Capítulo 22

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Assim como fiz pouco depois de chegar no aeroporto em Otheon, eu saí correndo assim que saímos do avião.
Eu sabia que estava sendo estúpida, mas eu tinha que saber se meus amigos estavam bem. E acima de tudo, o que a Luna estava fazendo...
Segundo o noticiário, os alunos feridos tinham sido levados a um hospital próximo, que ficava a uns trinta quilômetros do aeroporto. Então assim que eu desemboquei na rua, eu meio que peguei emprestada uma moto que estava parada ali em frente e sai dirigindo sem a menor prática ou medo de morrer em velocidade máxima até lá.
Assim que eu cheguei lá, eu literalmente larguei o veículo de qualquer jeito na calçada, abri com um estrondo as portas do hospital, cruzei a recepção e bati com força no balcão onde uma enfermeira olhava abismada pra mim.
- Onde está Luna Aizawa?!- questiono, recuperando o fôlego.
A enfermeira continuava a me encarar assustada, mas então eu sinto uma mão em meu ombro e me viro abruptamente.
- Ei, calma - fala Kirishima com uma voz tranquilizadora - Ela foi uma das que ainda não acordou. Eu e os outros estamos esperando ali- ele aponta pra onde uma pequena multidão composta pelos meus colegas de classe cochichava entre si.
Consigo respirar fundo e assentir.
Kirishima me guia até uma cadeira e me passa um copo de água.
- Parece que você ficou sabendo do que aconteceu.
- É. Eu vi no jornal na volta pra cá- encaro minhas próprias mãos, meio taciturna- Quem mais está internado?
- A Yaomomo, o Midorya, a Hagakure, a Jiro e grande parte da turma B - responde Mina pela primeira vez sem o costumeiro ar de animação em sua voz.
Ela franze a testa.
- Mas como sabia que a Luna estava internada?
Eu não podia contar pra eles sem o consentimento dela. Sendo a Luna, eu sabia que ela teria sido a primeira a tentar fugir e então pensar melhor e correr em direção ao perigo. Então, claro que eu sabia que ela estava internada. Eu só não compreendia o porque eles levaram só o Bakugo. Porque também não a levaram? Essa pergunta estava me deixando cada vez mais nervosa, e eu não sabia se queria ouvir a resposta.
Eu também sabia que assim que acordasse, ela tentaria ir atrás do Bakugo. Aqueles dois estavam sempre competindo um com o outro, mas eu tinha certeza de que na primeira oportunidade ele iria salva-lo. Porque, provavelmente, era pra ela estar no lugar dele.
Apenas balançei a cabeça e não respondi à pergunta.
Não sei quanto tempo se passou, mas parecia que eu estava fazia uma eternidade naquela sala de espera, só olhando pra parede, quando um médico baixinho apareceu com uma prancheta e anunciou:
- A srta. Aizawa acordou. Ela pode receber visitas agora.
Todos na sala se levantaram em uníssono e começaram a cruzar o corredor até uma porta no fim dele.
Luna estava na cama, olhando atrás da janela. Ela tinha uma das asas completamente enfaixada e uma perna quebrada, além de diversas marcas de cortes e queimaduras. Ainda assim ela sorriu ao nos ver.
- Oi pessoal!
Uma profusão de abraços e aclamações se seguiu, mas eu esperei até que todos falassem com ela e saíssem da sala pra eu me pronunciar.
Nesse meio tempo eu tinha me sentado em uma cadeira ao lado de sua cama e estava lendo uma revista do hospital.
Levantei os olhos quando Kirishima, sendo o último a sair, fechou a porta atrás de si.
- Você pediu pra ele nos deixar a sós né?- minha amiga pergunta depois de um instante.
Fecho a revista e suspiro.
- É. O Kirishima vai voltar depois. Ele me disse nesse meio tempo que queria conversar com você.
Faço uma pausa e depois continuo.
- É agora não é?
Ela baixa o olhar e passa a mão no cabelo.
- Eu não sei o que fazer se não isso. É a única forma de salvar o Bakugo e manter todos salvos. Mesmo que seja por um tempo.
Ergo a cabeça e pisco sob a luz da lâmpada extremamente branca acima de mim, tentando afastar as lágrimas.
- Tem que haver algum outro jeito...
- Não, Anami, não tem - Luna reforça e pega em minha mão- Você não entende? Vocês todos vão morrer se eu não for àquela a se sacrificar!
Cerro os olhos e trinco os dentes. Ela estava sendo tão, mas tão teimosa.... mas eu sabia ser mais.
- Nós podemos planejar algo! Tirar o Bakugo das mãos deles E te deixar viva. Nós podemos engana-los apenas fingindo a sua morte e todo mundo vai sair bem dessa...!
Então minha amiga me dá um tapa na cara. Abro os olhos surpresa, sentindo a marca no meu rosto começar a arder.
- Você está falando bobagem! Não vê que não tem outro jeito? - Ela balança a cabeça- Esse é o fim da linha pra mim.
Ela ia ter que enfrentar tanta coisa. O seu passado, o seu legado, o seu destino... E ainda assim ela insistia em fazer aquilo pelo bem de todos e se sacrificar...
Então eu começo a sentir o meu rosto ser marcado pelas lágrimas e eu finalmente me entrego a elas.
- Mas que droga! Como eu te odeio agora!- enfio a cara no colchão a minha frente - Eu te odeio! Eu te odeio!
Ela coloca a mão em minha cabeça e eu consigo ouvir ela sorrir.
- Eu também me odeio muito agora. Pode acreditar.
Ergo a cabeça e limpo as lágrimas com as costas da mão, encarando minha amiga que parecia completamente em paz com tudo aquilo.
- Me promete uma coisa?- ela me pergunta após um instante em que ficamos apenas nos encarando - Promete que vai ser a heroína número um por mim?
Balanço a cabeça e dou uma risada seca. Era impressionante o quão ela conseguia se manter calma diante de tudo aquilo.
- Eu adoraria que você mesma pudesse fazer isso- digo e dou um sorriso triste - Mas parece que não vai rolar né?
- Nem ferrando.
Secretamente eu prometi pra mim mesma que faria o que pudesse pra evitar sua morte. A Luna ia viver. Ela ia se tornar a heroína número um. E não importava o que ela disesse, eu ia fazer de tudo pra garantir isso.
Nossa conversa foi interrompida quando Kirishima abriu a porta e franziu a testa.
- Eu estou atrapalhando alguma coisa?
Balanço a cabeça.
- Não. Nada.
- Ótimo- ele fecha a porta novamente atrás de si e anda até nós- Porque eu tenho algo a discutir com as duas.

O médico tinha sido bem exato quanto a Luna permanecer na cama. Mas assim que deu o horário em que Kirishima tinha pedido pra gente encontrar ele na entrada do prédio, ela pulou da cama e me arrastou pra fora do quarto, ignorando todos os meus últimos protestos.
Lá já estavam Kirishima, Todoroki, Momo, Midorya e o Iida discutindo entre si.
- ... Mas eu quero que saibam que se tiver a menor chance de qualquer um de nós se machucar, eu vou tirar todos de lá!- dizia Iida e eu queria muito falar que concordava com ele, mas eu meio que estava ali justamente pra impedir que alguém interferisse no que a Luna ia fazer e tentar impedi -la do mesmo jeito no final.
- Desculpa o atraso- digo e aponto pra minha amiga - Eu insisti pra ela descer a escada devagar.
Então o Todoroki explicou pra gente tudo que eles haviam discutido antes. Quando ele terminou, Luna disse imediatamente:
- A gente concorda com tudo - ela me lança um último olhar, como se querendo se referir que, na verdade, ela estava mentindo sobre a parte de "não se arriscar" - Vamos nessa.
Fomos até a estação de trem e, assim que nós sentamos todos uns de frente pros outros, eu sabia que não tinha mais volta.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora