Capítulo 67

0 0 0
                                    

Naquela noite eu tinha que resolver mais duas coisas não terminadas. As nove horas eu tinha a festa de formatura do ex terceiro ano. Eram sete da noite e eu deveria estar no dormitório me arrumando, mas ao invés disso eu estava com meu antigo uniforme de vigilante andando pelas ruas e observando as pessoas passando, voltando pra suas vidas normais depois da guerra.
Não foi difícil achar o Koichi. Tanto eu quanto ele costumávamos patrulhar sempre que estamos com a cabeça cheia por qualquer que seja o motivo. E ele sempre vai pra uma rua específica, pra observar as ruas de cima de um prédio específico.
Ainda era estranho voltar a usar a individualidade fantasma pra flutuar constando que se eu passasse tempo demais naquele estado eu talvez não conseguisse voltar, mas eu ignorei aquilo apenas naquele momento e subi até o telhado do edifício a minha frente.
Koichi estava ajoelhado na beirada e não pareceu notar minha presença quando eu me materializei de volta atrás dele. Ele olhava fixamente pelo parapeito lá pra baixo, parecendo perdido na própria mente.
Dou dois passos pra frente e encaro a noite diante de nós.
- Faz muito tempo desde que eu não via as estrelas- comento sem ter coragem de encara-lo.
Koichi vira a cabeça lentamente pra mim é sorri fracamente.
- Acho que faz muito tempo que nenhum de nós olha pra cima.
Me sento ao lado dele, as pernas balançando pela beirada, sem saber por onde começar.
- Me desculpa por hoje mais cedo- digo depois do que me pareceu uma eternidade inteira, um no enorme na minha garganta- Eu não deveria ter ficado furiosa com você eu deveria estar feliz de que você realmente é um profissional. E não só aqui, mas lá fora também.
- Anami...- ele começa a me responder mas eu continuo falando.
- Você batalhou tanto pra conseguir se tornar um herói e eu só não pensei nisso porque  eu sou uma egoísta!- engulo em seco e sinto as lágrimas arderam em meus olhos- Quando não importa se você é um vigilante ou um profissional, você continua sendo meu maior exemplo pra tudo. Você é o meu herói.
Finalmente eu me viro pra encara-lo e vejo que ele também parece estar tentando não chorar na minha frente.
- Eu é que te devo desculpas- ele responde a voz rouca de emoção- Você merecia a verdade, mas eu senti no começo que não era do eu profissional que você precisava e eu só não achava o momento certo pra te contar- ele põe uma mão no meu ombro e sorri- Mas quero que saiba que eu tenho muito orgulho de quem você se tornou Annie. Você vai tornar esse um mundo brilhante, eu tenho certeza.
Meu corpo se moveu antes de eu perceber o que eu estava fazendo. Só percebi que eu estava o abraçando forte quando ele retribuiu o gesto e eu enfim desabei. Não tinha percebido o quanto eu precisava daquele abraço até o instante.
- Obrigada por ser minha família Koichi- digo me afastando- Você a Kazuho sempre foram minha maior rede de apoio e eu sempre vou ser extremamente grata por isso.
- Ok, você vai me fazer chorar mais assim- ele me responde e da una risada fraca- Mas você é a irmãzinha que eu nunca tive. É claro que eu tenho um carinho enorme por você.
Então ele franze a testa pra mim e pega o celular checando as horas.
- Espera, você não deveria estar na formatura do terceiro ano?
Faço que sim com a cabeça lentamente.
- É mas eu só tenho que me trocar. Não vou demorar muito...
- Sim, mas a Kaz me mata se souber que você está aqui comigo- ele diz e se levanta- Vem, vamos voltar antes que ela me esgane por fazer você se atrasar.
- Mas eu que quis vir!- digo e começo a dar risada. A relação do Koichi e da Kazuho realmente era um exemplo muito grande pra mim de como as coisas podiam terminar bem no final. Eu amava aqueles dois.
- Tente explicar isso pra ela então Annie- ele suspira, mas eu consigo visualizar um pequeno sorrisinho surgir em seu rosto- Porque eu sei que ela vai me culpar.

Assim que eu entrei com o Koichi no apartamento dele, encontramos Kazuho de frente pra porta de braços cruzados e encarando a nós dois de maneira impaciente.
- Você vai fazer ela se atrasar!- ela diz pro Koichi e me puxa pelo braço até o quarto de visitas.
Nós ligamos pra ela explicando que a gente resolveu as coisas e estava vindo, mas ela ainda estava irritada com ele por me fazer me atrasar. Ele tinha razão.
Kaz separou um vestido preto  pra mim e assim que eu o vesti ela entrou no quarto com uma paleta de maquiagem gigante, me sentou em uma cadeira e começou a me maquiar.
- Obrigada por tudo Kaz- disse mesmo estando me repetindo- Você é a irmã mais velha que eu nunca tive.
Ela vira meu rosto pro lado pra passar base e sorri de lado.
- Se você repetir isso demais eu vou chorar Annie- ela se afasta pra conferir seu trabalho no meu rosto e pega a sombra- Agora fecha os olhos pra eu terminar.
Eu nunca gostei de me maquiar e etc, mas acho que é porque eu nunca tive um exemplo pra me guiar nessas "coisas de menina".
Acho que a Kaz passou uma meia hora me maquiando e logo eu estava de frente pra um espelho parecendo uma princesa ao invés de uma aluna do ensino médio extremamente acabada.
- Você realmente faz milagres Kaz- digo enquanto ela me abraça pelos ombros.
- Bobagem, você já é linda, eu só ressaltei o que está aí - ela me solta e se vira pra porta- Vou falar pro Koichi te levar e compensar o atraso.
Dou risada enquanto ela grita com ele pra me levar logo na festa. Algo extremamente normal pra quem passou por uma guerra dias antes.

A festa passou como um borrão. Eu não estava surpresa de quase toda a Classe A estar lá também e de ter ao mesmo tempo uma euforia gigante no ar e uma sensação de alívio pelo que todos passaram.
Acho que em algum momento eu fiz um discurso imenso pro Tamaki também o agradecendo por ter ficado do meu lado e pela oferta de adoção, que eu recusei apenas por não precisar dela pra o considerar minha família. E é claro por que querer ficar com o nome Shirakumo por causa do meu irmão agora vivo. Mas eu não lembro muito da conversa porque o resto da noite foi toda luzes, musica e risadas e tudo pareceu finalmente normal. Comum.
Tudo parecia estar entrando nos eixos. Não só as coisas na U.A, mas no mundo e na minha cabeça.
Mais do que nunca, eu me sentia pertencente aquele lugar, em meio aquelas pessoas. Eu finalmente me sentia uma heroína. E a maior de todas. Assim como meus amigos, meu irmão, o Koichi, a Kazuho, meus professores, todo mundo.
Porque essa é a história de como todos nós nos tornamos os melhores heróis. E esse fato é algo que ninguém pode negar ou tirar de nós.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora