Capítulo 52

11 0 0
                                    

Assim que eu me aproximei da escola, foi como se o mundo se apagasse pra mim.
Eu via o Yugoo me guiando pra frente e a heroína 13 me recebendo no portão. Ela estava falando alguma coisa pra mim, mas eu não estava com cabeça pra aquilo. Eu só fiz que sim com a cabeça pra tudo e agradeçi, entrando entorpecida no domínio da escola.
Lembro de ver várias figuras ao meu redor conversando entre si, mas tudo era um borrão. A minha consciência só voltou quando os braços de alguém me envolveram, e minha cabeça captou um vislumbre daqueles cabelos roxos que me eram tão familiares....
E que agora eram um pesadelo, trazendo as memórias que até agora eu me obriguei a reprimir.
- Anami! - disse Shinsou se afastando um pouco pra me olhar nos olhos, as mãos ainda nos meus ombros- Você está bem? Por onde você esteve! Eu fiquei preocupado quando soube que...
Engoli em seco com dificuldade e me permiti atravessar ele, as lágrimas começando a arder em meus olhos.
- Agora não Hitoshi- sussurro e saio correndo até a área dos dormitórios, vagamente consciente de Yugoo vindo atrás de mim e pedindo desculpas pra todos que eu atropelava no caminho.

Me tranquei no meu quarto, fugindo de tudo e todos.
Os últimos momentos do incidente ecoavam na minha mente agora como um enxame de abelhas. Aquilo doia. Doia de mais...
- Tá legal Anami- disse uma voz vinda da janela- Se não quer falar com ninguém, pelo menos deixe alguém falar com você.
Ergo o olhar. Sorrindo pra mim do parapeito estava Luna. A cicatriz em seu olho brilhando subitamente como um fio de prata.
- O que foi que aconteceu?- o sorriso desapareceu por um segundo- Você conseguiu saber algo do Deku enquanto estava fora?
- Não- respondi, finalmente recuperando minha voz - O que aconteceu com ele?
A preocupação dentro de mim de repente ficou maior. Eu pensava que todos estavam na U.A agora. Mas parecia que eu estava errada.
- Ele fugiu também- ela se sentou ao meu lado - Por causa do One for All, pra "Nós não sermos feridos por isso"- ela balançou a cabeça frustrada e suspirou - Achávamos que vocês podiam estar juntos.
- Não soube nada dele- disse, a voz menos que um sussurro.
Minha amiga coloca uma mão em meu ombro.
- Me diz então, porque você voltou?
- Eu...- balanço a cabeça- La fora não é seguro. Tá pior do que parece.
Ela joga a cabeça pra trás e estica as asas. Depois se volta pra mim com um olhar furiso e me dá um soco no nariz. Levei a mão ao rosto apenas assentindo. Tava demorando pra aquilo acontecer.
- Disso todo mundo sabe! E não é por isso que você devia ficar por ai dando uma de vigilante!
Ela faz uma pausa antes de se recompor e continuar.
- Mas digo... Porque de repente você entra e ignora até mesmo o cara que você gosta?
Baixo o olhar pra minhas mãos trêmulas.
- Na verdade tem dois motivos. O primeiro... bom....Como É que eu explico...É....- suspiro e levo a mão até o meu rosto, onde eu tiro o olho de vidro da órbita esquerda.
Luna arregalou os olhos e parecia pensar se me abraçava ou me dava outro soco.
- Aí meu Deus! Você também ficou caolha!?
- Mais ou menos- digo e franzo a testa. Eu não queria deixar ninguém preocupado comigo, mas a Luna era insistente e eu sabia que ela não sairia sali até eu contar tudo.
Então foi isso que eu fiz. Eu contei pra ela sobre a Abelha Rainha e que o Koichi achou melhor que eu ficasse na U.A pra monitorar isso.
- Isso é nojento e assustador- Luna comenta, fazendo uma careta- Mas que bom que você dominou isso.
- É. A Pop me arranjou com o cara o olho de vidro só pra não ficar estranho.
- E o porque do drama com o Shinsou que eu vi lá na entrada...?- ela continuou.
Mordi o lábio e respirei fundo antes de responder a isso.
Quando contei a ela que a mãe dele havia falecido no acidentes que eu não consegui salvar ela e que agora eu sequer conseguia olhar pra cara dele sem me culpar, um silêncio pesado se abateu sobre nós.
A Luna sabia como era passar por momentos bem difíceis de se enfrentar, mas pela primeira vez, ela não parecia ter uma resposta pra aquilo.
O momento foi quebrado por uma batida insistente na porta, que logo foi arrombada por força bruta.
- Ei! Me disseram que você tinha vindo magoada, você está bem?
Kirishima entra no quarto meio segurando a porta que ele mesmo acabou de arrebentar.
- Eu não sei - respondo mas não consigo conter um sorriso ao ve-lo. Desde o meu estágio, o Kirishima tinha se tornado um dos meus amigos mais próximos e a energia dele sempre me punha pra cima - Mas obrigada.
Balanço a cabeça.
- Digo, por se importar. Não por destruir a minha porta.
- Ah foi mau aí- ele responde tentando ajeitar a porta, em vão, de volta nas dobradiças - Aliás, o Shinsou tá lá embaixo. Ele disse que queria falar com você.
Assenti e respirei fundo.
- Acho que eu não vou poder deixar ele esperando pra sempre.
- Ei- fala Luna me balançando de leve- Isso não foi culpa sua. Você fez tudo o que pode.
- Mas isso vai mesmo ser o suficiente pra ele não me odiar?- respondo, me levantando e encolhendo os ombros.
- Olha eu entrei no meio da conversa, mas sabe - fala Kirishima abrindo um sorriso largo-, você é a pessoa mais próxima daquele cara, acho que na escola inteira. Então se tem alguém que ele é capaz de perdoar, essa é você.
- É isso que eu espero- respondo e me viro pra descer as escadas.

Ele estava sentado em frente da janela, o rosto apoiado nas mãos, o olhar perdido. Ele parecia distraído, mas eu podia ver a tensão em seus ombros.
- Toshi...- disse e ele se virou abrupadamente pra me encarar - Me desculpa eu....
Ele se levantou e colocou uma mão em meu rosto, me analisando com atenção.
- Você está bem mesmo?
Eu jurei pra mim mesma que ia me controlar. Mas falhei miseravelmente e comecei a sentir as lágrimas escorregarem em minhas bochechas.
- O que está acontecendo?- ele insiste com a voz suave - Sabe que pode me contar qualquer coisa.
Então o meu testemunho jorra como um rio da minha boca. Eu nem sequer pauso pra respirar. Eu só segui dizendo tudo até ter terminado, não tendo coragem nem por um minuto de olhar ele nos olhos.
Quando eu terminei eu não sabia bem o que eu esperava, mas ele só me abraçou com força.
- Eu sinto muito Hitoshi...- disse, minha voz menos que um sussurro.
- Não- ele diz, a voz um pouco embargada - Você não tem culpa. Você é uma heroína. Você foi incrível.
Ele se afasta um pouco e eu posso ver que estava se segurando pra não chorar.
- De verdade- ele estende a mão e ajeita uma mecha do meu cabelo atrás da orelha- Eu sou mais que grato a você. Por isso e por mais um milhão de coisas.
- Mas eu podia ter feito mais!- digo frustrada por ve-lo daquele jeito - Eu podia ter salvo ela! Eu podia...
E então ele diminui a distância entre nós e me beija fazendo eu perder as palavras.
Eu podia sentir o gosto das lágrimas, mas se as minhas ou as dele eu não sabia dizer. Eu só me afundei naquele momento, deixando as batidas do meu coração sincronizarem com as dele. Deixando todo o meu pesar e minha tensão se dissolverem.
- Você é maravilhosa e incrível. Mas as vezes não podemos controlar o destino - sinto ele sorrir de encontro a minha bochecha, sua respiração roçando em meu pescoço- Só podemos seguir em frente e focar nas coisas boas que vierem. E, pra mim, ter você aqui e bem já é o suficiente.
Rio fracamente.
- Sério?
Shinsou se afasta um pouco e sorri.
- Você ainda tem alguma dúvida?
Rio novamente com ele.
- Ei- aponto com a cabeça pra trás- Você sabe que todo mundo viu a gente né?
O olhar dele sobe pra alguém atrás de mim e depois volta a me encarar.
- Eu não ligo- ele se inclina e fala mais baixo - Mas se forem te encher o saco, eu mando eles enfiarem a cabeça na privada.
Começo a rir mais intensamente, porque era o Kirishima quem estava atrás dele e ele estava dando pulinhos por aí, comemorando e se segurando muito pra não gritar. Yugoo e Luna também nos observavam a uma determinada distância, os dois com expressões praticamente idênticas de orgulho.
- Tudo bem - digo e seguro sua mão- Só... você podia ir comigo na Recovery Girl pra ver direito esse negócio no meu olho? Porque segundo a minha irmã, a essa hora era pra eu estar pirando completamente e até agora nada. Mas eu não sei se isso é efeito da lavagem cerebral que pareceu botar o parasita pra dormir ou sei lá.
- Claro, claro - ele diz meio apressado e me guia até a enfermaria.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora