Capítulo 19

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Depois das provas eu estava sinceramente grata pela hora do almoço. Me sentei na mesa de sempre e observei uma Shizuka toda animada correndo até mim com uma caixa nas mãos.
- E aí, novidades?- perguntei olhando com expectativa pro pacote que minha amiga colocou na mesa depois de sentar.
- Sim! As melhores de todas!- ela abriu a caixa e tirou de lá uma máscara meio montada - Eu fui designada pra bolar um mecanismo pra um aluno do curso de heróis!
Bati palmas e analisei o mecanismo. Não entendi bulhufas de como funcionava então eu apenas assenti impressionada.
- Pra quem é?- perguntei.
- Parece que um aluno está tentando se transferir do curso de Serviços Gerais- ela explica - O professor Aizawa encomendou a máscara pra ajudá-lo a treinar. Mas eu ainda tenho muito o que fazer nela. Esse aí é só seu esqueleto.
Ergo o olhar lentamente pra ela.
- Não é pro...
- É- ela diz fazendo que sim com a cabeça e sorrindo - É pro Shinsou.
Inclino a cabeça pra trás e xingo em frustração. Aquele cara era insuportável. Se ele conseguisse entrar no curso de heróis, eu iria ter que atura-lo todo, santo, dia.
- Se ele não honrar o seu trabalho - digo apontando pra máscara- Eu vou quebrar a cara dele e roubar isso aí pra mim, tá bom?
Ela ri e guarda a máscara de volta.
- Pode deixar.
- Mas pra que ela serve?- questiono, começando a comer.
- Ela é capaz de modificar sua voz pra a de qualquer outra pessoa - ela respondeu animada- Ou é isso que eu vou fazer a Persona Records se tornar.
- Se tem nome, isso quer dizer que vai ser um negócio esplêndido mesmo - digo, balançando a cabeça, impressionada - Eu já te disse o quão orgulhosa eu estou de você, sua gênia?
- E eu de você!- ela da um soquinho no ar - Afinal você passou no teste de admissão lutando contra o Big Tree!
Estreito os olhos.
- Como você ficou sabendo disso?
Ela dá de ombros.
- Eu tenho meus contatos.

Quando o dia acabou, a turma combinou de todos irem até o Shopping comprarem algumas coisas que faltavam pra irem ao acampamento.
Mas eu disse que não poderia ir. Não porque eu não quisesse passar um tempo com meus amigos, mas porque eu não ia ao acampamento.
Sim, eu passei no teste com uma nota alta, mas eu não tinha como falar pros meus pais que eu ia em um acampamento pra heróis sem estar no curso de heróis.
- E agora, o que eu faço?- perguntei pro Koichi ao telefone, enquanto eu observava os carros buscando os outroa alunos sentada na escada da entrada da escola.
- Eu tive uma ideia - ele respondeu na outra linha e depois berrou alguma coisa pra alguém que eu não consegui entender - Me encontra amanhã na minha casa.
- Tá legal. Até- digo e desligo.
Continuei uns minutos ali sentada, observando os carros passarem.
Então eu vi o Todoroki esperando do outro lado do pátio. Eu tinha me esquecido de que ele também tinha recusado o convite do shopping.
Um carro vermelho parou e uma mulher acenou pro meu colega de classe.
Ele começou a ir até lá, até que ele me viu e parou.
- Você quer carona?- ele me pergunta e eu fico surpresa pela espontaneidade.
Eu geralmente só pediria um Uber, mas uma carona me pareceu muito mais seguro.
- Claro - digo e me levanto indo até lá.
Ele abre a porta de trás do carro e coloca a cabeça pra dentro.
- Fuyumi, tudo bem em darmos carona pra uma amiga?
A mulher se vira no banco do motorista e sorri ao me ver.
- Claro que sim Shoto!- ela estende a mão pra mim e, assim que eu entro no carro, ela surpreendentemente me abraça - Eu sou a irmã mais velha do Shoto, Fuyumi, é um prazer te conhecer querida!
- Obrigada. Eu sou a Anami - digo colocando o cinto e pensando que, mesmo eu não sendo nem um pouco próxima do Todoroki, ele e a irmã estavam sendo muito legais comigo.
- Então Anami, onde você mora?
Então eu meio que congelo. Eu aceitei a carona meio sem pensar que eu morava meio longe. Então assim que disse o endereço eu esperei que ela me falasse que não poderia me levar, mas ela apenas franziu a testa e falou, preocupada :
- Então você não gostaria de jantar conosco também? Você vai chegar um pouco tarde em casa.
De novo, eu pisquei surpresa. Eu queria muito levar a Fuyumi pra ser a minha irmã.
- Ah, você não precisa se preocupar com isso...- começo mas ela me interrompeu com um aceno de mão.
- Não vai ser nada. Eu insisto.
- Se você não aceitar, ela vai ficar insistindo até você o fazer - Todoroki sussurra pra mim e eu dou uma risadinha.
- Tudo bem então, eu só vou avisar meus pais - digo e pego meu celular.

Por toda viagem de carro eu me esqueci de que estava indo pra casa do Todoroki. Tipo, o garoto mais rico da nossa sala.
Fuyumi estacionou em frente a uma enorme casa em estilo japonês antigo. A fachada da frente era linda e me deixou de queixo caído.
Por dentro a casa era igualmente impressionante. Eu, como uma nerd admiradora de história, me sentia dentro de um filme antigo de gente rica.
- Obrigada novamente - digo a Fuyumi e ao Shoto - Mesmo.
- Fique a vontade querida!- disse minha anfitriã e olhou preocupada pro seu celular.
- O pai não vem, não é?- perguntou meu colega, a voz neutra e aparentemente sem expressão como sempre.
Fuyumi balançou a cabeça em negação.
- O Natsu também não, ele disse que tem muito dever de casa.
Um silêncio desconfortável se instalou entre nós. Eu não sabia os bastidores da família Todoroki, mas eu sabia que devia haver algo bem sombrio relacionado ao fato do meu amigo não querer usar o seu poder de chamas e de ele nunca comentar sobre sua família.
- Eu vou preparar o jantar e aviso quando estiver tudo pronto então bem?- Fuyumi disse.
- Você quer alguma ajuda?- pergunto e ela rapidamente ri e faz que não.
- Raramente temos convidados, então eu insisto que você só aproveite - ela se volta pro irmão- Porque não mostra a casa pra ela?
Todoroki assente e acena pra eu segui -lo.
Passamos por vários corredores onde portas de correr lavavam aos quartos dele, da irmã, do pai ( que ele não abriu a porta e apenas passou reto) e do irmão, a cozinha, ao banheiro, a uma sala de treino toda cheia de equipamentos de academia e outro cômodo que parecia um quarto, mas nele havia apenas um altar com a foto de um garoto.
- Esse era o quarto do meu irmão Toya - ele disse e baixou o olhar - Meu pai o transformou em um altar desde que ele faleceu. Com o se isso fosse concertar seus erros.
Eu não quis perguntar muito sobre o que aquilo queria dizer, mas imaginei que estivesse relacionado a forma como Toya morreu.
Mas havia algo de estranho. Geralmente, em altares em homenagem aos mortos eu podia sentir uma energia instantânea vinda do espírito do falecido, uma vez que um altar era uma forma de se comunicar com os mortos. Mas ali eu não sentia absolutamente nada. Era como se o espírito não estivesse mais ali ou ele não estivesse realmente morto...
Contudo, eu não disse nada e apenas disse:
- Meus pêsames.
Todoroki deu de ombros.
- Obrigado, mas eu não me lembro muito dele.
E então eu comecei a pensar em quantos segredos a família Todoroki podia possuir, e em quantos deles afetava a personalidade do meu amigo.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora