Capítulo 68

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* 8 anos depois *

Depois de cinco anos no exterior era um pouco estranho voltar pra casa.
Após a minha formatura na U.A eu recebi uma proposta pelo Captain Celebrity pra estagiar nos Estados Unidos e é claro que eu tinha aceitado. Eu pude nesses anos ir de estagiária pra ajudante e pra heroína profissional em uma velocidade que até mesmo me assustava. Logo eu estava trabalhando lado a lado com o Koichi e o Rody pra conter a onde de crimes nos EUA.
Mas essa onda começou a cair drasticamente. Eu ouvia da Luna que cada vez mais o Hawks dizia que ele ficava mais "livre", já que havia uma supersaturação de heróis e cada vez menos vilões. Pelo menos no Japão, porque no mundo afora havia muitos novos vilões surgindo das cinzas espalhadas pelo Shigaraki e o All for One e cabia a gente incentivar a geração atual a não se afundarem nas sombras.
Não que essa fosse a primeira vez que eu volto. Eu fiquei esses anos indo e vindo pra visitar meu irmão, que agora tinha virado professor da U.A uma vez que o sonho dele era trabalhar com seus amigos e essa foi a forma que ele encontrou; eu também visitava Luna que agora era uma heroína independente como a Mirko; a Shizuka que tinha uma multinacional de design de equipamentos de auxílio para individualidades; e é claro que eu visitava o Hitoshi, não só porque ele era meu namorado e eu odiava a distância que meu trabalho impôs entre a gente, mas também pra ser mais uma admiradora do trabalho dele como herói profissional.
Na realidade pra admirar o trabalho de todos como heróis. A maioria da minha antiga classe de escola abriu agências independentes ou trabalha em conjunto com crianças e adolescentes nessa parte de inspirar a nova geração.
Ah e também tinha o Yugo que havia vindo me buscar no aeroporto.
- Porque você não veio de teletransporte?- ele me pergunta quando eu o encontro.
- Porque eu gosto de ser alguém normal de vez enquando pra variar- digo e estremeço- A habilidade do portal também me da calafrios.
Ele da de ombros e pega minha mala.
- Seu namorado podia ter vindo também.
- Ele trabalha de noite- digo e o olho de lado- Além disso, você que se ofereceu quando eu disse que vinha.
Yugo passa a mão pelo cabelo agora batendo nos ombros. Eu não sabia ao certo o que ele vinha fazendo. Depois da formatura ele simplesmente sumiu por três meses, voltou com um investimento bizarro em bitcoins, abriu uma escola técnica pra heróis com os fundos, vendeu ela em dois anos pra um herói qualquer e voltou a atuar como vigilante. Segundo ele, era porque era "mais divertido", mas acho que ele só não consegue ficar atado muito tempo a uma única coisa. Agora além de vigilante ele era auxiliar de Polícia em Kamino, o que era uma hipocrisia gigante.
- Você faz falta Annie.
Dou um empurrãozinho no braço dele.
- Vai continuar achando isso agora que eu fui transferida pra filial daqui?
Ele rola os olhos.
- Se você não me irritar sim.
Sorrio largamente enquanto ele abre a porta do seu carro pra mim e eu entro, sintonizando a estação de rádio.
- Pelo menos nós temos o mesmo gosto musical- Yugo fala quando eu entro e aumenta o volume- Bem vinda de volta ao Japão Rainha Fantasma.

Na manhã seguinte eu recebi uma mensagem um tanto quanto peculiar da Luna.
Luna: Vem pra agência do Kaminari as 11. É urgente!!!! Todo mundo vai estar lá.
Eu não sabia o que era urgente mas lá estava indo eu. Era estranho voltar a se encontrar com todo mundo ao mesmo tempo. Geralmente sempre alguém falta nesses encontros. Mas assim que eu entrei na agência, estavam todos lá. Ou melhor, todos menos o Midorya.
- Por essa eu não esperava- murmuro comigo mesma assim que Luna me vê e se atira na minha direção pra me dar um abraço.
- Anami! Que bom ter você de volta!
Logo ela não era a única ao redor de mim me abraçando e me fazendo perguntas sobre meu trabalho, meu irmão e sobre o que eu andava fazendo.
- Posso eu perguntar pra que tudo isso?- digo pra quem quisesse me responder.
- A Luna esqueceu de te mandar mensagem antes- pra minha surpresa era o Bakugo me respondendo, em um tom estranhamente calmo- Mas a gente pensou em reinteirar o Deku no time.
Ele me explica que eles encomendaram um uniforme tecnológico para fazer ele voltar a atuar como herói já que o One for All tinha esgotado as brasas. Eu sabia que o Midorya tinha decidido virar professor na U.A também porque parecia que ele e meu irmão tinham se tornado bons amigos e colegas de trabalho.
- Achei a ideia incrível!- digo e franzo a testa- Mas ele vai aceitar?
Bakugo baixa o olhar e da de ombros.
- Sinceramente, a gente espera que sim- então o tom calmo se esvai e ele começa a falar mais irritado- Afinal eu gastei muito dinheiro pra arrumar esse negócio. Se o ingrato recusar...
Luna começou o empurrar pra fora do grupo enquanto ele reclamava sozinho e eu não pude evitar sorrir. A relação dos dois melhorou e muito do ensino médio pra cá e muitas garotas ficaram decepcionadas quando o Bakugo pra afastar as fãs anunciou em rede nacional o namoro com a Luna. Acho que aquela cena estava gravada no meu celular só por prova de que aconteceu mesmo.
- Realmente vamos todos voltar- diz uma voz atrás de mim e eu me viro pra ver Hitoshi todo vestido de preto e sorrindo de lado. Seu cabelo agora também estava mais comprido e por mais que as pessoas dissessem  que o deixava mais parecido com o Eraserhead, eu achava que ele ficava um completo gostoso daquele jeito. E olha que eu não usava aquele adjetivo com frequência.
- É realmente bem nostálgico voltarmos a atuar juntos- digo e ele segura minha mão- Acha que agora as coisas vão ficar meio lentas pra gente? Por causa da diminuição de crimes aqui e tals?
Ele parece ponderar por um tempo.
- Olha acho que pra quem é de fora tudo está realmente ficando mais tranquilo, mas acho que é nesses tempos que há o surgimento de um vilão amargurado como o All for One.
Faço que sim e diminuo o tom de voz.
- La fora todo mundo só fala sobre isso. Mesmo eu tendo vindo pra cá, p mundo ainda está envolto em caos.
Hitoshi passa o braço ao redor dos meus ombros.
- O mundo sempre vai precisar de heróis. É bom estar em tempos tranquilos, mas isso não quer dizer que sempre vai ser assim.
Encosto a caneca no ombro dele. Ao mesmo tempo que aquela possibilidade me assustava, me deixava ansiosa pra ter um pouco mais de ação de novo.
Ficamos ali só um do lado do outro observando nossos amigos conversando, rindo e se divertindo como se tivéssemos 15 anos novamente.
- O que acha de adotarmos um gato?- pergunto enquanto minha mente divaga entre vários assuntos.
Hitoshi me encara com um sorrisinho.
- E se eu disser que eu já fiz isso e queria te fazer surpresa quando fosse me visitar?
Abro a boca pra responder, mas não encontro nada bom o suficiente pra responder e só balanço a cabeça.
- Você é cheio de surpresa às vezes.
- Às vezes?- ele ergue uma sobrancelha pra mim- Acho que eu tenho que melhorar mais as surpresas.
Rio e sorrio pra ele.
- Você já deu um nome pro nosso gato?
Hitoshi olha pros presentes na sala e depois pra mim.
- Não tive tempo pra isso. Você tem ideias?
- Vou pensar em alguma coisa- digo e sorrio comigo mesma.
Aquilo era tão normal e tão empolgante as mesmo tempo.
Não sei em que momento Luna pegou a minha mão e me levou pro meio da multidão da classe A conversando sobre o hoje, sobre nossos dias no ensino médio, e sobre o futuro e eu meio que me perdi nas conversas. Foi um daqueles momentos em que o seu corpo se mexe sozinho e sua consciência fica leve pra não lembrar de nada e tudo ao mesmo tempo. Porque as vezes é muito bom So ter esses momentos em que nada é tão memorável, porque geralmente as coisas ruins se gravam mais facilmente. É bom não ter que se preocupar e só... viver.

- Sabe eu ainda não me acostumei com a atualização do seu uniforme- diz Koichi caminhando comigo pelas ruas. Nós fomos colocados como dupla em patrulha, o que pra gente foi perfeito já que a gente já conhecia nossos estilos de luta.
- Pra falar a verdade, nem eu- digo. Meu novo uniforme era uma réplica do macacão da Midnigth mas com as cores invertidas, dois bastões em suportes nas costas mimetizando asas e um óculos de adaptação pra Abelha rainha, que hoje em dia eu  usava mais pra atendimento de primeiros socorros ou imobilização.
Aliás era bizarro a adaptação daquela individualidade com o tempo. Antes era como ter outra voz na minha cabeça lutando comigo. Agora era só mais uma sinapse inerente a mim e a um giro do olho de vidro.
Na realidade agora que a necessidade de uma patrulha de verdade era mínima a gente tinha mesmo ido tomar um sorvete e agora ia até um parque onde vira e mexe senhorinhas pediam a direção de algo ou crianças perigavam cair dos brinquedos. Coisas simples que a gente não precisava ser herói pra fazer, mas era o que tinha.
- Você ficou sabendo do informe da Tartarus?- Koichi me pergunta de repente. A Tartarus passava uma atualização anual sobre o estado dos vilões que sobreviveram à luta contra a frente de libertação paranormal e passavam tipo uma progressão de reintegração na sociedade.
Eu havia parado de le-los depois dos cinco primeiros anos. A maioria dos vilões ou não resistira muito tempo ou tinha ideais sólidos demais pra acreditar que o que fizeram contra os heróis foi algo ruim. Poucos conseguiram ser reintroduzidos.
Mas uma particularmente chamava minha atenção: Hari Sasaki. Aparentemente ela tentou fugir algumas vezes nos primeiros meses de prisão e depois passou a se comportar exepcionalmente bem. Uma parte de mim queria acreditar que era porque ela realmente decidiu dar uma segunda chance aos heróis e se redimir, mas eu não podia deixar de pensar que havia algo mais nessa história.
O desse ano por exemplo, relatava outra tentativa de fuga da parte de Hari que não acontecia a oito anos.
- Vi- digo e suspiro- Não sei se quero saber porque ela tentou fugir. Achei realmente que ela tentaria ganhar uma segunda chance.
- Sabe, eles te trouxeram pra cá porque você a conheceu- ele continua e põe uma colher gigante de sorvete na boca.
- Eu sei- respondo e olho pro parque, pras crianças correndo atrás uma das outras- Mas faz muito tempo que eu não tento compreender o que ela está pensando. Ela ficou completamente louca depois da guerra.
- E quem não?- Koichi parece parar pra pensar no que vai dizer em seguida- Mas assim, ficar tanto tempo assim encarcerado deve mudar a pessoa e ela já estava bem instável.
- Eu queria poder ter feito mais- admito. Ela podia ter me traído, mas fomos amigas uma época, como eu poderia só esquecer esse detalhe?- Ela merecia uma segunda chance. Ainda merece.
- Algumas pessoas só não a conseguem- ele me responde e se levanta de repente pra pegar um menininho que estava por um fio de cair do trepa-trepa.
Eu sabia disso mas mesmo assim eu queria poder visita-la, conversar com ela mesmo que ela não me ouvisse.
Mas eu já sabia que ela não ia querer nada vindo de mim. O que não me impedia de temer o motivo da sua fuga mais recente. Porque alguém passaria oito anos presa pra fugir só agora?
Balanço a cabeça pra afastar os pensamentos. Eu provavelmente não deveria me preocupar por antecipação. E se algo acontecesse, eu seria a primeira a saber.

Com certeza essa história não acabou. Mas não cabe mais a mim continua-la. Porque é pra isso que eu, a Classe A e todos do antigo curso de heróis estamos aqui: para inspirar a próxima  geração a ser melhor e sempre andar por aí com um sorriso brilhante.
Mesmo com vilões andando nas sombras, a Luz do Sol nunca vai morrer, e nem a Luz dentro de cada um de nós. Plus Ultra!

                                  *FIM*

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora