Capítulo CXIV

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                               (Renan)

   Eu não estava com muita paciência nem vontade para discutir naquele momento, apenas me despedi de Heitor, e fui para minha casa. Ele ainda insistiu muito para eu ficar, mas fui enfático quando disse que ele tinha estragado totalmente o clima do dia.

   Dias se passaram, Heitor não havia mudado nenhum pouco de ideia, tornei-me mais próximo de dona Olga, de vez em quando conversávamos, enquanto eu esperava Heitor. Ela estava bem animada para o seu casamento. Adamastor também, era nítido sua felicidade, o único que não está a feliz era o Heitor.

  — Não precisamos pressioná-lo, creio que o tempo será responsável por mudar a mente do nosso Heitor. Não guardo mágoa, afinal o entendo — Disse Adamastor — Mesmo que nos conheçamos a um bom tempo, para ele essa será uma mudança extremamente radical, afinal, ele respeita a memória de seu avô com muito zelo —.

  — Isso é inquestionável, ele amava o seu avô, mesmo assim Heitor nunca foi tão rebelde, nem muito menos tão teimoso —. Dona Olga disse.

  — Ele cresceu Olga, está se sentido ameaçado, ele não irá mais abaixar sua cabeça, ele irá se impor —.

   — Então foi isso que ele sentiu durante todos esses anos? Medo. E eu nunca percebi, passei meu dias se preocupando em encher sua cabeça com planos bobos e infantis, quando tudo aquilo não passava de uma dolorosa tortura para ele —. Dona Olga falou cabisbaixa e em seguida tomou um gole de chá.

   — Não é querendo se intrometer, nem é querendo fazer a senhora se sentir ainda pior, mas ele se sentia pior que isso. Ele a ama tanto quanto ama o seu avô, ele sabe que pode lhe perder a qualquer momento, por isso cuida da senhora de maneira tão cuidadosa, mesmo que as vezes isso possa parecer tóxica. Mas acho que tudo isso é o medo dele perder, de alguém levá-la embora —.

   — Heitor é o filho que eu nunca tive, ele não saiu de dentro de mim, mas mesmo assim ele é meu filho, ele não me chama de mãe tão usualmente, mas mesmo assim eu sou doida por aquele menino. Ele não saiu de dentro de mim, eu não o gerei por nove meses, mas ele é meu filho. Eu vou fazer de tudo por ele. Até quando eu puder. Você entende não é Renan? Entende o fato de eu estar me casando com Adamastor? —.

  — Entendo, e mesmo que não entendesse, isso é coisa de vocês, eu não tenho nada que me intrometer nas suas vidas —.

   Heitor nesses últimos dias tem ficado mais distante mentalmente, as vezes eu conversava cozinho, com ele ao meu lado, quando eu me tocava ele está a olhando para algum lugar, pensado profundamente, sem me dar nenhum pouco de atenção. E ultimamente ele tem se tornado mais frio comigo.

   Certo dia ele quis reclamar do Adamastor na minha frente, dizer o quão intrometido ele seria. Mas eu não deixei. E assim começamos uma pequena briga. Ele acabou indo para casa muito bravo porque eu o chamei de infantil e o mandei crescer.

   O dia da minha apresentação se aproximava, eu me dedicava bastante para conseguir finalmente decolar e voar por todo mundo. Nos últimos dia tenho me achado diferente, não soube o que era, até olhar em uma foto de um ano atrás, antes eu era mais abatido, tinha um olhar mas sombrio, com uma "cara de depressão" como a Violeta costuma falar. Acho que esse é o efeito de amar alguém, de sofrer todas as consequências de um amor verdadeiro e verdadeiramente intenso.

   Tenho passado muito tempo refletindo sobre tudo, sobre como cada coisa vem ganhado cada vez mais sentido, fico pensando em como meus olhos conseguem ver mais coisas. E também em como eu entendo o mundo de uma forma totalmente diferente de um ano atrás.

                             (Heltor)

  Cada dia que se passa acho que estou sendo apagado da vida de todo mundo que eu conheço. Vejo de longe meu mundo ser tragado por um buraco negro, e ao que parece minhas mãos estão atadas.

   Vovó anda um pouco distante de mim, passa horas e horas no telefone, quando não olhando revista. Certo dia cheguei em casa ele conversava com uma moça que nunca vi antes.

  Mais tarde, quando perguntei quem era, ela me disse que era a decoradora da festa. Embora tenha se passado semanas, essa ideia não havia me descido nenhum pouco. Mas eu não tinha o que fazer, afinal ela era minha avó.

  Minha rotina tem se tornado extremamente exaustiva, o trabalho, a faculdade, o namoro que parece não estar em seus melhores dias. Renan tem estado mais focado em sua carreira ultimamente, eu acho isso um pouco chato, pois às vezes quero estar com ele.

  Mas já entendi que no momento o que nos resta é decidir fazer com o tempo que nós é dado.

  Tenho aprendido ultimante a dar valor a minha própria companhia, há muito tempo venho criando dependência emocional, acho que já passou da hora de evoluir. Não sei o que me aguarda no futuro, mas não quero passar o resto dos meus dias mendigando um pouco de atenção e tempo das pessoas que amo.

  Talvez chegue um dia, que eu olhe para trás e me arrependa de cada decisão que tomei e vou tomar daqui em diante. Mas quando esse dia chegar, não vou me prender a sentimentos tão sem sentido. Vou apenas deitar no chão e procurar pelo céu, em algum lugar deve haver alguma resposta para mim.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora