Capítulo 20

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Na manhã seguinte eu fiz como Koichi me pediu e fui a sua casa. Mas quando eu cheguei, só a Kazuho estava lá, igualmente sem saber o que ele estava planejando.
Não sei quanto tempo eu passei esperando até ele chegar, mas assim que ele entrou pela porta com uma mala de viagem eu não soube o que dizer.
- Pra que isso?- pergunto, surpresa.
- Você disse que não queria ir pro acampamento de verão porque isso te faria suspeita não?- faço que sim e ele sorri - Então eu combinei com seus pais que eu ia te levar pra uma viajem do estágio.
- Viajem do estágio?- pergunto, achando aquilo um tanto ridículo.
- É. Nome tosco. Mas seus pais concordaram - diz Kazuho vindo por trás de mim.
Me viro pra ela e estreito os olhos.
- Então você sabia disso?
- Aham- ela me abraça por trás- Nós três vamos pra Europa !
Fico tensa e animada ao mesmo tempo.
- É sério?
- Nós temos uma amiga que esta trabalhando numa agência por lá, então vamos ficar na casa dela - diz Koichi e se senta ao meu lado - Pros seus pais você vai estar estudando com uma autora famosa. Mas na realidade, só estamos levando você pra curtir um pouco.
- Você já se esforça muito. Precisa relaxar um pouco- diz Kazuho - Sei que todos os seus colegas vão estar treinando, mas você já rala muito nos treinos antes mesmo de entrar na U.A.
- E isso não te impede de querer treinar- diz Koichi e me passa uma espécie de o panfleto de itinerário - Essa amiga tem contatos na agência transnacional do Capitan Celebrity por lá,  então podemos arranjar um treino com a equipe dele se você quiser.
Folheio as páginas do bloquinho em minhas mãos. Basicamente, ele marcava pontos turísticos diversos.
- Pra onde nós vamos exatamente?- pergunto sentindo uma euforia sem igual tomar conta de mim.
- Pra uma cidadezinha em Otheon.
- Quando nós vamos?
Koivhi olha pra tela do celular e seu sorriso se alarga.
- Daqui a uma hora o nosso avião sai.
Kazuho fica branca e se levanta de um salto.
- Espera, eu não sabia que você tinha comprado as passagens pra tão em cima da hora!
E então ela sai em disparada juntando várias coisas e resmungando consigo mesma. Koichi me passa discretamente a mala que ele tinha em mãos.
- Passei na sua casa antes. Seus pais já fizeram sua mala. Só da uma ligada pra eles, tá legal?
Sorrio de volta e agarro a alça da mala com expectativa.
- Tá bom.

A viajem de avião foi resumida no Koichi dormindo, a Kazuho assistindo romances e eu conseguindo terminar o meu livro.
Meus pais ficaram felizes em eu me divertir um pouco nas férias. Então depois de uma despedida cheia de preocupação, uma hora esperando no aeroporto e uma pequena briga entre Kazuho e uma das aeromoças que tentou dar em cima do Koichi, finalmente embarcamos.
Finalmente o avião estava pousando e minha animação aumentava. Mas assim que saímos pra pegar as malas, minha expectativa de passar alguns dias tranquilos na Europa foram pro ralo.
Eu, Koichi e Kazuho fomos os primeiros a chegarmos às esteiras, e assim que as malas começaram a aparecer, uma por uma, dava pra ver que todas haviam sido abertas.
- O que está acontecendo?- perguntou Kazuho pegando sua bolsa e olhando dentro dela. Parecia praticamente vazia - Alguém está roubando nossas coisas!
Assim que ela disse isso um caos geral se instalou nos demais passageiros, que começaram a discutir isso meio raivosos.
Comecei a analisar com cuidado o conteúdo restante que passava pela esteira e percebi um pequeno passarinho cor de rosa tentando se esconder de baixo se um maiô solto por aí.
- Ei- digo e estendo a mão, acompanhando o movimento da esteira - Tá tudo bem amiguinho?
O passarinho apenas piscou pra mim e piou indignado.
- Certo. Amiguinha então?
Dessa vez ela saiu de seu esconderijo e veio pousar na minha mão, me analisando atentamente.
Pra falar a verdade eu nunca tinha visto um bichinho assim. Eu já tinha ouvido falar de animais que adquiriram alguma individualidade ou coisa do tipo, mas esse não parecia exatamente o caso. Ela parecia diferente. A energia que emanava dela não era como a de um animal, mas como a de uma pessoa. Só que ainda assim não era bem isso...
Um barulho soou na esteira de bagagem e um garoto saiu rolando de lá, carregando uma série de pertences. Provavelmente fora ele quem estava abrindo as bagagens e roubando as coisas de lá.
- Ei, atrás dele!- gritou um homem perto da esteira e praticamente toda a multidão do aeroporto se voltou instantaneamente contra ele.
Todos menos eu.
Fiquei apenas paralisada, olhando aquele garoto se esquivar com habilidade das pessoas enquanto se dirigia pra sai da mais próxima. A mesma energia que eu sentia no pássaro na minha mão eu sentia nele. Era como se estivessem conectados. Mas enquanto o animalzinho parecia temeroso, o garoto parecia não ter um pingo de vergonha na cara de dizer que era o responsável por aquela bagunça.
Então eu comecei a correr atrás dele. Uma das vantagens de ser uma turista baixinha era saber passar pelos mesmos cantos da multidão que ele estava usando pra fugir. Então foi até que fácil seguir o rastro de energia que o começava com a criaturinha em minhas mãos.
Porém, assim que estava longe o bastante da multidão, eu já estava correndo na rua, e não mais no aeroporto. E, como eu não conhecia o lugar, logo eu o perdi de vista quando ele virou uma esquina e eu desemboquei numa rua sem saída.
Olhei pra cima. Haviam vários tijolos soltos na parede a minha frente, o que significava que ele poderia ter escalado e estar percorrendo a cidade pelos telhados agora, como Koichi me ensinou a fazer. Só que eu só sabia fazer isso estando no estado fantasma e eu não estava a fim de me apresentar nua pra Otheon.
Eu pensei em desistir, mas então me lembrei que tinha uma carta na manga.
Fechei os olhos e me concentrei na energia que agora me era tão familiar. Não tinha certeza se ele apareceria aqui, praticamente do outro lado do mundo, mas não custava nada tentar.
- Me chamou irmãzinha?- disse a voz de Oboro e eu sorrio quando percebo que deu certo.
Ou mais ou menos. Sua figura parecia mais transparente e borrada, como se estar longe de mais de seu corpo fizesse seu contorno ficar indefinido.
- Acha que consegue me fazer flutuar?
Ele ergueu as mãos e uma nuvem pequena, mas sólida, se formou a minha frente. Ele esticou a mão e me ajudou a subir, começando a controlar nosso pequeno veículo pra cima com velocidade.
- Só me diz pra onde- ele fala começando a seguir pelos telhados.
- Segue aquele cara - digo, apontando pra ponta dos cabelos castanhos que eu podia ver atrás de uma antena.
Em alguns segundos, meu irmão conseguiu avançar o suficiente pra eu alcanca-lo. Ele não era só rápido, mas um ótimo manobrista, mas pode se dizer que meu irmão também o é.
- Ei!- digo assim que estávamos quase imediatamente acima dele.
O garoto olha pra trás e para quando não vê ninguém.
Faço um gesto pra Oboro baixar a nuvem e eu fico cara a cara com o outro menino, que arregala os olhos, surpreso.
Ele fica ainda mais surpreso assim que o passarinho em minhas mãos pia indignado pra ele.
- Pino! Onde você...?- ele começa a perguntar e então olha pra mim com cara de espanto - Me devolve ela. Agora.
Pisco surpresa, mas não tenho coragem de dizer nada, apenas estendo a ave em minhas mãos pra ele e ele a abraça com força, derrubando todos os ontem a roubados que carregava nas mãos.
- Nossa e isso são modos de falar com uma garota?- meu irmão retruca por mim.
Fico ainda mais surpreendida quando ele vira a cabeça pra encara-lo.
- Pino é parte de mim. Roubar ela é a mesma coisa que me matar.
- Então o assassino aqui é você, batedor de carteiras - digo apontando pra todo o material que ele deixou cair no chão- E eu não roubei ela. Ela se perdeu na esteira e eu te segui pra devolve-la.
Balanço a cabeça e desço da nuvem, me arrependendo no mesmo instante, porque minha postura inquisitiva foi pro espaço assim que percebi que era bem mais baixa que ele.
- Eu entendi que ela é parte de você- inclino a cabeça- Minha individualidade me permite isso. Mas vem cá, como você tá vendo ele?- pergunto apontando pro meu irmão.
Ele abre a boca pra falar e só então parece perceber que havia algo de errado com Oboro.
- Espera ele é...?
- Um fantasma- respondo por ele - Eu posso controlar almas, então posso ve-lo e ouvi -lo. Mas, normalmente, outras pessoas não o podem se eu não permitir isso.
Acho que ele ficou chocado de mais pra simplesmente ir embora e me esquecer.
- Acho que talvez a Pino sendo parte da minha alma me permita ve-lo. Mas...- ele balança a cabeça.
Um instante de silêncio se instaura até ele erguer a mão pra mim.
- Eu sou o Rody. Rody Soul.
Aperto a mão dele e sorrio.
- Anami Shirakumo.
Não sei porque confiei nele pra dizer meu nome real. Mas alguma coisa na sua expressão me dizia que eu podia confiar nele. E se não, eu podia controlar a Pino e faze-lo guardar segredo por chantagem.
- Obrigado, Anami- ele diz e a expressão brincalhona estampada em seu rosto até agora se dissolveu - Gerlamente as pessoas só correm atrás de mim me chamando de ladrão.
Pego uma pulseira de pérolas que ele deixou cair e a ergui pra ele.
- Ladrão você é. Mas creio que todos têm um motivo pra fazer o que fazem.
Ele sorriu tristemente.
- Se todos pensassem igual a você, acho que a minha vida não seria a droga que ela é agora- ele pega a pulseira de mim e a coloca ao redor de Pino, que pareceu ficar contente com o presente - Eu vendo essas coisas pra conseguir dinheiro pra sustentar meus irmãos mais novos.
Aquilo me fez simpatizar com ele. Se estivesse em seu lugar, acho que eu faria o mesmo.
Sinto a mão leve de Oboro em meu ombro e compreendo que ele também pensava igual. Afinal, ele podia estar morto, mas ainda fazia de tudo pra  cuidar de mim do jeito que podia.
- Só não seja pego garoto - meu irmão diz e olha pra mim- Consegue descer?
Olho pra baixo da beirada do telhado do prédio em que estávamos. Eram no mínimo treze metros até o chão. Engulo em seco e faço que sim com a cabeça.
Meu irmão ergue uma sobrancelha pra mim.
- Tem certeza?
- Sim.
- Eu posso ajuda-la- Rody me diz - Afinal você teve o inconveniente de subir até aqui pra falar comigo. Eu insisto em ajudar.
Oboro sorriu e se aproximou de mim pra dizer:
- Esse aí tá aprovado.
E então ele desapareceu sem que eu entendesse o que ele queria dizer com aquilo.

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