Capítulo 6

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Conforme os dias passavam, as coisas em casa passaram a ficar um pouco mais estranhas. Geralmente, meus pais chegavam bem tarde em casa, então eu escapava de quaisquer interrogatórios sobre a escola e aos fins de semana eu sempre arrumava uma desculpa.
Mas naquele dia, eu não tive escolha. Eu não tinha lição de casa, não marcará de sair com ninguém e minha mãe tinha conseguido um dia de folga, então não demorou muito pra ela se sentar ao meu lado no sofá e perguntar:
- E como está indo a escola Annie?
Por algum motivo, meus pais tinham um trauma do curso de heróis porque o meu irmão morreu durante seu estágio na época escolar. Então dava pra compreender a ansiedade deles em me deixar entrar numa escola de heróis. Ainsa mais na U.A, que fora a escola do meu irmão. Então eles acreditavam que eu fazia parte do curso de Serviços Gerais. E eu não fazia ideia de como as aulas para eles funcionavam.
- Bem- respondi, tentando ignora-la e continuar lendo o meu livro.
- O que você está aprendendo?
- As matérias normais de escola. Matemática, história, inglês essas coisas - baixo o livro e sorrio pra ela- Só que eles cobram mais lição de casa da gente do que uma escola qualquer.
Ela dá uma risada fraca e passa a mão no meu cabelo.
- Você está gostando?
Faço que sim. Ela suspira.
- Que bom querida. Sei que eu e seu pai fomos um pouco chatos não deixando você entrar pra um curso de heróis, mas fico feliz que você esteja gostando.
Só faço que sim de novo com a cabeça.
Parte de mim só queria que meus pais apoiassem o meu sonho de me tornar uma heroína. E eu não entendia o que exatamente meu falecido irmão tinha a ver comigo. Tá legal, isso deixou um baita trauma pra eles, mas eu queria ser melhor. Eu ia ser melhor. Eu ia salvar as pessoas que meu irmão não pode salvar. Queria seguir os passos dele para realizar o sonho que ele não pode realizar : se tornar um grande herói.
Tudo o que eu sabia sobre ele eram histórias que minha família contava sobre como ele era com os amigos e com as pessoas em geral. E desde pequena, o garoto alegre, energético e empático que eu nunca tive a chance de conhecer se tornou meu ídolo e meu maior fardo. Eu estava mentindo pra minha família e pra escola por ele e por causa dele.
Mas em momento nenhum eu ia desistir de firmar o futuro que Oboro Shirakumo nunca conseguiu alcançar.

- Eu preciso de um favor seu - disse Shizuka no dia seguinte, no almoço.
Ergui os olhos do meu arroz e indiquei pra ela seguir em frente.
- Você testaria um equipamento meu? Digo, é algo bem recente mas eu adoraria que...
- Mas é claro!- respondo na hora -  O que é?
Ela pega a mochila e tira dela uma espécie de monóculo, composto por um fio encapado e uma lente laranja de acetato.
- É uma espécie de óculos de visão térmica, mas ele ao invés de captar calor, capta energia.
Pego o dispositivo e penso que aquilo me seria muito útil. Os óculos do meu equipamento original só me permitiam ver pessoas físicas. Se aquela peça podia detectar qualquer tipo de energia, eu também poderia ver qualquer espírito próximo e chama-los ao meu auxílio com menos dificuldade.
- Se você não conseguir usar ao seu favor não precisa é sério....- ela começou a dizer vendo que eu só olhava sem parar pra peça em minhas mãos .
- Não, vai me ser muito útil. De verdade - respondo e o guardo nas minhas coisas- Valeu.
Ela sorri pra mim e se encolhe um pouco.
- Valeu. É meio difícil ter alguém de cobaia com a Hatsumi por perto.
- Quem é Hatsumi?- pergunto.
De repente ela torce o nariz e cerra um dos punhos sobre a mesa. Instantaneamente os barulhos do refeitório silenciaram até eu ouvir apenas minha própria respiração. Só então me dei conta de que ela tinha ativado sua individualidade.
- Meu silêncio cria pode criar um vácuo, então a gente não escuta nada além de nós mesmas e uma a outra, e eles não nos escutam - ela explica - É que ela está irritantemente em todo o lugar. Sempre que eu abro a boca pra falar dela ela brota do nada do meu lado. É como ter um cachorrinho carente como parceira de trabalho.
Ela respira fundo e passa a mão pelo cabelo claro.
- Então, ela é minha parceira. Mas fala mais que a boca, passa a noite fazendo equipamentos loucos e grandiosos que na maioria das vezes explodem do nada.
- Mas então você faz equipamentos com uma maior precisão do que ela?- pergunto.
Ela dá uma risada seca.
- Como se isso importasse pra alguém. As pessoas se impressionam com a rapidez e a quantidade de coisas que ela faz em pouco tempo. Não ligam se funcionam ou não e ela mesma também não.
- Ei- digo e seguro a mão dela em cima da mesa - Não se rebaixa tá bom ? O que importa pra você?
- Ajudar as pessoas da melhor forma possível. Com o menor risco possível- ela responde, a raiva deixando a sua voz.
- Então faça isso no seu tempo. E daí que ninguém te percebeu ainda? - pisco pra ela- Aposto que em pouco tempo você vai ser a verdadeira estrela dessa escola.
Ela sorri e os barulhos voltam a soar a nossa volta.
- Bom- ela se levanta e pega a mochila - A gente ainda tem quatro aulas pela frente então, até Anami.
Me levanto também e aceno pra ela.

Todo o drama da minha família era porque meus pais consideravam o curso de heróis perigoso. E eu achava aquilo ridículo, até o dia dos treinamentos na USJ.
O herói espacial 13 e o professor Aizawa nos encaminharam a um grande campo de simulação dentro dos domínios da U.A : a USJ. O lugar era enorme e possuía todo o topo de simulação de desastres: de naufrágios a incêndios.
E estava tudo bem e normal até uma névoa roxa começar a abrir um portal no meio do terreno.
- Era pra aquilo estar acontecendo ?- pergunto vendo o vórtice aumentar e uma mão sair de dentro de lá.
13 e o professor Aizawa se viram e se colocam à nossa frente.
- Crianças fiquem atrás de nós- diz treze quando uma série de pessoas sinistras começa a sair de lá.
- Saiam daqui!- grita o professor Aizawa mas, assim que nós viramos, outro portal se abre às nossas costas. Só que de dentro desse só saem dois filetes em cor amarela. Olhos.
- Eu sinto dizer, mas ninguém vai sair daqui - disse uma voz de dentro dele e quase que instantaneamente um vento forte começou a sugar qualquer coisa  próxima pra dentro daquilo.
- Se ele fala isso significa que ...- começo a sussurrar, mas antes de eu terminar, Bakugo Kirishima e Luna se adiantam, pulando pra cima daquela coisa.
- ... Quer dizer que pode ser detido!- completa Kirishima pouco antes de ser sugado junto dos outros dois pra dentro daquilo.
Engulo em seco, mas tenho pouco tempo pra pensar em mais alguma coisa pois percebi meus pés deixando o chão.
- Anami !- gritou alguém pra mim, mas não pude identificar quem antes do turbilhão me sugar e tudo ficar escuro.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora