só evidenciaram ainda mais a sua beleza.

— Não foi o que pareceu lá em baixo. - Falou quando se aproximava de mim.

- Para Chace. - Ele parou.

- Eu não vou fazer nada, a menos que você queira claro. - falou brincalhão e parou do lado oposto ao meu e observou o movimento lá em baixo.

- Eu não quero, acredita.

- Eu vi você com o seu amigo...quando saíram. - falou, mas nem olhou pra mim.

- É normal?

- Pois, eu sei. - A expressão dele era de confusão.

Ficamos em breves segundos de silêncio até que decidi ir embora e sair daquela situação constrangedora.

— Eu vou embora agora - virei me e ele agarrou o meu braço, ele parecia muito confuso, parecia que estava numa luta interna, ele ficou aí parado com o meu braço na mão, mas não disse nada, os olhou pra mim e depois me soltou.

- Tá bom...eu também vou.

Ele passou por mim e desceu, e eu fiquei sem... reação?

...

O ambiente continuava, já se passou uma hora desde aquilo lá em cima, ele continua aqui sim, insondável, não tentou falar comigo nem mais uma vez, falou com todos até com os meus pais, e saíram gargalhadas fortes de lá. Agora ele estava com os rapazes e eu com a minha irmã, eu não parava de olhar pra mesa deles.

- Eu não entendo você. - A Lia falou me chamando a atenção

- Eu também não. - falei sem nem saber do que ela falava e dei um gole na minha bebida.

- Porquê a presença dele te abala tanto?

- Eu não sei... não devia né? - olhei novamente pra mesa deles.

- Depende, até certo ponto abala sim, vocês estiveram juntos durante 1 ano? Certo?

- Quase dois..., mas sei lá, parece que eu fiz o errado sabe, eu olho lá e aquela vontade de estar lá com ele ainda bate. - Olhei e agora ele olhou pra mim também e eu olhei rapidamente para a Lia que me lançou um olhar que dizia " Ridícula Theo".

- Mas, sabe que até hoje eu não sei porquê que vocês terminaram- ela falou pensativa.

- Ele deixou de ser o Chace.- falei depois de segundos pensativa.

- Como assim?

- Simplesmente mudou, não falava, se distanciava, era só ele no canto dele, eu me senti excluída.

- As pessoas mudam Theo, ele só está nessa fase. - A Lia tentou me consolar.

- Eu sei..., mas...Será que as pessoas são capazes de mudar até ponto de o toque de quem dizemos amar ser doloroso? - perguntei mais pra mim do que para ela.

- Ai menina...- ela me abraçou..- Você ainda é tão jovem, eu realmente gosto de Chace e sempre achei que vocês estavam bem, mas a vida nos prega cada partida, quem vai saber , quem sabe vocês voltem um dia ou não.- ela olhou pra mim e sorriu.- Eu vejo que ele gosta de você, eu sei que você ainda quer ele mas preferiu escolher a razão e não o coração, mas deixar ir...menina é complicado.

- Eu sei, mas eu estou torcendo por isso.

De madrugada quando as coisas já tinham sido arrumadas e a festa tinha terminado, todos já estavam dormindo. Por causa da distância a nana insistiu que o Chace dormisse aqui com os meninos, e quando me informaram, fiquei inquieta, nervosa. Nós estaríamos debaixo do mesmo teto.

Será que o destino está contra mim?

Levantei da cama e fui até a cozinha, tirei o leite do frigorífico e andei com o pacote todo até ao terraço. Eu não tinha mesmo sono, mais valia ficar lá e ver o sol nascer.

Sentei, e tomei o meu leite a olhar pro nada durante muito tempo. Fechei os meus olhos e respirei fundo.

Eu consigo...eu consigo evitar isso...eu cons... - Fui interrompida.

- Eu sabia que você não ia conseguir dormir. E também sabia que estarias aqui. - O Chace falou quando chegou e sentou do meu lado.

Eu não sabia o que falar o fazer...pensei em levantar...

- Não precisa continuar fugindo de mim...A gente terminou...- falou pensativo. - Eu sei... infelizmente eu sei.

Eu não falei nada, continuei a tomar o meu leite e evitar olhar pra ele.

- Eu lembro...- ele começou...- Lembro de quando nós viajamos com a minha família, no verão... ficamos na casa de praia...de noite quando todos já estavam dormindo, nós íamos até a praia e ficávamos lá...- olhei pra ele, ele não estava olhando pra mim, olhava pro céu. - Na areia, a olhar as estrelas, sem preocupações, sem problemas, sem discussões... claro ainda haviam as minhas discussões com os meus irmãos - ele deu um sorriso de canto. - Mas tirando isso, não havia fim, ninguém pensava no fim, nesse fim. - Ele finalmente olhou pra mim. - Não sei o que aconteceu.

- A vida aconteceu. - falei olhando profundamente nos olhos dele.

Ele bufou.

- A puta da vida aconteceu. - Ele sorriu sarcástico. - é mais fácil culpar a vida do que admitirmos a culpa das nossas ações.

- É verdade. Pra muitos. - Desviei o olhar do dele.

- Não devia sabe?

- O quê?

- Ter acabado assim.

- Chace...

- Eu teria feito muito mais, teria dado muito mais, teria dito muito mais. Eu podia, e eu ia fazer.

- Quando? Depois? Porque no Agora você não fez, no agora você deixou tudo como sempre foi. Chace...pra quê bater na mesma tecla sempre? Suas palavras de agora não vão mudar suas ações de sempre, você é assim, só errei em pensar que eu poderia mudar você. Foi meu maior erro.

- Nós nunca fomos um erro. - Murmurou.

- Ah não? Então por que você me fazia acreditar todos os dias que a gente era sim?

- Eu...ia ficar tudo bem.

- Você melhor do que ninguém, sabe perfeitamente, que na vida, palavras são só palavras. Toda gente tem a capacidade de falar, mas fazer, agir, infelizmente, nem todos conseguem.