Capítulo 38

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Dentro de três dias eu já conseguia me mover normalmente e voltar a treinar com força total sem sentir dor alguma.
Aquilo me deixou aliviada porque eu já tinha me cansado da cadeira de rodas e de todo mundo me olhando com pena. Aliás, foi por esse motivo que eu prometi pra mim mesma que, quando eu me tornasse profissional, eu iria investir um dinheirão pra ajudar crianças com deficiências a conseguirem abertura na sociedade como qualquer outra pessoa, porque, afinal, somos todos seres humanos.
Os próximos dias passaram sem que nada de muito anormal ou extraordinário acontecesse. Quer dizer, assim que viu que eu estava suficientemente bem, a Luna me deu um tapa na cara sem compromisso, me dizendo pra nunca mais eu me arriscar daquele jeito. Eu só sorri sem graça pra ela e dei risada.
Também preparei um presente de aniversário pra enviar pro Rody, que de vez enquanto me ligava pra conversar sobre como iam as coisas em Otheon e com os irmãos dele. Não era exatamente o aniversário dele, mas como eu não sabia o quanto a encomenda demoraria pra chegar, talvez servisse como presente de Natal ou só um presente mesmo que eu quis dar a ele porque não tive a chance de fazer isso em Otheon. Então eu acabei encaixotando tudo que eu queria e enviando no correio. Também acabei criando uma conta num banco com a ajuda da Kazuho no nome dele e depositei todo o dinheiro que eu ganhei no meu estágio com o Koichi ( porque ele insistiu em me dar uma espécie de mesada naquele tempo), como uma espécie de bônus. Meu amigo era teimoso e não ia aceitar ajuda de uma agência de heróis tão cedo, então eu queria pelo menos ajudar indiretamente. Entao eu enchi uma caixa com mais algumas coisas que não  iam ser barradas na alfândega e escrevi uma carta explicando que ele agora tinha uma conta com um bom dinheiro no banco.
Ele me ligou de volta umas horas depois.
- Anami sua louca!- ele exclamou assim que eu atendi - Você não precisava me mandar nada! Eu disse que estava bem.
- Eu só queria te dar um presente- dei risada.
- É. Um milhão de ienes é um baita presente - ele disse e eu pude ouvir Pino reclamar - Menina, o que é que eu vou fazer com esse dinheiro?
- Compra uma casa. Ou um trailer- respondo ainda rindo- Você tem muitas possibilidades.
A linha ficou silenciosa por um momento, mas eu o podia ver balançar a cabeça, ainda incrédulo.
- Eu já disse que eu te amo? Sério mesmo - ele respondeu depois de um tempo - Mas eu vou devolver o seu dinheiro.
- Eu te amo também Rody, mas não vai me devolver nada não. Você vai é gastar esse dinheiro.
Ele suspirou e riu de novo.
- Vamos ver. Eu preciso ir. O Roro acabou de enroscar o pé numa grade. A gente se fala. E obrigado de novo.
- De nada. Até - digo, pensando não pela primeira vez no quão bom irmão ele era e desligo.

Mas aquilo foi o que houve de mais emocionante na minha semana até o professor Aizawa anunciar que iríamos treinar junto da classe B e, quando contei isso pra Shizuka, ela sorriu pra mim de lado e me disse que o Shinsou também participaria desse treino.
Então, assim que eu soube da notícia decidi sair correndo confirmar se era mesmo verdade.
Encontrei Hitoshi na clareira em que ele costumava treinar, arrancando um galho de uma árvore com a faixa de captura. Ele estava ficando bom em usar aquilo.
- Ei Toshi!- disse e ele se virou pra me dar oi, abaixando a fita que enrrolava seu pescoço- É verdade que você vai participar do treino com o curso de heróis?
Ele piscou surpreso e deu de ombros.
- É. O professor Aizawa me convidou pra participar, mas como você descobriu ?
Dei de ombros.
- Eu tenho uma amiga com contatos diretos à sala dos professores.
- Uma amiga?
- A Shizuka do curso de apoio. Ela é sobrinha do Present Mic e sabe de algumas coisas - esclareço e em seguida o abraço forte e abrupadamente- Mas isso é incrível! Você finalmente vai poder entrar no curso de heróis!
Ele me abraçou meio sem jeito e colocou a mão no pescoço, como fazia quando ficava sem resposta. Estranhamente, aquela foi a primeira vez que eu percebia que eu fazia a mesma coisa.
- Olha, eu não sei se isso é um teste mesmo, mas eu espero mesmo que seja e que eu consiga passar.
Sorri e pisco pra ele.
- Você vai. E me faz um favor ? Faz o Mineta quicar escada a baixo. Aquele menino me da nos nervos.
Ele franze a testa e começa a dar risada. Me dei conta tambem de que aquela era a primeira vez em que eu via ele rindo.
Também percebi que por motivo nenhum eu estava reparando mais no que ele fazia. Fiz uma nota mental pra eu parar com isso antes que ficasse estranho.
- Você tem mais alguma dica ?- ele pergunta.
Ergo os olhos pro céu e penso um pouco.
- Eu tomaria cuidado com o Kaminari e o Todoroki. O primeiro porque a sua faixa conduz corrente elétrica, se ele direcionar um ataque pra você, vai ser eletrocutado.
- Vou procurar ficar longe- ele responde, mexendo distraidamente na faixa de captura.
- Ou pegar ele antes que pegue você - respondo - E o Todoroki porque o material da sua fita reage à mudança de temperatura. Nem tanto quanto outros tipos de tecido, mas eu sinceramente não tô muito a fim de te ver preso que nem uma borboleta num casulo.
Ele balança a cabeça, ainda sorrindo.
- Você me vê assim o tempo todo.
Me aproximo e aponto um dedo, quase encostando em seu nariz.
- E é exatamente por isso que eu não quero ver isso no treinamento. Eu quero que vá lá e mostre pra todos o grande herói que você é.
De repente Hitoshi pisca e fica olhando no fundo dos meus olhos com uma expressão meio perdida. Finalmente ele diz:
- Ainda não sou um herói.
Baixo minha mão e a encosto em seu ombro.
- É. Pra mim é.
Imediatamente depois de pronunciar aquelas palavras uma parte do meu cérebro entrou em curto circuito. Meus neurônios pareciam correm por todo lado loucamente, gritando sem parar coisas como : " Você não fez isso!?", " Você disse isso mesmo em voz alta pra ele?! PRA ELE?!" e " Retira o que disse, retira o que disse, retira o que disse".
Mas a outra parte pedia pra essa toda desesperada falar a boca. Ele era só meu amigo. Eu tinha dito aquilo totalmente sem segunda intenção. Né?
Vi ele ficar um pouco vermelho, mas tentei ignorar isso pra eu mesma não surtar.
- Poxa, obrigado - Ele põe a mão novamente no pescoço- Mas você é a verdadeira heroína aqui. Afinal, tudo o que eu sei é graças a você é ao professor Aizawa.
Volto ao meu estado brincalhão novamente e puxo uma das extremidades da fita.
- Valeu, mestre bajulador. Mas o curso de heróis não vai facilitar pra você. Então continua a praticar o uso desse treco estranho.
Ele puxa a fita de volta.
- Olha quem fala. Você luta com um chicote. É praticamente a mesma coisa.
- Não é!- digo e coloco as mãos na cintura - Pergunta pra professora Midnigth. Ela me ensinou muita coisa sobre como usar ele de forma adequada.
- Então me mostra - Ele diz e se afasta.
Eu sabia que aquele era um sinal para lutarmos. E, naquele momento, era daquilo que eu precisava pra esquecer o constrangimento e a confusão de antes.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora