Capitulo 45

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O caminho de volta pra escola passou em um borrão. Eu nem me liguei que já estava de volta até pisar pra fora do carro e entrar no campus.
E eu me liguei que não sabia o que fazer agora. Fiquei olhando pro prédio da U.A em toda a sua grandeza sem pensar em absolutamente nada além da entrevista no Tartarus.
-Anami você está bem?- o professor Aizawa me pergunta.
Faço que sim com a cabeça lentamente e me afasto, meio sem saber pra onde eu estava indo. Praticamente deixei o puro instinto me levar pra frente.
Só percebi que tinha chegado em algum lugar ao ouvir um baque surdo e um resmungo. Pisquei e vi que eu estava na clareira nos domínios da escola onde Shinsou geralmente treinava. E ele estava lá. Me olhando do chão como se eu fosse uma assombração.
-Oi- ele diz se desenroscando da fibra de captura e se levantando -Tá tudo bem com você?
Até aquele momento eu só me entreguei ao vazio. Mas assim que ele me perguntou aquilo destrancou alguma coisa dentro de mim. Algo que eu nem sequer tinha percebido que estava segurando por todo aquele tempo.
- Não- digo, quase sussurrando e tento sorrir pra ele em meio a vontade de me afogar em lágrimas- Eu nem sei como eu ainda me aguento em pé.
Não sei porque estava contando aquilo pra ele. Ele deu um passo pra frente e pôs uma mão no meu ombro eu relaxei quase que instantaneamente.
- Não que eu esteja insistindo, mas pode me contar o que houve, se quiser.
Eu não sabia se deveria contar aquilo pra ele. Afinal, era um assunto de extremo sigilo até pra polícia. Mas eu tinha que falar pra alguém antes que a pressão dentro de mim explodisse.
Baixo o olhar e conto tudo pra ele. Desde a suspeita de eu ter sido a traidora da U.A até a experiência com Kuroguiri. Por algum milagre eu consegui contar tudo sem desmoronar e quando eu terminei, não tinha coragem de erguer o olhar pra ele.
- Você nunca deixou transparecer que carregava um fardo tão pesado - Ele me responde após um momento de silêncio - Não precisava ter passado por isso sozinha.
- Mas e como eu não poderia?- respondo, minha voz falhando - O que você acha que os outros pensariam se eu contasse isso a eles?
- Olha, talvez eles sejam muito escrotos e inúteis pra pensarem outra coisa, mas eu acho que você foi muito corajosa.
Ergo o olhar lentamente, surpresa por ele ter dito algo assim. E mais surpresa ainda por ele me puxar pra um abraço quando eu não o respondi.
E eu retribuo. Afundo a cabeça no ombro dele e não ligo pro fato de que aquilo era meio íntimo demais. Tudo o que eu precisava naquele momento era daquele abraço; do apoio sólido do corpo dele pra me impedir de despencar num abismo de depressão.
- Obrigada - consigo responder - por não me achar um monstro.
- Você não é um monstro - Shinsou me diz e ri - É qualquer coisa menos isso. Você é uma heroína.
Uma heroína. Naquela hora era tudo o que eu menos me sentia era alguém capaz de salvar as pessoas. Mas talvez não precisava ser sempre assim. Afinal, heróis também tinham problemas. E quando isso acontece, são momentos como esse que os salvam.

Passei o resto do dia completamente abalada.
Depois da conversa com Hitoshi eu me tranquei no meu quarto e passei o resto do dia lendo.
Só me levantei da cama lá pela hora do jantar e percebi que havia um bilhete embaixo da minha porta.
Nele se lia : " Me encontra na área de treinamento Beta. Ass Hitoshi"
Achei aquilo meio estranho, mas peguei um casaco e sai se fininho pelos fundos até o caminho que ligava os dormitórios às outras áreas da escola.
Demorei uns quinze minutos para chegar lá e me surpreendi ao vê-lo encostado no arco de entrada.
- Oi- ele disse acenando pra mim.
- Oi- respondi - Você queria falar alguma coisa comigo? Tipo, a essa hora da noite por algum motivo ?
Ele sorri e leva a mão ao pescoço.
- Ah bem, eu vi que você não tinha ficado muito bem com aquela história toda com seu irmão. Então eu pedi permissão pro diretor pra usar essa área pra uma... pequena surpresa.
Ergo uma sobrancelha. Hitoshi não era o tipo de cara que fazia coisas pras pessoas. No mesmo instante uma série de borboletas vindas do nada começou a dançar macarena no meu estômago.
- Nossa eu... não sei o que dizer - digo.
Ele estende a mão pra pegar a minha e eu me permito ser guiada até um dos prédios de simulação de batalha do terreno.
Ele abre uma porta e indica um elevador.
- Eu arrumei as coisas lá em cima, se você não se importar.
Neguei com a cabeça e fiquei me perguntando o que seriam as " coisas" lá em cima.
Entramos no elevador. Quando as portas se abriram e me vi em um terraço iluminado por uma série de lâmpadas de led e com uma toalha estendida. Parecia uma típica cena de um livro de romance. Mas no lugar da típica desta de piquenique, havia um telescópio.
- Lembro que você me dizer que gostava de olhar as estrelas - Ele disse indo até o telescópio e o ajustando - Achei que isso pudesse te distrair um pouco.
Eu havia comentado aquilo uma única vez com ele durante os treinos. Me impressionei por ele sequer ter se lembrado.
Me aproximei do telescópio. Ele estava apontado pra estrela Sirius.
- Você também disse que essa era sua estrela preferida- ele continuou e eu senti um sorriso surgir em meu rosto.
Me afasto da lente e olho pra ele, o roxo dos olhos quase pretos no escuro, meu rosto refletido neles.
- Sei que você já me explicou, mas qual o significado disso, Toshi?
Eu estava olhando em seus olhos naquele momento, próxima  o suficiente do dele pra sentir o calor de seu corpo. Ele ergue a mão e a leva a uma das mechas azuis do meu cabelo, enrolando-a nos dedos.
- Você ainda parecia chateada. Precisava relaxar um pouco. Então eu achei que...- ele balança a cabeça e afasta a mão, colocando-a no bolso - Que isso podia te ajudar.
Encosto a cabeça em seu ombro, meio surpresa comigo mesma.
Eu estava confortável ali, com ele e não queria mais nada naquele momento. Não ligava pro telescópio, ou pro fato de estarmos sozinho, eu só me importava com o fato de ele estar ali.
- Obrigada - suspiro - Sei que muita gente me vê como uma das melhores alunas que nunca se abala mas... eu sou um monte de caquinhos quebrados por dentro.
Um momento de silêncio. Sinto seus braços  me envolvendo em um abraço.
- Coisas assim colam os pedacinhos estilhaçados - continuo, por fim.
- Não sei bem se essa é uma solução bem permanente. Eu diria que eu estou mais capturando-os e tentando mante-los juntos- ele me responde, inesperadamente filosófico.
Ergo a cabeça e rio.
- Acredite, isso é o que você faz de melhor.
Acho que eu tinha feito mais uma vez aquilo de dizer algo super profundo pra ele. Ah Droga.
Ele se aproximou e ajustou o telescópio para mirar outra estrela.
- Bom, que bom então que eu tenho a noite inteira livre.
Aquela resposta fez os meus neurônios dançaram loucamente. Eu não sabia como reagir, então eu só assenti e passei o resto da noite em silêncio, observando a vastidão do espaço com ele.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora