Demorei tempo demais pra conseguir me focar de novo. Quando o escuro saiu do meu entorno e meus sentidos voltaram gradativamente, eu me vi estirada em uma pilha de escombros, ofegante.
Não só isso. A minha frente, Bakugo continuava a enfrentar o Shigaraki. Senti um nó na garganta ao ver que ele tinha um machucado feio no rosto, mas tirando aquilo, ele parecia bem...
Então Shigaraki pegou o braço dele e o torceu do avesso.
E eu de repente não conseguia mais me mexer. Não conseguia mais respirar. Tudo que eu consegui fazer foi abrir a boca pra gritar, mas não ouvir nenhum som sair.
De uma hora pra outra eu me sentia tão furiosa e impotente ao mesmo tempo.
Não pude fazer nada enquanto observava ele ser chutado, socado e quase dobrado ao meio pelo vilão que nos cercava.
O desespero tomava conta de mim. Sempre era eu quem se arriscava daquele jeito. Que estava disposta a entregar a própria vida pra salvar a todos. Ele não podia fazer isso. O meu Katsuki Bakugo não podia ser aquele que ia morrer naquela arena de merda!
Acho que eu devo ter conseguido proferir aquela última frase em voz alta, porque Shigaraki começou a rir enquanto levantava Katsuki pelo pescoço.
- Você tem o mesmo problema que ele não é Luna? Não percebe que, no fundo, você não foi feita pra ser uma heroína. Que não tem força o suficiente pra nada!
Antes que eu pudesse sequer responder ele lança uma coluna de membros na minha direção me atravessa no meio dos escombros.
Sinto uma das minhas costelas rachar ao bater de encontro com algo pontudo e a dor do golpe de repente acorda meu corpo ridículo da forma mais ridícula possível.
Continuo sendo arrastada e acertada por um monte de coisas aleatórias e que perfuram minha pele e arrancam minhas penas. E eu ainda sinto tanta raiva por não conseguir fazer nada, por ter sido a responsável por lhe dar aquele poder...
Eu nunca deveria ter lhe transferido o All for One. Se eu ainda tivesse ele, poderia usar esse poder em meu favor pra acabar com tudo aquilo. Mas na época, eu estava tão desesperada por me livrar do meu passado que não percebi o meu erro.
Balanço as pernas as cegas, tentando me fincar no chão abaixo de mim. Depois de uma eternidade eu entro em contato com o solo. Dou um impulso com as asas pra frente. E saio dali girando e caindo de encontro com o piso.
Me ergo com algum esforço e olho pra trás. A coluna ainda me procurava, ávida por me esmagar.
Trinco os dentes em um sorriso maníaco. Eu deveria estar péssima, cheia de sangue, despenteada, com o uniforme rasgado, fraca e toda doida. Feito um pássaro ferido. Mas eu não ia desistir. Não enquanto eu ainda podia fazer alguma coisa sobre.
Fecho os olhos e começo a bater as asas com força, obrigando-as a me levantar. E logo a adrenalina corre por meu corpo e eu já não sinto mais nada. Ou melhor, eu já não me importo com mais nada.
Pego uma lasca de metal fincada não muito longe de onde eu cai e contorno a coluna que Shigaraki destinou pra me matar e, em um movimento bruto, atravesso o metal nela, fazendo -a cair.
Aquilo tinha funcionado de novo. E no meu estado atual, eu continuaria com aquilo sem piedade alguma.
Avancei pelas colunas de membros, cortando aquelas que eu conseguia e ao menos ferindo as demais.
Vi Bakugo junto do Best Jeanist, que enfaixava seu braço ferido. Xinguei mentalmente. Mesmo ferido daquele jeito, ele não ia desistir.
Mas, bom, nem eu, então acho que eu poderia dar um sermão nele mais tarde.
Mais abaixo, onde o corpo físico do meu irmão se encontrava, eu pude ver o Lemillion conversando com ele e sorri comigo mesma. Se havia alguém irritante o suficiente pra distrai-lo minimamente, esse alguém era o Mirio.
Esse pequeno momento de alegria desanimou a minha mente o suficiente pra eu começar a sentir uma dor excruciante nas costas e minha asa esquerda parou de se mexer com tanta velocidade.
Aos trancos comecei a despencar e cai de pé, meio tonta e muito irritada. Eu estava novamente no chão.
Sinto uma mão em meu ombro. Me viro e vejo um Tamaki Amajiki igualmente detonado, mas ainda melhor que eu e o Bakugo, me encarando.
Depois de um segundo eu percebi que ele estava se apoiando em mim pra ficar de pé.
- Você não precisa continuar- ele me diz e engole em seco.
Tento sorrir, mas acho que só consigo fazer uma careta de dor no processo.
- Eu tenho. Essa merda toda é culpa minha. Que tipo de heroína eu seria se desistisse agora?
Ele me lançou um olhar que me disse que minha condição talvez estivesse pior do que eu podia sentir. Porque eu conseguia ver um pouco de desespero em sua expressão e eu tinha certeza de que era pela minha condição.
A Anami estava certa quando disse que ele dava um bom irmão mais velho.
Só que eu não precisava disso agora.
- Vamos ficar todos bem- adiciono- Temos que aguentar até o Midorya chegar.
Ele concordou com a cabeça e se afasta pra ajudar o Mirio e a Nejire.
Cerro os punhos. Na minha cabeça, eu estava certa de que poderia continuar por muito mais tempo. Mas meu corpo me dizia pra cair ali mesmo e desistir, porque doia e muito.
Ignorei todas as minhas células e me lancei no ar novamente. Porque eu acabaria com o ego mesquinho do meu irmão ali mesmo. Nem que fosse a última coisa que eu fizesse na vida.
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Rainha Fantasma
FanfictionAnami é uma estudante do primeiro ano do curso de heróis da famosa U.A. E enquanto ela tenta se tornar uma grande heroína, ela não percebe a sombra que se agiganta sobre todos. Mau ela sabe que grande parte dessa sombra, foi ela mesma quem construiu.