Capítulo II

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                               (Heitor)

  — Você está bem?! —. Ao perceber que o bailarino tinha caído feio, corri, para o socorrer, ele poderia ter se machucado.

  — Seu idiota, o que você está fazendo aqui? —. Ele falou após um ataque de fúria repentino, seus olhos transmitiam a total raiva que estava em seu interior, tenho certeza que a culpa do acidente foi minha.

  — Precisa de ajuda para levantar? —. Tento ajudá-lo, mas ele era esguio como um cisne selvagem, não deixava ninguém se aproximar.

  — Não obrigado, você já atrapalhou bastante me assutando —. O bailarino se levanta e olha seu cotovelo, ele estava bem só é um pouco dramático.

  — Eu te assustei, não te derrubei, para de me chamar de idiota, eu detesto isso —. Falo. Seu olhar possesso de fúria dirigia-se a mim, suas grossas sobrancelha estavam franzidas.

  — Eu não ligo para o que você gosta de ser chamado, só quero que suma da minha frente, idiota —. Nesse momento não me contive, eu já estava estressado pelo o que meu chefe havia dito e também ser chamado de idiota não ajudava muito.

   Segurei na gola da sua roupa e levantei o braço, eu não estava mais nem aí, queria vê-lo me chamar de idiota novamente.

    — Se me chamar de idiota mais uma vez vai se arrepender, e eu nem ligo se te machuquei ou não —. O soltei, depois tirei aquele chapéu que cobria boa parte da minha cara, libertando meus cabelos, passei a mão para arrumá-los, ele ficou me olhando de braços cruzados por um tempo.

  — Está olhando o quê? —.

  — Nada, eu só quero ensaiar em paz, dá de sair do palco?! —. Falou mais calmo, ele não parecia ser um cara ruim, acho que a culpa foi minha pelo excesso de raiva.

  — Fique a vontade, apenas vim fazer meu trabalho aqui —.

  Desci do palco e fui fazer minha vistoria, era uma coisa relativamente simples, apenas ver se tudo estava certo, mas demoraria um pouco devido o tamanho daquele teatro. Decidi começar pelo salão principal. O bailarino continuou dançando de olhos fechados fingindo que eu não estava ali.

   Depois de quase uma hora terminei meu trabalho, desci do terceiro andar, com as anotações em mãos, quando estava chegando ao térreo ouvi aquela voz familiar.

   — Renan! Pronto para encher esse teatro Romeu? —. Olhei de longe e vi que era o prefeito, ele conversava com o bailarino.

  — Renan —. Falei por alto, esse era o seu nome. Quando estava quase saindo de fininho o prefeito gritou.

   — Você rapaz! —.

   — O quê tem eu? —.

   — Voce fez a vistoria não fez? Diga-me que esse teatro pode funcionar —. Ele juntou as mãos em sinal de súplica.

   — Bem, considerando que o número de extintores ainda é abaixo do recomendado, esse teatro não pode funcionar, creio que seja esse apenas o empecilho —.

  — Hehe —. Ele sorriu e bateu palmas, Eu já conhecia a figura de outras ocasiões, mas era a primeira vez que ele falava comigo.

  — Aqui está a quantidade de extintores de cada tipo, que o teatro precisa —.

  — Obrigado rapaz, muito obrigado —. Ele apertou minha mão de maneira feliz. O solitário é explosivo bailarino nos olhava de certa distância.

  — Por nada, apenas fiz minha obrigação —.

  — Diga-me rapaz você já veio ao teatro? —. Perguntou. Olhei ao meu redor rapidamente, vendo tudo de belo.

  — Ainda não —.

  — Pois venha amanhã, será meu convidado de honra, em nome do corpo de bombeiros —. Ele me deus dois ingressos muito bonito, com o nome da peça bem destacado em uma daquelas letras bem detalhadas. Olhei para sua felicidade, e depois do tuor pelo teatro e de ver tanta beleza não pude recusar.

  — Obrigado senhor —. Ele deu dois tapinhas no meu ombro e depois voltou a falar com o Renan.

  — Já dançou em um palco bonito assim antes? —. Ele perguntou. Depois de mais uma olhada rápida, decidi ir embora, guardei aqueles convites dentro do bolso. E sai daquele prédio exuberante.
Na entrada um detalhe que havia passado despercebido quando entrei me chamou atenção, era o cartaz da peça, enorme, com o nome da peça "Romeu e Julieta", e na arte havia um rosto em destaque, o do bailarino que me xingou.

  — Renan Donatello —. Ele seria o protagonista, deve ser por isso que ele estava treinando sozinho. Acho que queria aperfeiçoar tudo, para dar o melhor.

   Entrei no meu carro, a cena dele me xingando ainda não havia saído da minha cabeça. Tampouco a sua dança solitária em um palco enorme.

   — Tudo o que preciso é de um banho —. Falei um pouco cansado devido a meu exaustivo dia de trabalho.

                           (Renan)

   Depois de quase ter apanhado para aquele bombeiro estúpido, eu naquele momento estava pensativo, muito preocupado com o fato de não ter acertado nenhum dos meus saltos especiais. O que mais chegou perto foi o salto em que o estúpido me assustou.

  Aquele olhar fixo, que lembrava o olhar de uma águia, me causava medo. Mas o verde de seus olhos eram mais convidativo que qualquer mar que já vi. Eram intensos como uma esmeralda iluminada por um raio de Sol.

  Depois que o prefeito foi embora, eu até tentei dançar, mas não consegui, peguei minhas coisas, coloquei na minha mochila e fui para casa, no carro a única coisa que me vinha a mente era o dia de amanhã, duas mil pessoas me olhando não seria nada fácil.

  Ao chegar em casa, fui direto para o chuveiro, tirar todo aquele suor e sujeira do meu corpo, meus músculos doíam um pouco, eu ensaiei bastante hoje pois amanhã tenho que descansar. E vai ter tanta coisa.

   Depois do banho vesti uma camisa e uma bermuda e fui ler um pouco na sala. Eu morava sozinho, depois de anos de uma vida toda com minha mãe. Foi difícil convencê-la, mas no fim consegui, quando falei que era melhor para a carreira.

   É um lugar pequeno, em um bairro não tão bom, mas calmo, cheio de árvores.

   "— Por que, onde quer que eu estou, sinto sua falta. Só penso em você desde o amanhecer. A parte mais feliz do meu dia, é quando você me recebe naquela porta. Todo tagarela, sorridente, e principalmente carinhoso. Ter você é como ganhar na lotérica, uma chance entre milhões —".

   Leio em voz alta, sentindo um calorzinho dentro do coração. Eu sei que tenho um sonho, mas as vezes queria não ter, nem sonho, nem compromisso. Invejo muito os personagens de livros, que se apaixonam perdidamente, se entregam em um amor gigantesco.

  — Que bonito —. Fechei o livro e fiquei meditando naquela lindas palavras.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

  

  

 

 

 

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora