Capítulo LXXVII

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  (Renan)

 
   Lá estávamos nós deitados no tapete vermelho da nossa suíte no hotel, esperávamos o dia passar, agradável não estava devido aos recentes acontecimentos que ainda estavam bem frescos nas nossas memórias e que certamente atrapalharia nossa relação. Mesmo que os tais acontecimentos pareçam bastante dolorosos creio que voltar atras não seja uma opção, pelo menos não para mim, pois Heitor demonstra certo descontentamento pelo que ele teve de fazer em nome do nosso futuro.
 
— Ainda pensando no que aconteceu? Deixa isso de lado acredite vai ser bem melhor pra você. Tem pessoas nossa vida que devemos manter bem longe, bem longe mesmo e creio que Hugo seja uma delas. Nem todo mundo quer o seu bem, as vezes somos cercados de pessoas egoístas, que apenas pensam em si mesmas, você é tão bom que não consegue distinguir certo do errado, herói de vilão. As vezes precisamos da visão de outra pessoa para nos guiar, para nos mostrar a realidade como ela infelizmente é, para desmascarar os vilões que se fingem de mocinhos, por detrás de palavras bonitas. Eu já não gostava muito dele desde que o vi pela primeira vez, pensei que poderia ser coisa da minha cabeça, não queria dar uma de namorado ciumento, mas a Violeta confirmou minhas suspeitas, ele não vale nada, ele é daquele tipo de pessoa que não aceita ver a pessoa que ele ama ser feliz. Não, ele é egoísta ao ponto de achar que você é apenas feliz ao lado dele, quando nunca foi e nunca será. Sei o que está sentindo nesse momento, admiro essa sua empatia com o próximo, até quando ele é um sem noção feito aquele Hugo —. Eu deslizava meus dedos nos cabelos dourados de Heitor, ele não falava uma palavra sequer, acreditei que estava refletindo sobre o que eu havia acabado de falar, mas não. Heitor dormia tranquilamente sob minha coxa, certamente ele não ouviu nenhuma das minhas palavras. Sorri ao ver que ele estava tão meigo com uma mecha do seu cabelo cobrindo parte de seu rosto.
 
  — Seu bobo, eu aqui falando daquele diabo, mas nem prestei atenção no anjo que dormia aqui —. Fiquei daquele jeito por um bom tempo, mesmo minha coxa doendo, mas esperei ele r por si mesmo. O que demorou bastante tempo.
 
  — Renan cadê você? —. Perguntou quando acordou, ele era assim, todo tonto ao acordar, parece que a alma ia acordando pouco a pouco bem devagarinho.
 
  — Fui embora —. Ele me abraçou e sorriu, sorriu de uma maneira bem meiga e depois me deu um abraço bem apertado, um daqueles abraços de urso que somente ele é capaz de me dar.
 
  — Está melhor? Daquele nosso assunto, sobre aquele sujeito —.
 
  — Olha sinceramente eu ainda estou pensando bastante no que fiz, embora tenha sido uma coisa que você me pediu, e que você acredita que será benéfico para nós dois, eu ainda me sinto um pouco mal, espero que você entenda, afinal eu disse palavras muito duras para ele. Eu fui ensinado a tratar todo mundo muito bem, mesmo gostando de mim ou não, e ele gosta de mim como amigo, como eu acredito que ele goste. Então me sinto mal, sim me sinto mal, mas eu acredito em você, embora minha razão diga que não, afinal você não mentiria para mim, não é? Além do mais você chegou na minha vida antes dele, você tem mais espaço na minha vida do que ele, e também nos meus pensamentos é você que se faz mais presente. Portanto, eu acho que tudo o que eu preciso é de um pouco de tempo para digerir melhor isso tudo. Espero que entenda —.

   — Entendo. Não vamos mais sobre isso —. Depois daquela conversa, saímos para caminhar um pouco pela cidade, era um final de tarde. Um final de tarde bem bonito.

  Nas ruas muitas folhas e casas bem detalhadas, que se misturavam as luzes natalinas, produzindo um charme de conto de fadas àquele lugar.

  — Renan, será que no próximo Natal estaremos juntos? —.

  — Claro que vamos estar, por que a pergunta? —.

  — Não sei, sabe como às vezes tudo desmorona com tanta facilidade, isso me deixa com medo sabe? Muito medo —.

  — Olha sinceramente, eu não posso saber o que vai acontecer no futuro, mas te garanto que se depender de mim, passaremos todos os Natais juntos. Porque eu te adoro meu bem, te amo —.

  — Sabe uma coisa que eu tenho medo? —.

  — De quê? —.

  — De um dia você ir pra longe de mim, e eu fixar sozinho no meu mundo, me torturando com as nossas lembranças e apenas querendo um dia te abraçar de novo. Eu temo isso, porque meu coração me diga que isso vai acontecer —.

  — Mas acabei de dizer que se depender de mim nunca vamos nos separar —.

  — Eu sei. Mas você é um bailarino, seu sonho é ir para Paris, e você é muito bom. Se você um dia for? E eu como vou ficar? Aqui no Brasil morrendo de saudades? —.

  — Não pensa nessas coisas amor, isso é algo bem distante, quando esse dia chegar, se chegar, decidiremos o que fazer. Mas até lá, acho mais sensato pensarmos em coisas do presente. Como eu você —.

  — Você sabe que esse dia chegará, mas se não quer falar disso agora tudo bem —.

  — Quero te ter pra sempre comigo meu bem, eu dou um jeito, seja lá qual for o problema mas dou um jeito —.

  — Você tem dois mundos Renan, em certo momento a órbita de ambos irá se afastar, e você vai ter que escolher entre os dois —.

  — Pois eu escolho os dois —.

  — Hoje é dia 26 de dezembro de 2019, o céu está avermelhado, e o sol já se deita. E aqui estou eu, Heitor, diante do mais belo bailarino do país e do mundo. Que por acaso também é meu namorado, e agora vou perguntar a ele: Você é feliz meu amor? Ou precisa de algo a mais?—.

  — Eu preciso de um lugar na serra, com uma rede na varanda, um livro, e um cara chamado Heitor —.

  — E eu preciso de você —. Ao dizer isso Heitor segura minha mão e anda depressa até um gramado onde nos deitamos para ver as luzes de Natal.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO
 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora