Rainha Fantasma

Capítulo 47

Os heróis colocaram a maior parte dos alunos na linha de trás da luta. Mas, enquanto estávamos a caminho do tal hospital onde estaria a produção central de Nomus, o Fat Gum mudou a minha posição.
- Ghost, você irá acompanhar a Mirko e o Endeavor pra entrar no local - ele colocou uma mão em meu ombro- Posso contar com você pra isso?
Arregalei os olhos, perplexa. Mas então eu entendi o motivo de eu estar sendo colocada na linha de frente: eu podia localizar os Nomus por seus espíritos e até mesmo controla-los se eu precisasse.
- O Present Mic vai entrar no prédio com você e depois disso você segue com a Mirko, está bem?- ele continuou ainda me olhando com expectativa.
- Pode deixar - respondo, respirando fundo pra me acalmar.
O Kirishima tinha ficado junto da maioria dos meus amigos numa floresta mais além e o Fat iria cobrir a entrada principal do esconderijo da Frente de Libertação Paranormal e eu fui mandada da agência direto pro campo em frente ao hospital.
Assim que eu cheguei lá eu localizei o Present Mic na multidão de profissionais.
Ele deu um sorriso tímido ao me ver e colocou uma mão em meu ombro.
- Nós vamos por fim nisso tudo de uma vez por todas- ele disse. Eu sabia que ele e o professor Aizawa também ficaram mau depois de saber o que aconteceu com meu irmão e que, assim como eu, queriam dar o troco em quem quer que tivesse feito aquilo.
- Se eu achar o tal doutor, eu vou joga-lo da janela mais alta desse prédio- respondo com um sorriso. Eu era gentil na maior parte do tempo, mas podia ficar bem sombria quando mexiam com as pessoas que eu amava.
- Eu não deveria, mas eu aprovo a ideia- o professor continuou e piscou pra mim, depois acenou com a cabeça a um ponto a frente de nós - Nós vamos procurar o doutor, você e a Mirko vão localizar e entrar no laboratório.
Segui o olhar dele e a vi acenando pra nós. Eu era muito fã dela então trabalhar com minha idola era muito legal apesar da situação que iríamos enfrentar.
- Vejo que eu vou ter o prazer de ter uma parceira dessa vez- ela disse quando nós alcançou e piscou pra mim- Normalmente eu trabalho sozinha, mas fico feliz que tenha que fazer dupla com você.
- O prazer é todo meu Mirko- digo e respiro fundo, erguendo uma das mãos e passando a enxergar no mundo espiritual. Passei o olhar pelo hospital e me permiti adentrar em camadas mais profundas do prédio. No fim de um corredor eu consegui sentir uma série de energias muito juntas e aparentemente inertes - Localizei alguns deles num corredor a leste. Provavelmente é a entrada do esconderijo ou uma rota alternativa que leva até lá.
Mirko riu.
- Você é boa, garota- ela ergueu a cabeça pra ver os heróis que se reuniam na porta do hospital e depois se voltou pra mim - Acho que chegou a hora de votarmos pra quebrar.
Assenti e tentei relaxar.
- Vamos nessa.

Pra nos adiantarmos do grupo que entrou pela entrada principal, eu fiz eu e Mirko atravessar algumas paredes até chegarmos próximas do nosso destino. Quando eu tornei nós duas sólidas ela olhou ao redor e tocou em si mesma, impressionada.
- Cada vez mais você está me surpreendendo- ela disse e começou a correr pelo corredor. Comecei a seguir ela com um pouco de atraso.
- Obrigada - respondo - Daqui a três esquinas é provável que tenhamos companhia.
- Isso significa que vamos ter que botar pra quebrar!
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo com os outros heróis na outra ala do hospital nem no chalé em Gunga onde eles iam invadir a sede da Frente de Libertação Paranormal, mas esperava que tudo estivesse correndo bem e que nossa viória estivesse garantida.
Mais a frente nós chegamos no corredor que eu tinha localizado. Ve-lo ao vivo foi assustador, mas eu apenas engoli em seco e ergui os punhos.
- Pessoal- disse Mirko no comunicador que ela usava - Parece que temos companhia.
O corredor estava lotado de Nomus gruinindo, escalando as paredes, e agitando os braços pra gente.
Mirko pulou no meio da multidão deles, mas eu fiquei onde estava, paralisada. Se houvessem muitos deles entupindo a entrada, gostaríamos energia de mais dando porrada neles pra chegar até o laboratório  onde ficava a produção central deles. 
Então eu comecei a flutuar no meu estado de plasma, começando a sentir energia elétrica pulsar por mim.
- Eletromagnetic pulse!- exclamei erguendo as mãos até localizar todos os Nomus num raio de oito quilômetros pelo corredor e um pouco além e fisgando todos eles. Em seguida abri os braços e todos eles foram atraídos pelo meu campo, meio zangados e confusos, e então atirados pelas duas paredes laterais do corredor pelas salas há vazias do hospital e pra fora dele, sendo atingidos pelos detritos da construção no processo e ficando mais fracos.
Já no fim do corredor, Mirko se virou pra olhar pra mim através do espaço agora vazio. Ela estava boquiaberta.
- Se prepara- digo sorrindo pra ela e erguendo a mão- Eu vou te arremessar lá pra dentro. Quebra o que conseguir.
Então ela assentiu e sorriu determinada.
- Vai lá!
Senti de novo o pulso elétrico passar por mim e me concentrei na energia da heroína a minha frente e na minha própria, propulsionando nós duas pelo corredor e até onde ele desembocava: um laboratório enorme cheio de computadores, fios e os milhares grandes recipipientes guardando Nomus.
Quando chegamos lá, eu voltei ao meu estado normal e observei o cenário a minha volta com um misto de terror, nojo e raiva. O corpo do meu irmão já estivera em um daqueles grandes aparelhos, sendo torturado e modificado de corpo e mente, assim como milhares de outras pessoas. Eu ia por aquele lugar a baixo de qualquer jeito.
Então eu ouvi um barulho metálico de algo quebrando e vi que Mirko já começara a fazer aquilo. A frente dela havia um senhor baixinho olhando aterrorizado.
- Ei, acho que encontramos o original!- disse ela, pegando pela gola do jaleco.
Quando ela pronunciou aquilo, eu andei calmamente até eles, ergui o punho e dei um soco com toda a minha força naquele banca.
- Isso é por ter detonado meu ano na escola- disse e depois tornei minha mão plasma e atravessei ele - E isso é pelo que fez com o meu irmão- então eu concentrei a conditibilidade elétrica só na minha mão e eletrocutei ele, observando de um jeito meio maníaco ele se contorcer.
Pra minha surpresa aquele cara teve uma reação ainda não maníaca. Ele começou a rir e a apontar pra alguma coisa as nossas costas.
- Vocês heróis não vão ter chance alguma contra Tomura Shigaraki. E menos ainda contra os meus High Ends!
Me virei bem a tempo de ver um Nomu encapuzado e de olhos brilhantes se atirar na minha direção. Consegui me tornar plasma no último segundo e não sofrer dano com o ataque.
Olhei pro lado, mas a Mirko não estava mais ali. Ela tinha ido atrás de outros três Nomus modificados e o doutor tinha sumido.
Xinguei baixinho. Não só porque eu tinha perdido o maluco como também pelos High Ends. Eu tinha ouvido falar deles depois da entrevista com Kuroguiri: eram Nomus que possuíam consciência e maior resistência, assim como o monstro em que meu irmão tinha sido transformado.
Cerrei os punhos e me lancei contra o que tinha me atacado, conseguindo soca-lo e fazendo -o recuar. Mas ele riu e começou a falar com uma voz fragmentada:
- V-você j-á er-ra!
Então ele veio de encontro a mim feito um jato e me prendeu contra o monitor do computador mais próximo, as mãos deformadas ao redor do meu pescoço, tentando me sufocar.
Comecei a lutar pra respirar, tentando desesperadamente pegar o chicote no meu cinto. Até que a Mirko se aproximou num borrão de movimento e deu um chute na cara do monstro que me prendia, finalmente me libertando.
- Tudo bem aí?- ela perguntou ainda em pleno movimento.
- Sim- respondi recuperando o fôlego e me lançando pra ajudá-la.
Mas eu não consegui alcança-la. Meus pés ficaram colados ao chão por uma espécie de gosma negra produzida por um dos Nomus e eu estava lutando pra me libertar daquilo, mas nem em estado de plasma eu conseguia atravessar aquilo. Então eu não tive escolha a não ser ficar ali tentando me libertar, enquanto eu via Mirko ser cercada pelos High Ends. Ela estava se saindo bem, mas logo começou a ficar em desvantagem e, segundos antes de nocautear eles, um de seus braços foi arrancado.
Parei de tentar de soltar quando vi aquilo e meu estômago se revirou, a raiva ardendo mais intensamente dentro de mim.
- Mirko!!- gritei, começando a sentir meu corpo tremer, mas eu não liguei pra aquilo.
Ela me deu um sorriso tímido, e deu um chute astronômico no último Nomu de pé. Depois andou até mim e destruiu o material agora sólido em que eu estava presa com outro golpe.
- S-seu braço...- comecei a dizer, e então balançei a cabeça, dançando uma tira do meu uniforme e enrolando o cotoco com ele. Dei um no bem forte e engoli em seco- Você está bem?
Ela riu e inclinou a cabeça.
- Melhor impossível garota!- ela usou a mão restante pra bagunçar o meu cabelo - Obrigada pela preocupação, mas temos coisas mais importantes com que lidar.
Então ela apontou pra um receptáculo atrás de mim e eu pulo assustada quando percebo o que estava dentro dele: Shigaraki, imerso em um líquido azul e conectado a vários tubos.
- A gente vai destruir essa coisa né?- perguntei.
- Tirou as palavras da minha boca - disse Mirko e sorriu de lado pra mim - A gente bate com força no três.
Respirei fundo e ajeitei os dedos no soco inglês. Ergui os punhos e me preparei.
- Um- sussurrei e as duas deram uma pancada no receptáculo que começou a rachar.
- Dois- disse Mirko quando demos um segundo golpe e o líquido borbulhante dentro daquilo começou a vazar.
- Três!- nós duas praticamente berramos e demos um golpe final.
Tudo o que aconteceu depois que o vidro rachou aconteceu tão rápido que eu mau tive tempo de absorver. Um tonel de água caiu em cima de mim e com o canto do olho eu pude ver alguém entrando naquela sala.
Como em câmera lenta, as tubulações, o vidro quebrado, o chão, os computadores próximos e todo o resto começou a rachar e a virar pó diante dos meus olhos.
Então uma mão me pegou pelas costas do meu uniforme e me arrastou pra fora dali em um jato de fogo, enquanto eu observava tudo ao redor se reduzir a cinzas enquanto eu saia do prédio e caia rolando num terreno gramado.