Capítulo 54

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A saída da escola até que foi tranquila.
Digo, pra uma expedição de alto perigo, nós estávamos bem tranquilos.
E com nós eu queria dizer, a classe 1-A. Porque um pouco antes de nós sairmos, Hitoshi ficou me observando encostado no no batente da porta do meu quarto enquanto eu terminava de colocar os equipamentos do meu uniforme.
- Você sabe que não precisa ficar aí né?- pergunto ajeitando o meu chicote na cintura.
- Me promete que vai ficar bem?- ele rebate. Estava visivelmente preocupado, as olheiras sob seus olhos mais escuras do que o normal.
- É claro- respondo e sorrio - Nós só vamos buscar o Midorya e vamos todos voltar são e salvos pra escola.
Ele se aproxima e põe uma mão em meu rosto, o polegar pairando o buraco distoante da minha órbita vazia.
- Você tem certeza se que vai conseguir ir mesmo com isso?
Pego a mão dele e sorrio.
- Estou aprendendo a usar isso ao meu favor.
E aquilo era verdade. Eu tinha passado o restante do dia de ontem treinando comandar as abelhas da Abelha Rainha para levantar pequenos objetos. Tinha conseguido fazê -las até mesmo me erguer e me locomover, mas algumas delas ainda pareciam um pouco confusas ao cumprir as ordens. Provavelmente porque pela primeira vez, a rainha era a hospedeira.
Me inclino pra beija-lo e encaixo os óculos do meu uniforme.
- Vai dar tudo certo- asseguro - Eu prometo.

Gostaria de não ter dito aquilo pra ele. Porque estava dando tudo errado.
Nós conseguimos achar o Deku, mas ele estava se recusando na marra a vir conosco porque "era perigoso de mais". Então agora nós estávamos obrigando ele a vir à força.
E nisso, metade da classe A estava no chão ou fora derrotada de alguma forma.
- Ghost!- a voz de Todoroki me chama e eu avanço para o meio da coluna de gelo que ele produzira.
Me concentrei e fiz o enxame que eu controlava me erguer e saquei o chicote.
- Deku por favor !- digo desviando dos detritos do gelo quebrado e arremessado ao nosso redor - Eu mais do que ninguém sei como isso é perigoso! Isso só vai te machucar mais!
O chicote negro dele explodiu e uma das pontas me atingiu e me arrastou pra longe.
- Opa!- diz Luna em pleno ar me agarrando pelos ombros - Ele não tá querendo conversa mesmo.
- Espero que a Uraraka e o Bakugo consigam- respondo - Só faltam eles dois.
Não conseguia olhar pra ela enquanto ela me pousava em um telhado, mas sabia que ela estava sorrindo.
- Ele vai. Nós vamos.
Nossos amigos continuavam sendo arremessados enquanto tentavam convence-lo a voltar pra U.A.. Fechei os olhos e me concentrei pra fazer as abelhas subirem com mais intensidade e força, em seguida, instruindo-as a ir atrás do Midorya enquanto o Bakugo o seguia.
Eu senti quando uma delas conseguiu ir até ele e enfiou o ferrão nele. Aquilo era meio bizarro, mas uma onda de alívio de invadiu. As abelhas da Abelha Rainha não podiam morrer com uma picada, mas
injetavam substâncias em quem elas atingissem. No caso, a Recorvery Girl encheu os abdômens dessas abelhas com remédios de todo tipo, incluindo anestésicos.
O que significava que o Midorya apagaria daqui a uns segundos.
- Ele vai apagar não vai?- perguntou Todoroki, que estava ao nosso lado observando a conversa dos meninos lá embaixo.
- Daqui a uns minutos ele vai cair no sono - respondo e me viro pra ele - Shoto, me desculpa eu não poder te ajudar com o seu irmão antes. Eu... Eu percebi que havia algo de errado com a energia dele e mesmo assim eu não fiz nada...
- Você não tem culpa nenhuma nisso, Anami - ele me interrompe.
- Eu quero ajudar- respondo e tengo sorrir pra ele - Porque desde aquele dia eu quero mostrar pro Dabi que na verdade o inferno é frio.
Ele pisca e franze a testa.
- Como você consegue frases tão boas em qualquer momento?
- Ela é o Sócrates da U.A - Luna responde e coloca uma mão em meu ombro.
- Eu também vou ajudar a destruir o seu irmão- digo pra ela e dou de ombros - É que o negócio com o Dabi ficou pessoal.
Ela abre a boca pra perguntar alguma coisa, quando eu levanto a manga do meu uniforme e mostro pra ela a cicatriz da queimadura que eu adquiri depois da batalha contra o Exército de Libertação Paranormal.
- Eu fui uma das que conseguiu chegar mais perto dele.
Ela pisca surpresa.
- O Shinsou sabe disso?
- Ah não- digo e abaixo a manga - E estou torcendo pra ele não ter que saber disso por um tempo. Porque se ele souber ele me tranca no meu quarto e não me deixa fazer mais nada.
- Ele se preocupa muito com você- comentou Todoroki.
Dou de ombros.
- Ele sabe ser superprotetor quando quer.
- Você também- responde Luna com um sorrisinho - Ah. Vocês são mesmo almas gêmeas.
- E você foi falar com o Bakugo?- perguntei vendo ele e o Midorya surpreendentemente se abraçando.
Ela desviou o olhar pra cima.
- Não né?- responde vendo que ela ficou em total silêncio- Mas você vai precisar. E se não fizer isso, eu vou pegar a máscara do Hitoshi  de novo pra reconciliar ambos.
- Por favor não- ela responde e da uma risadinha- Tudo menos isso.

Quando voltamos pra escola, o Midorya acordou e eu tive um pequeno deja-vu quando o 13 nos recebeu.
Mas a sensação de lembrança passou assim que os civis começaram a reclamar quanto ao fato de deixar o responsável pelo ataque da Frente de Libertação Paranormal ficar na U.A.
Assim que eu comecei a ouvir os comentários eu senti meu estômago embrulhar. O motivo pra eu não ser lá muito sociável com todos, era porque eu sabia que as pessoas podiam ser muito más as vezes. Por isso eu me dei muito bem com o Tamaki quando o conheci. Eu sabia como a pressão social podia ser realmente esmagadora. Por isso eu só me tornava realmente aberta e sociável como meu irmão com aqueles em que eu confiava. E aquilo ficou ainda pior depois da batalha contra a Frente de Libertação Paranormal.
Então eu não sei o que deu em mim, mas eu me ajoelhou no chão, abraçando a mim mesma, a cabeça baixa. Aqueles comentários começaram a entrar no meu cérebro e a ficar ali ecoando. Não importava que não fossem dirigidos a mim, eu senti sua pressão como se fosse.
Fechei os olhos com força, tentando me concentrar apenas na minha própria respiração, quando sinto braços fortes me envolverem e alguma coisa tapar meus ouvidos.
Olho pra cima. Era Hitoshi, com um abafador de orelhas ridículo, mas muito bem vindo. Me encostei nele enquanto ele me erguia e me levava pros dormitórios, pra longe dali.
Nos sentamos no sofá da sala de estar vazia e eu tiro o abafador e me encosto nele, podendo sentir as batidas do seu coração.
- Você tá legal?- ele me pergunta.
- Eu nunca tive tanto problema com pressão social. Mas agora...
- Entendi- ele começa a enrolar uma mecha azul do meu cabelo nos dedos - Aquele cara com quem você fazia estágio, Tamaki, veio me procurar depois que você saiu - ele ergue o abafador - Foi ele quem pediu pra eu te dar isso.
Tamaki. É claro. Como alguém que teme a pressão social desde sempre ele tinha ideia do pior que poderia acontecer. Eu era muito grata a ele.
- Ele entrou na lacuna de irmão mais velho desde que eu parei de falar com o Oboro.
- Você voltou a falar com ele?- Toshi continua.
- Sim- respondi- Agora que o Kuroguiri tá sendo controlado pela polícia não tem mais medo de ele deixar vazar alguma informação da escola.
- Mais alguém sabe?
Dou uma olhada ao redor e faço que sim com a cabeça.
- Se a Luna tiver espalhado, todo mundo.
- Espera, sério?- ele me pergunta e arregala os olhos meio surpreso.
- É- digo e suspiro- Eu contei tudo pra ela e pedi pra ela falar pros outros antes de parar de usar o telefone
- Isso explica o porque não me atendeu nem respondeu às mensagens- ele deu uma risada- Com certeza deve ter milhares delas quando você abrir o celular.
- Você tá atrasado campeão- disse Yugoo se sentando a nossa frente e começando a ler um livro- Ela arremessou o aparelho de um prédio. Não tem mais volta.
Ergui o olhar e o vi me olhar boquiaberto. Então eu ri e balançei a cabeça.
- Todo mundo tem uma fase rebelde.
- Graças a Deus que ela também não raspou o cabelo- comentou Yugoo e eu joguei uma almofada nele. O vi sorrir antes do seu rosto sumir atrás do livro de novo.
Por mais estranho que parecesse, eu não tinha preocupação alguma naquele momento. O mundo podia estar desabando, mas estando ali, isso meio que não era a minha primeira prioridade. O que me deixou meio chocada, porque autopreservação não era o meu forte no momento.

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