Troia era exatamente como nossos dormitórios nos terrenos da U.A. A única diferença era que aqui tínhamos colegas de quarto, porque a construção era menor.
Então assim que eu cheguei lá, Luna já estava deitada em uma das camas, de olhos fechados e ouvindo música no volume máximo em seus fones de ouvido.
- Oi- digo, mesmo sabendo que ela não pode me ouvir. Coloco minha mala num canto e me sento na cama em frente a que ela está- Como vai Luna?
Ela vira a cabeça pra me encarar e tira um dos fones.
- Me preparando psicologicamente pro que está por vir- diz.
- Nem me fale- respondo e olho pro chão - Eu vou ter que trazer umas pessoas de volta além do meu irmão.
Ela se levanta e deixa os fones de lado. Morde o lábio e encosta a cabeça em uma das mãos.
- Quem?- diz quase sem emitir som algum.
- Os Waterhose. O Sir Nigtheye. Lady Nagant...
- Ela?- Luna diz erguendo a cabeça- Mas...
- Ela era uma heroína e nos seus momentos finais ela concordou em ir contra o All for One- expliquei- Além disso, eu queria muito trabalhar com ela.
Luna balança a cabeça e sorri zombeteiramente.
- Você seria um nojo com uma arma.
- Seria mesmo- concordo e continuo com a lista- Também o herói Crush. O X-Less. Nativo. Magestic.A Star and Stripe. A Midnigth... Praticamente todos os que foram derrotados na batalha anterior e alguns antecessores do One for All.
Luna engoliu em seco. O peso de todos os nomes que eu citei e todos os improninciados pareceram se chocar contra ela feito um trem. Ela parecia tonta e desorientada.
- Você podia trazer toda essa gente de volta?- ela diz, por fim.
- Durante meus dias de vigilante eu aprimorei minhas habilidades- esclareci- E eu tenho um plano de direcionamento pra todos eles. Porque eu sei que, por exemplo, o Mirio ficar perto do Sir ele pode se distrair com a presença.
- Anami, então não me deixa perto de ninguém- ela pede e eu posso ver seus olhos brilhando com lágrimas- Porque eu não vou aguentar isso.
Sorrio pra ela, de um modo reconfortante, e me sento ao seu lado.
- Eu vejo meu irmão morto todo dia- digo e me inclino pra cômoda compartilhada onde eu tinha posto minha bagagem de mão. Tiro da malinha um pequeno monitor. Passo o aparelho pra ela.
Minha amiga encara o mecanismo confusa por um momento. Então ele se liga e mostra uma cela de prisão. A cela de Kuroguiri.
- Todos os dias, por volta das sete da noite, eu ligo o monitor e fico vendo ele lá- digo baixinho- Não sei o quanto resta do Oboro aí, mas eu tenho esperança de que essa coisa seja mais do que só um monstro criado a partir de um cadáver- me viro pra encara-la- Eu vejo gente morta todo dia. E carrego o fardo de ver pessoas que já tiveram família, um emprego, uma vida, voltarem e se esvairem feito fumaça.- engulo em seco- Eu aguento isso por anos. Todos vão estar concentrados em suas missões. Já estou tomando precauções se isso acontecer porque eu não quero que ninguém sofra mais, mas nesse momento uma concessão é necessária. Afinal, mesmo quando o céu está escuro, sempre existem estrelas pra iluminar a noite.
Um silêncio obscuro se instala entre nós. Então ela encosta a cabeça no meu ombro.
- Eu só queria que nós não víssemos mais ninguém morto.
Encosto a cabeça na dela, meu cabelo azulado se misturando ao cacheado escuro dela.
- Eu também queria.No jantar meus amigos pareciam bem mais otimistas do que eu imaginava. Todo mundo conversava sobre seus progressos e reclamavam das patrulhas. Parecia até mesmo um dia comum.
- É tão bom ver todos assim- digo pro Kirishima, sentado ao meu lado.
- É. Pois é- ele suspira e sorri singelamente- É bom ter um pouco de calmaria antes da tempestade.
Faço que sim com a cabeça. Ergo o olhar e percebo o Bakugo me olhando. Ergo uma sobrancelha pra ele. Ele me responde com um gesto singelo que diz " depois eu falo".
Não sei bem quando eu aprendi a le-lo, mas parecia que agora eu era uma das únicas pessoas que conseguia fazer aquilo.
Desviei o olhar pro lado e captei Hitoshi do outro lado da mesa me encarando também.
Pousei os talheres no prato e inclinei a cabeça pra ele, como que perguntando porque estava fazendo aquilo. Ele desvia o olhar.
Balanço a cabeça. Parecia que de repente todos nós passamos a comunicar nossos receios por meio de olhares e gestos.
Quando terminamos a refeição, Bakugo me puxou pelo cotovelo até a sala de estar.
- E então o que foi?- pergunto, cruzando os braços.
- Luna- ele diz baixando a voz pra um tom praticamente inaudível.
E imediatamente eu entendi.
- Ela quer lutar contra o Shigaraki com você e o Midorya né?
Ele passa uma mão pelos cabelos e expira ruidosamente.
- Quer. Mas é uma péssima ideia.
- Eu sei- digo e baixo o olhar- Ela se deixa levar muito pelas emoções e ficar de frente com ele pela terceira vez... ainda mais com o All for One lá também...
- Eu queria que ela me escutasse, mas ela é tão teimosa- ele diz e sua voz começa a ficar mais alta e aguda- Mas que droga!
- Bakugo eu sinto dizer, mas agora é com você- coloco uma mão em seu ombro e sorrio fracamente- Eu tentei explicar pra ela que nós podemos tentar tornar as coisas menos difíceis, mas ela simplesmente... não escuta.
Um instante de silêncio. As palavras morrem entre nós.
- E você também não- digo, enfim.
Bakugo ergue o olhar enraivecido pra mim. Ele abre a boca pra reclamar mas eu o interrompo.
- Vocês são iguais e você não percebe isso. O Best Jeanist tentou fazer você ouvir, mas você foi teimoso e só percebeu que ele estava certo meses depois. Então... O mesmo que você está sentindo agora, ela sente também.
Ele pisca pra mim, sua expressão ilegível.
- Com você e o Shinsou é assim também?
Aquela pergunta me faz derreter ali mesmo. Eu não sabia que minha relação com Hitoshi era tão óbvia àquela altura.
- Mais ou menos- respondo maneando a cabeça- Só que tá mais pra, nós dois não contamos algumas coisas um pro outro.
Ele assente. Da um passo pra frente e coloca uma mão em meu ombro.
- Bom, valeu pela conversa.
E me deixa ali sozinha, surpresa ao perceber que daquela era a primeira vez que ele me agradecia. Ele realmente tinha evoluído muito como pessoa.
Todos nós tínhamos.
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Rainha Fantasma
FanfictionAnami é uma estudante do primeiro ano do curso de heróis da famosa U.A. E enquanto ela tenta se tornar uma grande heroína, ela não percebe a sombra que se agiganta sobre todos. Mau ela sabe que grande parte dessa sombra, foi ela mesma quem construiu.