Capítulo 33

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Os dias que se passaram até a missão de resgate foram avassaladores.
Nós não podíamos comentar nada com ninguém e também não podíamos voltar aos estágios ou fazer perguntas aos profissionais até que o escritório do Sir Nigtheye nos desse mais informações.
Mas eu descobri que, diferente da pressão causada pela possibilidade de eu ser a traidora, aquilo estava me afetando muito mais. Eu comecei a me ver distraída e repentinamente furiosa com qualquer coisa. Então pra não levantar suspeitas, eu passei a mão falar com outras pessoas a mão ser que fosse muito necessário, sob a desculpa de que eu estava ocupada. Assim eu me tranca a no quarto e passava o dia lendo, tentando esquecer que havia uma garotinha em algum lugar esperando pra ser salva e que, naquele momento, eu não podia fazer nada a não ser esperar.
Eu estava tentando reprimir todos aqueles pensamentos, quando a porta do meu quarto foi aberta com um estrondo e o Kirishima entrou, sem mais nem menos, carregando uma sacola enorme.
- Tá legal Annie, você vai sentar naquela cadeira- ele aponta pro lugar em frente a penteadeira - e eu vou pintar o seu cabelo.
Pisco surpresa pra ele.
- Kiri, mas o que...?
- Olha eu sei que tá difícil pra todos nós ter que aguentar até os profissionais fazerem alguma coisa - ele diz, agora o tom de voz mais baixo - E como eu sou seu parceiro no estágio, você é uma das únicas com quem eu posso vir falar dessas coisas sem parecer estranho. Então...- ele ergueu a sacola e voltou a sorrir - eu pensei que isso fosse te animar um pouco.
Era incrível o quão contagiante era sua energia. Eu consegui sorrir de volta pra ele e olhei dentro da sacola. Nela haviam pelo menos três caixas de tinta pra cabelo, pincéis, toucas, luvas, um secador se cabelo, uma bacia e vários potinhos.
- Legal só ...- balanço a cabeça- Porque pintar o cabelo?
Ele deu de ombros.
- É meio uma terapia pra mim e...- ele apontou pro meu - Eu achei que você também fosse topar isso.
Ergo uma das mechas azuis do meu cabelo e rio meio sem graça.
- Na verdade meu cabelo é assim naturalmente- faço uma pausa e me sento na cadeira que ele indicou- Mas eu meio que já pensei em pintar o restante dele de um azul mais claro só pra ver como ficava.
Um sorriso enorme surgiu em seu rosto e ele tirou da sacola uma caixinha de tinta azul.
- Legal! Então eu posso fazer?
Faço que sim com a cabeça e instantaneamente ele meio que montou um setor de cabeleireiro no meu quarto.
- Onde você aprendeu a mexer nessas coisas?- pergunto, impressionada.
Ele da de ombros enquanto mecha com um pincel a tinta num dos potes.
- Eu meio que me virei sozinho- ele virou minha cabeça pro outro lado e começou a prender vários grampos no meu cabelo - Pra fazer isso no meu cabelo.
- Então seu cabelo não é naturalmente vermelho?
Ele da uma risadinha e coloca o rosto ao lado do meu, encarando a nós dois pelo espelho.
- Não. Meu cabelo é preto, na verdade. Mas o vermelho fica bem melhor.
- Concordo - respondo, sorrindo de volta pra ele.
O tempo pareceu passar muito mais rápido enquanto nós conversávamos e eu deixava o Kirishima mexer no meu cabelo. Em algum momento passou pela minha cabeça que eu talvez fosse me arrepender daquilo, mas então eu pensei que a tinta ia sair de qualquer jeito depois então eu estava disposta a correr o risco de deixar ele terminar.
Depois de ele enxaguar o meu cabelo, secar e passar uma escova com uma precisão profissional, ele virou a minha cadeira de volta pro espelho da penteadeira.
- E aí?- ele perguntou se sentando na beirada da minha cama e me encarando com um sorriso.
Abri a boca mas não consegui dizer nada. Eu tinha ficado o retrato exato do meu irmão na época da escola, segundo as fotos que eu tinha visto. E tanto a cor quanto o penteado que ele fez tinham ficado muito bons em mim. Tão bons que eu não sabia se eu estava chorando de alegria, de tristeza ou de ansiedade.
- Eu adorei Kiri - falei e virei a cadeira pra encarar ele - Fique ciente que você vai arrumar o meu cabelo na formatura, tá bom ?
Ele se levanta e me abraça.
- Pode deixar- ele faz uma pausa e inclina a cabeça- Você está melhor mesmo?
Consegui reprimir as lágrimas.
- Sim. Eu só...- baixo o olhar e suspiro - Eu tô tão parecida com meu irmão que assusta um pouco.
Ele arregalou os olhos.
- Isso é ruim?
Faço que não é dou risada.
- Não, não é. Nem de longe.

Então, no dia seguinte, todos recebemos uma mensagem em plena madrugada que nos dizia pra nos prepararmos para a incursão.
Encontrei com a Uraraka, o Midorya, o Kirishima e a Asui no pátio, ainda meio grogue de sono, mas trocada e arrumada em tempo recorde.
Quando esfreguei os olhos vi que todos ainda estavam de pijama.
- Acho que eu exagerei um pouco- disse me espreguicando um pouco.
- Nem um pouco- disse Midorya com um sorriso fraco - Eu estou trocado por baixo do pijama.
- Eu estou meio nervosa pelo que vamos enfrentar, mas feliz em poder ajudar- disse Uraraka esfregando as mãos uma na outra.
Coloquei uma mão em seu ombro e sorri pra ela.
- Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Nós vamos salvar a Eri.
Então seguimos pra casa onde haviam localizado os Oito preceitos da morte e nós juntamos a multidão de heróis que só estavam esperando um sinal para entrarem na casa.
O plano era tentar uma entrada formal para termos o menor número de baixas, já que não sabíamos se a Liga estava ou não envolvida. Esse também era o motivo para não quererem nós, alunos atuarmos, então toda precaução era necessária.
A polícia também estava lá e, por causa disso eu tomei a precaução de ficar meio escondida. Ou melhor, eu estava meio que embaixo da capa do Tamaki.
O Koichi tinha se envolvido em maus bocados com a polícia na época de vigilante e podiam ou não ter algumas fotos de baixa resolução minhas como procurada por aí, então eu resolvi evitar que a polícia me visse.
E a melhor parte foi que meu amigo não achou estranho. Eu não tinha tanta ansiedade que nem ele, mas ainda assim ele entendeu que era por isso que eu estava me escondendo e não falou nada.
Respirei fundo. Estava na hora de agir.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora