Capítulo 25

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Senti que passei outra eternidade esperando até a enfermeira permir visitas no quarto da Luna e o Bakugo foi o primeiro a entrar lá.
Mas quando ele saiu de lá, ele apenas balançou a cabeça pra mim.
- Ela não quer falar com ninguém- ele me disse e parecia até mesmo triste em admitir isso.
Tentei falar com ele também e tentar fazer ele me dizer o que exatamente houve entre os dois, mas o Bakugo me ignorou e saiu do hospital em silêncio.
Depois daquilo eu tentei entrar no quarto dela no hospital e falar com ela, mas, impressionantemente, ela estava deitada com os olhos fechados, fingindo dormir. Eu sabia que ela estava acordada e que só estava querendo me evitar de uma forma implícita.
Então eu resolvi deixar ela em paz.
Mas essa "paz" dela começou a me deixar nervosa. Quando voltamos pra U.A, agora no novo sistema de internato, ela continuou completamente reclusa, trancada no quarto por cerca de uma semana inteira.
Então eu resolvi tomar uma providência.
Eu sei, aquilo era ridículo. Mas, sim, eu decidi roubar a máscara Persona Records do Shinsou, que a Shiz tinha me dito que já estava em posse dele. Então eu entrei no quarto dele sorrateiramente, peguei a porcaria da máscara, e me mandei de lá.
Agora eu estava na frente do quarto do Bakugo.
Eu sabia que eles iam me matar quando descobrissem. Mas depois do visível desentendimento entre ele e a Luna no hospital eu tinha que fazer alguma coisa.
Bati na porta e, como esperado, ninguém atendeu. Regulei a máscara pra imitar a voz da minha amiga e disse:
- Kats, por favor me deixa eu me explicar.
O meu medo era ele abrir a porta. Mas, sendo teimoso como sempre, ele apenas encontrou na porta do outro lado e respondeu:
- Acredito que tudo que você tinha pra dizer, você já disse.
- Eu sinto muito não ter te contado antes, mas esse era um segredo que colocaria a todos em risco.
Eles haviam brigado quando ele descobriu que ela tinha parte do All for One. Depois da aposentadoria do All Migth e da briga clandestina com o Midorya.
Eu soube daquilo logo depois do ataque ao acampamento de férias e eu não a culpava. Também porque, eu era meio culpada por tudo aquilo. Nós duas nunca tivemos escolha. Um grande conflito aconteceria cedo ou tarde, nós só fizemos com que ele não fosse ainda mais adiado.
Ainda assim, o tempo era algo precioso.
- O Deku também sabia disso. E eu soube disso primeiro por ele.
Franzi a testam. Não sabia muito bem qual era exatamente o papel do Midorya nisso tudo. Eu tinha uma hipótese, mas até agora nada concreto.
- Luna o One for All é algo sério - ele continua, a voz mais baixa pra que só eu pudesse ouvir - E não é justo o Deku ter que lidar com todo esse poder recebido do All Migth sozinho. Ele é um idiota que mau sabe o que fazer com isso. Você também não tinha que passar por isso tudo sozinha.
Eu congelo. Então o Midorya era o sucessor do All Migth. Ele tinha recebido o poder dele. Agora tudo fazia sentido. Todas as linhas do meu pequeno quadro da conspiração mental se interligaram e eu tive que me segurar muito pra não surtar e nem desabar ali mesmo.
- Mas você me conhece não é? Se eu não fizesse isso sozinha eu acabaria machucando muito mais aqueles que amo - digo em resposta e imediatamente me arrependo. A Luna não diria uma coisa dessas.
Ouço um movimento distinto atrás da porta e começo a me preparar pra sair correndo e pular pela janela aberta do corredor, mas ele não abriu a porta.
- Mas isso ainda machuca. Porque eu me importo com você- ele da uma risada seca e xinga baixinho - Mas que merda, eu me importo muito com você sua idiota!
E então eu me sinto culpada. Não era pra EU estar ouvindo ele dizer tudo aquilo. Era Luna quem deveria estar aqui.
Eu tiro o protótipo da máscara do Shinsou e encosto a cabeça na madeira da porta.
- Bakugo - digo, um nó enorme na minha garganta - Abre a porta.
Com um movimento brusco a porta cede e revela o garoto loiro me encarando, pasmo e completamente paralisado.
- Eu não devia ter tentado reconciliar vocês dois - começo e assim que ele abre a boca pra falar eu o interrompo- Mas agora cala essa boca e me escuta. Você precisa ir lá e conversar isso com ela.
Ele arregala os olhos, olha de e um lado pro outro no corredor, e me puxa pro seu quarto, fechando a porta atrás de mim.
- Era você esse tempo todo falando comigo, baixinha?- ele fala, a voz perigosamente calma.
Faço que sim singelamente.
- Não sei como você fez isso, mas então quer dizer que você ouviu TUDO o que eu disse - ele respira fundo antes de continuar - Então agora você sabe que o Deku...
- É. Eu sei - completo e dou de ombros - Só que na realidade eu meio que já suspeitava. Você só confirmou o que eu praticamente já sabia.
Ele me segura pelos ombros.
- Você não pode contar isso pra ninguém- ele me larga e coloca as mãos nos bolsos - E o que foi dito aqui, fica aqui, entendeu?
Assenti e relaxo um pouco. Ele estava sendo ... legal comigo? Aquilo era novidade.
- Olha você tem razão eu tenho que ir falar com ela é só que...- ele passa a mão nos cabelos e se senta na beirada da cama - Ela é tão teimosa, tão irritante, tão... Luna.
Me aproximo e me sento meio hesitante ao seu lado.
- Vocês dois são- digo e fico repetindo pra mim mesma mentalmente que eu não podia morrer com uma explosão- E é por isso que ela vai te ouvir. Basta você se abrir, do jeito que ... bom...- inclino a cabeça- você se abriu comigo achando que era ela.
Bakugo lança um olhar odioso pra mim, mas apenas suspira e assente.
- Você é até que bem sensata, pigmeu- ele responde depois de um silêncio desconfortável entre nós.
- E você sabe ser legal Bakugo- respondo e dou um soquinho no ombro dele, meio que rindo na cara do perigo - Você só tem que escolher as palavras certas.

E então eu fui devolver a máscara. Eu fui flutuando até o dormitório do Shinsou e deixei o equipamento que ele nem tinha tido a chance de usar ali.
Eu estava prestes a sair, uma vez que eu estava no estado fantasma sem meu uniforme de heroína, quando ouvi um barulho vindo da porta e me assustei, caindo da janela em que estava apoiada no jardim lá embaixo, no estado sólido.
Instantaneamente lembrei da vozinha irritante do meu irmão me chamando de louca por andar por aí nua. Ignorei aquilo e tentei voltar ao estado de plasma, mas, aparentemente, eu tinha esgotado minha cota de transformação e eu não consegui voltar a flutuar.
E não tinha ninguém por perto que eu pudesse chamar pra me ajudar. Ou pelo menos foi o que eu pensei quando vi um pequeno e singelo movimento nas sombras.
Estreitei os olhos. Era o Tamaki, sentado do lado de fora da entrada do dormitório do terceiro ano, lendo um livro. O alívio me contagiou instantaneamente.
- Tamaki!- digo, apenas alto o suficiente pra ele me ouvir. Ergo a mão e aceno - Tamaki aqui!
Ele ergue a cabeça lentamente e arregala os olhos ao me ver no meio dos arbustos que cercavam o prédio em frente. Ele olha de um lado pro outro, se levanta e vem até mim rapidamente.
- Anami o que você...?- ele começa, mas então olha pra baixo e desvia o olhar - V-você está ....?
- Desculpa é um efeito colateral da minha individualidade e você é a única pessoa por perto - digo e me sinto meio culpada. Eu sabia que ele era um cara bem tímido, e o meu estado atual não ajudava em nada na nossa conversa- Você me emprestaria o seu casaco?
Ele olha pra si mesmo, pro casaco de lã grosso e largo que usava. Ele nem hesitou ao tira-lo e dar pra mim.
Coloquei o casaco e me levantei, vendo que ele era praticamente um vestido pra mim.
- Obrigada. E desculpa o inconveniente.
Tamaki consegue finalmente me encarar depois de um longo tempo e coloca uma mão em meu ombro.
- Anami você tem que tomar cuidado com esse tipo de coisa. Eu já vi o Mirio passar por situações muito piores por usar o permear sem o uniforme - ele franze a testa - O seu estado fantasma funciona mais ou menos da mesma forma, não é?
Faço que sim com a cabeça.
- Olha se acontecer de novo, tenta me procurar tá?- ele fala e posso ver que ele estava extremamente vermelho àquela altura.
Era claro que ele não disse aquilo de uma forma estranha ou indecente, mas de uma forma meio preocupada e fraternal. A preocupação dele era semelhante à de Oboro por mim no festival esportivo. Sorrio pra ele.
- Claro. Eu te devolvo amanhã, pode ser?
Ele faz um gesto com a mão e baixa o olhar.
- Não precisa. Ficou muito melhor em você.

Rainha FantasmaOnde histórias criam vida. Descubra agora