Capítulo 15

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Os estágios começaram logo no dia seguinte e, assim que entramos no trem que nos levaria da escola até as agências de heróis eu fiquei sabendo que o uniforme de alguns pessoas foi atualizado.
- Ainda bem. Eu odiei o designe do meu - falei.
- É, eu precisava de una caixa de som mais potente também- disse Jiro que estava sentada a minha frente enrolando os fones no dedo.
- E onde você vai estagiar no fim das contas?- perguntou Uraraka que estava ao meu lado.
Fechei os olhos. Eu tinha dito que talvez estagiaria junto com ela, mas não sei uma certeza. Também não tinha como dar uma desculpa sobre quem era o Koichi.
- Ah, é em uma agência em Nahurata. Já me esqueci o nome - dei de ombros e sorri meio sem graça- Eu optei por um lugar mais perto de casa.
Ela assentiu e sorriu.
- Bom espero que de tudo certo pra você!
- Eu te ligo pra conversarmos sobre técnicas- respondo - Afinal eu prometi, não?
Aquilo era verdade. Depois do festival a Uraraka me procurou pra eu dar uns conselhos sobre técnicas de luta, já que alguém havia contado a ela que eu tinha feito quatro anos de aula de artes marciais. Esse "alguém" provavelmente foi a Luna ou o Kaminari, que eram os únicos dois da turma que sabiam disso.
- Ah sim !- as portas do trem se abrem e a estação abarrotada de gente se estende a nossa frente - Bom, vamos lá!

Assim que eu subi até o apartamento em cima do prédio abandonado eu não esperava encontrar o Koichi com o uniforme dele e um par de soco inglês nas mãos, feito um lutador de boxe.
- Oi- digo pousando minha mala no chão da sala e arregalando os olhos - Pra que isso?
Ele olha pros anéis em suas mãos e sorri pra mim.
- Você comentou que queria se aprimorar em combate, então eu pensei em te ensinar umas coisinhas - ele tira os anéis e os estende pra mim - Eu queria que você passasse a usar isso.
Arregalo os olhos ainda mais. Eu nunca o tinha visto usando aquilo, o que queria dizer que devia ser algo especial. E ele estava me dando aquilo.
- Eu não sei se eu deveria...- comecei a dizer mas ele me interrompeu.
- Olha, o meu mestre me deu isso é eu tenho certeza de que você vai fazer um uso melhor do que eu faria.
Suspiro e pego o soco inglês. Incrivelmente, eu gostei da sensação dele na minha mão, mas não disse isso em voz alta.
Coloquei meu novo uniforme, que agora consistia em um macacão roxo com algumas correntes penduras e um capuz, que não era em nada ridículo e combinava com minha nova arma. Depois de me trocar, encontrei com o Koichi no terraço.
Não sei bem o que eu esperava de diferente dos meus treinos anteriores com ele, mas eu não esperava um circuito montado a partir do telhado do prédio e que seguia por todos os demais até as fileiras de cones se perderem no horizonte.
- Tá legal - ele disse se virando pra mim com um sorriso  - Pra o nosso primeiro dia, eu quero que você treine percorrer esse percurso ida e volta no modo fantasma.
Franzo a testa pra ele.
- Koichi, mas você sabe que o meu estado de plasma só dura alguns segundos...
- Exatamente por isso - ele da uma pequena mochilinha pra mim - O objetivo é tentar expandir esse tempo pra te dar manobras de ação mais amplas. E o paraquedas aqui - ele da um tapinha na mochila - é por precaução só.
Pra mim eu ia precisar daquilo pra mais do que apenas uma precaução, mas eu apenas assenti e respirei fundo, olhando pros prédios diante de mim.
- Tá legal, vamos nessa- respondo e assumo meu estado de plasma.
Me impulsionou na beirada do prédio e começo a planar sobre o terreno lá embaixo e sorrio comigo mesma quando chego na outra ponta, continuando a flutuar e a avançar mais rapidamente.
Quando me dei conta, eu praticamente estava pulando de telhado em telhado, sem me preocupar com quanto tempo eu estava demorando pra fazer isso. E esse foi o meu erro. Eu não percebi que meu estado de plasma tinha atingido o tempo máximo pelo qual eu conseguia mate-lo. Então assim que eu fui me impulsionar pro outro prédio, eu não flutuei sobre o beco abaixo, eu cai, sem tempo de reação pra acionar o paraquedas, e atingi em cheio uma pilha de sacos de lixo.
- Você está bem?- Koivhi me pergunta, erguendo uma mão pra mim. Aparentemente ele acompanhou meu percurso do chão.
- Acho que sim - digo, aceitando a ajuda e sentindo uma dor latente no meu ombro esquerdo - Ou melhor. Eu acho que desloquei o ombro.
Ele me vira lentamente e analisa a posição torta em que o osso do meu ombro se encontrava.
- É o que parece. Bom, vamos voltar pra por esse osso de volta no lugar.

Eu passei os próximos cinco minutos depois de voltarmos pra casa dele mordendo uma toalha até meus dentes doerem depois de ele realocar meu ombro com um gesto brusco.
Kazuho havia voltado do mercado naquela hora, e me passava una xícara de chá quando a dor insuportável começou a passar.
- Vocês dois tem que tomar cuidado!- ela disse e se voltou pra Koichi- Ela podia ter morrido!
- Sacos de lixo são o melhor lugar pra se cair - ele murmura em resposta e se ajoelha a minha frente- Vamos com mais calma da próxima, ok?
Faço que sim com a cabeça, piscando pra afastar as lágrimas.
Koichi coloca uma mão em minha bochecha e sorri pra mim.
- Ei. Eu sei que estamos tentando coisas maiores do que antes. Mas você tem sido muito corajosa. Eu acredito que vai superar isso.
Sorrio de volta e limpo as lágrimas.
- Eu sei - respondo e olho pra baixo - É que você tá ajoelhado em cima do meu pé.
Ele olha pra baixo e se levanta rapidamente envergonhado e sorridente.

Eu obviamente não ia dormir na casa do Koichi. Porque 1- ele não tinha um quarto extra; 2- a casa dele não era uma agência de heróis oficial e 3- eu não estava afim de saber o que acontece a noite entre ele e a Kazuho.
Então eu peguei o metrô de volta pra casa. Olhando pela janela, as ruas de Nahurata passando como flashes multicoloridos.
Mas, em determinado momento, o trem para e uma série de luzes de emergência soam no trem.
- Atenção passageiros, pedimos que permaneçam no trem. A linha foi temporariamente interditada pelos heróis.
Aquilo não podia significar algo bom. Pego o celular e mando uma mensagem rápida para os meus pais explicando o que estava acontecendo, mas então uma coisa me ocorreu. Se a linha de trem tinha sido interditada, deveriam haver pessoas que precisavam de ajuda mais além. Eu não podia simplesmente ficar parada.
Então eu peguei meu uniforme e sai de fininho, atravessando a parede do banheiro do trem.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora