Capítulo 50

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- Ghost, onde você está?!
Eu podia ou vir a voz do Yugoo no meu comunicador, mas eu a ignorei e apenas continuei me esquivando dos detritos que caiam por toda a parte.
- Me diz que você não foi fazer nada idiota- ele continuou, a voz claramente irritada- Você foi né?
- Salvar o cachorro não é idiota!- retruquei, deslizando pela abertura das portas destruídas momentos antes do prédio inteiro desabar.
Olhei na rua ao redor até achar os donos do cãozinho que eu carregava e o entreguei de volta a eles.
Depois eu comecei a ver no âmbito espiritual pra me certificar de que o prédio tinha sido completamente evacuado. Tinha acabado de voltar a ver ao normal quando senti uma mão em meu ombro e agarrei o pulso de quem quer que fosse com força.
- Relaxa, sou eu- disse Yugoo se soltando do meu aperto.
- Você tem que parar de chegar por trás de mim- digo, ajustando o equipamento de escalada no meu cinto e tirando o gancho retrátil do meu cinto, atirando em seguida.
- Não vai rolar- Meu amigo me disse sorrindo de lado e fazendo uma garra enorme saída de algum lugar das suas costas o impulsionar pra cima ao mesmo tempo que eu me joguei por cima do telhado da construção inteira mais próxima.
- Já faz um tempo que estamos fazendo isso, e sua individualidade ainda me da pesadelos - falei enquanto corriamos pelos telhados e analisavamos a área embaixo.
- Você é a última que pode falar alguma coisa.
Rolo os olhos e o olho de esguelha. O uniforme de Yugoo se resumia a um macacão preto colado e uma máscara que cobria o nariz e a boca. Ele também tinha várias facas enfiadas em um cinto de armas e provavelmente em alguns outros lugares do corpo que eu preferiria não conhecer.
A individualidade dele foi denominada como "demônio" pelos médicos, então foi assim que ele a chamou quando a explicou pra mim na nossa primeira patrulha oficial. Resumidamente, ele podia transformar o seu corpo em um monstro saído do inferno ou apenas uma parte do seu corpo em um membro correspondente da criatura. Nunca o vira se transformar completamente, mas ele também não parecia gostar de fazer isso porque só as partes que ele mostrava já eram assustadoras o bastante.
Depois que eu resolvi não voltar pra U.A o Koichi e a Kazuho começaram a dividir patrulhas específicas pra eu e o Yugoo fazermos pela cidade. Basicamente, salvavamos as pessoas de acidentes mais graves e dávamos o fora o mais rápido que podíamos. A fé nos heróis tinha sido destruída e, por mais que só quiséssemos ajudar, ficar muito tempo e se envolver significava ser julgado pela população ou até mesmo ter que enfrentar alguns deles que tinham coragem o suficiente pra nos atacar.
Com o tempo eu me acostumei com o sarcasmo e humor variável do meu parceiro e ele com a minha depressão e ideias malucas. Formação um bom time apesar de tudo.
- Pra onde agora?- ele perguntou quando eu fiz uma pausa pra olhar o meu celular. Eu tinha quebrado o meu antigo pra ninguém da escola vir me procurar ou perguntar o que eu estava fazendo. Então mandei uma última mensagem pra Luna explicando tudo, antes de quebrar o chip ao meio e jogar o aparelho de um prédio. O que eu usava agora era um reserva do Koichi que só tinha o contato dele mesmo gravado.
- Um hospital de clínica geral aqui perto- disse- Parece que tem três homens bomba. A Pop já está lá e o Koichi a caminho.
Ele assentiu e alongou os braços.
- Melhor a gente ir rápido então.
Três patas enormes saíram das suas costas, como as pernas de uma aranha e ele estendeu a mão pra mim.
- Eu não vou subir em você- digo.
- Engraçadinha você viu- ele estreitou os olhos e bufou- Eu ia te segurar pelo cinto de escalada.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ele se ergueu e começou a correr que nem uma aranha desgovernada, me pegando pelo cinto no caminho e me levando pendurada.
- Odeio quando você faz isso!- grito contra o vento. Ele não respondeu mas eu pude ouvir ele rindo consigo mesmo.
A minha rotina tinha passado a ser aquilo. Eu passava a manhã e a tarde todas todos os dias em patrulha e fazia as refeições na casa do Koichi, sempre discutindo notícias de novos ataques de vilões. Eu tinha parado de falar com meus amigos na escola, mas provavelmente agora eles todos já deviam saber do porque eu não voltei pra escola. Pedi a Luna que disesse isso a eles. Também contei pra ela sobre o Oboro, coisa que o próprio professor Aizawa não fizera e pedi pra ele falar da parte de ele ter provavelmente rondado a U.A e se lembrado do que viu só pro Midorya.
Eu não fazia ideia do que o Deku estava fazendo àquela altura, mas eu sentia que devia isso a ele e pelo que eu sabia dele.
Só esperava que eles estivessem bem.
Chegamos ao pátio do hospital em alguns minutos e Yugoo me colocou no chão.
- Eu vou ajudar a Pop a evacuar o prédio. Você e o Koichi tentam localizar as bombas- digo e corro pra entrada do prédio. O lugar estava um caos. Médicos e enfermeiras tiravam os pacientes em pior estado do lugar. Outros pacientes corriam em pânico pelo lugar. Uma recepicionista em pânico me pegou pelos ombros com força e me encarou nos olhos, assustada.
- Por favor você tem que ajudar a tirar os pacientes dos andares superiores. O prédio inteiro vai desabar!
Sorri gentilmente pra ela e segurei suas mãos.
- Pode deixar. Continue coordenando a evacuação aqui embaixo, ok?
Ela assentiu enfaticamente e começou a fazer o que eu pedi.
Entrei no estado fantasma e atravessei o teto, subindo até o último andar que era o mais caótico. Aparentemente alguma coisa já explodrira ali e havia um buraco enorme no teto e rachaduras pelas paredes. Assim que comecei a percorrer o corredor eu vi que uma sala inteira tinha sido detonada e que havia sangue por suas ruínas. Devia ter sido ali que um dos homens bomba se explodiu.
Engoli em seco e continuei.
- Como estão as coisas aí?- perguntei pra Yugoo pelo comunicador.
- Pegamos um deles- ele respondeu- Faltam dois.
- Um- corrigi- O outro explodiu no último andar.
- Droga!- ele soltou mais uns palavrões antes de continuar - Então a estrutura do prédio está pior do que pensávamos.
- Vou agilizar as coisas aqui - digo, parando em frente a uma sala de UTI que ainda estava cheia. Uma médica de cabelos roxos parecia estar tentando tirar todos dali.
A mulher me pareceu vagamente familiar, mas eu não prestei muita atenção naquilo. Eu estendi as mãos e captei as energias de todos os pacientes ali. Estavam sob meu controle. Então instrui que aqueles que pudessem se levantassem e corressem pra sai da mais próxima.
- Yugoo me dá uma mãozinha com os pacientes que estão descendo agora- digo e me volto pros pacientes debilitados de mais pra levantar sob meu controle.
- Consegue me ajudar aqui?- perguntei a médica quando comecei a erguer uma garotinha que parecia sob o efeito de anestésicos.
- Claro - ela disse balançando a cabeça e ignorando a surpresa da minha presença. Então ela ajudou um homem com uma das pernas amputadas.
A mulher me seguiu pelo corredor até as escadas, onde havia uma coleção de garras abertas esperando ali feito cadeiras móveis.
- Você também é um caranguejo?- pergunto pro meu amigo entregando a garotinha a ele.
- Quantos faltam?- ele perguntou, ignorando meu comentário.
- Havia outras pessoas naquele andar?- perguntei pra mulher ao meu lado.
- Além de mim mesma, tem mais um garoto internado no setor Sul.
- Eu ouvi - Yugoo disse- Mas eu não tenho como alcançar aí.
- Vou chamar o Oboro então- respondo a ele, e depois à médica- Eu cuido disso, vá pra um lugar seguro.
Eu já tinha começado a avança e pelo corredor me concentrando pra invocar meu irmão quando ela me pegou pela manga da camisa.
- Obrigada pelo que está fazendo- ela sorri- Mas eu quero ajudar. Eu sei como chegar lá mais rápido.
Abri a boca pra protestar quando notei o nome em seu crachá. Drta. Shinsou. Hitoshi tinha me contado uma vez que seus pais eram médicos, mas eu nunca chegara a conhecê-los. Agora eu sabia porque ela me parecera tão familiar.
- E-eu não posso deixar a senhora se arriscar- digo.
Então ela sorriu carinhosamente pra mim.
- Estando com você, acho que não corro risco algum.
Suspirei e aceitei a ajuda dela. Então ela me guiou por um corredor lateral e por uma série de salas meio destruídas pela explosão até uma ala cheia de escombros e com o chão instável.
- Oboro- sussurro e a figura do meu irmão se materializou no meu lado, olhando com olhos arregalados pro corredor.
- Saquei - ele disse e ergueu as mãos. Um vapor fino cobriu o chão e pareceu se solidificar.
Me virei pra minha companheira e estendi a mão.
- É seguro, confie em mim.
Ela me seguiu meio hesitante, mas logo estávamos correndo de novo até chegarmos a um quarto de residentes onde havia um garoto uns cinco anos mais novo que eu, agarrado assuatado aos lençóis da cama.
Fui até ele e me ajoelhei a sua frente. Então eu sorri e estendi as mãos pra ele.
- Vai ficar tudo bem, eu vou tirar você daqui.
Ele me abraçou hesitante e assim que o peguei no colo uma explosão soou em algum lugar abaixo de nós e a sala inteira tremeu, concreto caindo em cima de mim.
- O terceiro se explodiu também!- Yugoo gritou no meu comunicador- Annie você tem que sair daí agora!
Estava prestes a responder quando um armário de remédios a frente tombou e todo o conteúdo estilhaçou no não. Consegui me virar pra proteger o garoto mas alguma coisa me atingiu no olho esquerdo. Senti uma pontada naquele local e cerrei os dentes, suportando a dor e a ignorando, focando no que eu deveria fazer em seguida.
- O-oboro- consigo dizer e vejo que ele já tinha feito uma plataforma de nuvem. Coloquei o garoto ali - Leva ele pra fora daqui.
Em instantes a nuvem começou a se mover, meu irmão a guiando pela janela mais próxima. Eu sabia que aquele menino estaria são e salvo no chão em segundos.
A doutora que ficara me observando do batente da porta veio até mim a passos apressados e ergueu meu rosto pelo queixo, analisando o ferimento no meu olho.
- Céus, você não precisava ter se arriscado tanto eu poderia...- ela começou mas eu a interrompi.
- Eu vou ficar bem. Agora você tem que sair daqui...
O piso sob nos rachou e começou a ceder. Então a parede atrás de nós, assim como um pedaço inteiro do chão caiu e revelou a cidade mais além.
-...agora!- grito de repente - Doutora me desculpe, mas eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse a alguém da família de um amigo.
A mulher me deu um sorriso ao ouvir aquilo. Mais uma das placas do chão despencou, insustentável, e agora estávamos praticamente na beirada.
- E eu menos ainda de alguma coisa acontecer com uma amiga de meu filho- ela colocou uma mão em meu rosto e limpou um fio de sangue que escapava do meu olho- Me prometa que cuidará dele por mim?
Arregalei os olhos e fiquei boquiaberta.
- N-não, o que...
Então eu pareço perder o controle da minha mente. Eu continuava vendo-a e ouvindo-a mas não conseguia mais me mover ou responder. Era como se minha mente estivesse sendo controlada...
Porque estava. A individualidade dela era a lavagem cerebral. Mas esse poder nunca funcionara em mim antes. Porque agora? Porque justo agora?
- Você é uma heroína brilhante- ela continuou dizendo quando o chão cedeu sob nossos pés, prestes a despencar - Eu confio que irá proteger o Hitoshi por mim.
E o assoalho sob o qual pensávamos finalmente cedeu, e nós caímos.
Mas alguma coisa fez com que eu me agarrasse a um metal de suporte enquanto a mulher que estivera cara a cara comigo desaparecia abaixo de mim.
Eu queria gritar, espernear, fazer qualquer coisa pra sair do transe e salva-la. Mas nem a pressão do ferro escorregando da minha mão me libertou da lavagem cerebral.
Só recobrei o controle de mim mesma quando minha mão soltou o metal e eu me vi em queda livre. Pude entrar em estado fantasma segundos antes de atingir os escombros do prédio e então perder a consciência.

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