Capítulo 64

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Aos poucos, diversos poços de memória começaram a retornar e eu soube: o Bakugo ia acordar.
Mas eu não tinha tanta certeza quanto a mim. Eu me sentia cada vez mais fraca e esgotada, assim como incerta do meu estado como um todo. O que aconteceria se eu saísse da consciência do Bakugo esgotada daquele jeito? Eu me estatelaria finalmente morta no chão ou eu só sumiria no mundo das almas?
- Está dando certo- ele me diz, a voz tensa.
- Sim- respondo e sorrio, tentando tranquiliza-lo- Você vai voltar.
Ele sorri de lado pra mim.
- Acho que eu finalmente vou poder tentar superar o Deku.
Faço que sim com a cabeça. Eu por outro lado só conseguia ver no espelho central a imagem da luta do Deku com o Shigaraki que começava a ficar cada vez mais acirrada. Assim como um reflexo ao longe do All for One metendo um Allmigth todo de armadura na porrada.
- Vocês conseguem. Pra acabar com tudo isso de uma vez.
Eu sabia que era hora de sair dali e deixar o restante da luta nas mãos dos demais. Minha ajuda ali havia acabado.
- Detona tudo Bakugo- digo e começo a me arrastar pra fora da sua consciência.
Não escuto se eu tenho uma resposta, eu só pulo pra fora e o mundo pisca ao meu redor. Me sinto tremeluzir de leve e caio de joelhos no chão sólido, pontinhos pretos dançando na minha visão.
Ao meu lado, vejo o Bakugo se erguer e encarar o horizonte. Suas mãos estão cerradas em punhos e pequenas faíscas começam a se acender nelas.
- Pode deixar- ele diz com a voz extremamente rouca e se lança no ar com uma explosão enorme que me lança pra trás.
Meu estado podia não ser mais sólido e concreto mas eu ainda sentia o chão embaixo de mim perfeitamente. Então ainda doeu quando eu fui arremessada de encontro a um montinho de terra, mas eu não tinha mais forças pra me levantar dali.
- Está acabando, não está?- pergunto e vejo Oboro surgir ao meu lado mais uma vez.
- Espero que sim- a voz dele era distante e parecia vir de uma estação de rádio mau sintonizada- Você foi brilhante.
Tento sorrir pra ele, mas então percebo que sua imagem começou a desbotar e eu só consigo franzir as sobrancelhas.
- Oboro você... está sumindo?
Ele sorri largamente e parece piscar diante de mim. O cabelo azul da lugar a um roxo enevoado por um mínimo segundo.
- Estou tentando reassumir o controle. Mesmo que só um pouquinho.
Tento abrir a boca pra responder algo a ele mas não encontro nenhuma palavra. Só consigo encara-lo perplexa. Acho que eu estava tão acostumada com sua presença como fantasma que nunca pensei o que aconteceria se ele voltasse a controlar o seu corpo atuando como Kuroguiri. Nunca me ocorreu que ele pudesse enfim desaparecer para descansar em paz. Que eu nunca mais iria ve-lo.
- Não chore- ele me diz e segura uma de minhas mãos- Sorria. Sorrisos resolvem tudo no final, não é?
Então ele finalmente se esvai e tudo que eu vejo acima de mim é um céu azul limpo e uma sombra alada vindo em minha direção antes de eu fechar os olhos e voltar à escuridão novamente.

* Enquanto isso, a visão da Luna*

Assim que o Deku chegou eu parei de atacar o Shigaraki. Ele pode ter começado a crescer numa massa infinita de mãos visando a destruição, mas logo eles estavam muito distantes.
E foi aí que eu percebi que era inevitável: Ele teria que morrer pra vencermos. Acho que eu nunca tive uma consideração assim tão tremenda por ele porque, bom, ele tentou me matar. Mas perceber aquilo ainda doeu.
Mas me doía ainda mais que o All for One o estivesse controlando e manipulando. Ah E quase matando o All Migth. Então foi naquela direção que eu fui.
Era bizarro porque naquele instante o All for One era um... adolescente? É. Bizarro. Mas eu não pensei duas vezes em jogar uma rajada de penas curtas em sua direção o perfurando a partir das costas, sem que ele me visse.
Um clarão surgiu depois do meu ataque e eu me joguei pra trás, por medo de ser acertada e... Ah não.
- Achou mesmo que poderia fazer alguma coisa pirralha?- ele me pergunta se virando pra mim e eu percebo que ele é uma criança agora. Mas que merda era aquela?
Então ele avançou pra cima de mim. Tentei desviar mas ele era muito rápido e antes que eu percebesse eu fui atingida com força no estômago e foi jogada pra longe, pra cima da janela de prédio que logo virou entulho e vidro em cima de mim.
- Isso foi humilhante- digo pra mim mesma me levantando com dificuldade e olhando a luta mais além. O All Migth estava de armadura e com uma desvantagem tremenda. Se eu entendi bem, cada golpe fatal que aquela forma do All for One recebesse, rebobinava seu corpo a um estado mais novo. Se ele fosse ferido o suficiente, ele viraria uma célula e então desapareceria?
Fiz força pra me levantar mas a dor me jogou de volta pra trás e me fez perder o fôlego. Ele podia ser a fonte do meu ódio mais antigo, mas eu tinha que admitir: eu não ia conseguir enfrenta-lo.
Uma pequena luz começou a surgir ao longe no horizonte e eu não podia acreditar no que via quando ela se aproximou.
Várias penas começaram a de regenerar e eu me forcei a levantar voo desajeitadamente por já estar no meu limite. Eu saio daquele prédio pra ver o All for One levar uma bela de uma explosão no rosto e desaparecer em mais um clarão.
Uma explosão. Meus olhos se encheram de lágrimas. Não podia ser...
O clarão sumiu e me revelou algo que eu não esperava ver nem nos meus sonhos: O All for One como um bebê decadente e Katsuki Bagukou com as mãos apontadas pro vilão.
Meu primeiro instinto foi ir até ele, se é que era mesmo ele, e dizer que ele tinha quase me matado de susto. Mas então eu vi o All Migth estatelado no chão, mau respirando e meu subconsciente corrigiu minhas prioridades.
Fui até o professor e me ajoelhei ao seu lado.
- All Migth- Digo colocando dois dedos em seu pescoço pra checar sua pulsação. Estava lenta, mas estava la - All Migth por favor diz alguma coisa.
Pra minha surpresa ele consegue virar um pouco o rosto pra me encarar e tenta sorrir pra mim.
- Jovem Luna- Sua voz parece com o som de unhas raspando numa lousa, mas ele se força a continuar- Você ainda tem suas penas?
- O que?- digo e meio que olho pra mim mesma vendo pequenas penas brotando por toda minha pele- Sim, algumas, porque?
Ele encara o Bakugo atrás de nós vendo que ele tinha mesmo explodido o All for One até a inexistência. Minha mente estava tão bagunçada que eu nem notei o momento em que o vilão simplesmente desapareceu e o garoto tombou no chão.
- Use-as pra chamar um resgate- ele tosse e eu fico subitamente preocupada que a qualquer instante seus pulmões colapsem- Tenho a sensação de que não somos os únicos que precisamos de ajuda.
Engulo em seco e me levanto com esforço. Tudo me mim parece mais lento, mas sabe que tem que se aproveitar da adrenalina para uma última ação.
Eu me viro pra sair dali e envio algumas penas na frente até onde eu sabia que uma série de heróis de beckup estava esperando pra ajudar a linha de frente. Estou prestes a levantar voo quando ouço a voz de Katsuki.
- Ei Luna.
Me viro e o vejo com um punho erguido pro alto os olhos virados pra mim no que parecia um esforço imenso.
- É um alívio ver você brilhando.
Lanço um meio sorriso pra ele.
- Também é pra mim ver você detonando.
E então eu levanto voo pra ajudar meus amigos feridos a conseguirem socorro.

Consegui contatar o serviço de emergência pra atender todos em um raio de 20 quilômetros. Mas uma sombra azul distante no chão chamou minha atenção.
Um pontinho de chama no chão, piscando e minha garganta subitamente apertou.
Eu tinha visto como ela tinha ficado depois do glow up no meio da luta. Anami.
Me atirei naquela direção e me ajoelhei ao lado dela. Ela estava ali deitada no chão desacordada e ao mesmo tempo não estava. A imagem dela piscava e oscilava entre a forma luminosa e sua forma sólida. Em um segundo ela brilhava como uma estrela e então ficava pálida feito papel. A forma de plasma parecia ficar intercalando com a sua física, mas ela parecia distante.
Estiquei as mãos pra ela, tentando toca-la pra, sei lá, sacudi-la e tentar acorda-la. Mas meu braço só atravessou o tronco dela e eu afastei as mãos.
- Não...- murmuro E começo a olhar ao redor desesperada. Ela estava sumindo. Indo do estado fantasma e ficando lá por cada vez mais tempo.
Ela estava morrendo.
- Mas que droga!- grito pra ninguém em particular, olhando minha amiga ficar cada vez mais transparente- Você prometeu que nós duas voltávamos! Nós duas sua pamonha! Você não pode morrer agora!
Encosto minha cabeça nas mãos e gritou até meus pulmões murcharem. Eu já tinha sentido desespero naquela batalha. Mas aquilo, a sensação de não poder fazer nada além de olhar, de não ter ninguém pra culpar ou machucar, era muito pior.
Não sei quanto tempo se passa mas de um instante pra outro eu sinto que tem alguém do meu lado.
- Achei você.
Ergo os olhos e vejo o garoto de cabelos cor de magenta e roupa preta carregando uma garota desacordada. Yugoo. Com o corpo da Anami.
Ele se aproxima de mim e deita o corpo dela cuidadosamente ao lado de seu espírito caído e se ajoelha do meu lado. Nos dois só observamos enquanto tanto seu espírito quanto seu corpo pareciam piscar e trocar de posições. Uma hora era seu corpo que se transformava em espírito e seu espírito em corpo físico, e vice e versa.
- Eu entreguei a Hari pras autoridades e percebi que ela começou a piscar- ele disse- Achei que poderia ajudar deixar o corpo dela mais perto do Espírito, mas agora eu não tenho certeza.
Não digo nada. Porque eu não sei o que dizer.
- Chamei alguém pra tirar ela daqui- ele continua e passa a mão pelo cabelo- Porque acho que não há nada que nenhum de nós possa fazer agora.
- Eu queria poder- respondo e começo a sentir o efeito da adrenalina se esvair e eu começar a me sentir fraca e sonolenta- Espero que o Deku consiga acabar com isso logo.
- Ele vai conseguir- ele me responde- Isso vai acabar bem.
Um silêncio sinistro se instalou depois disso. Não tenho certeza em que momento tudo acabou, mas sirenes de ambulância e gritos de comemoração começaram a soar por todo lugar. Logo havia heróis, enfermeiros e gente comum por todo lugar pra ajudar os feridos e eu fui levada dali. Eu queria ter resistido mais e ficado ao lado da minha amiga se esvaindo por mais tempo, mas assim que me ergueram do chão, minha pressão baixou e eu finalmente apaguei.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora