Capítulo XIII

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                           (Renan)

   Entre as um milhão de coisas mais improváveis de acontecer, a pior delas aconteceu hoje. O Heitor, na minha casa,  todo molhado e com uma chuva que o impedia de voltar para casa.

   Sequei rapidamente meu cabelo no secador, e depois troquei de roupa, vestindo algo casual, mas não tão o meu casual. Pois eu costumava usar roupas um pouco curtas para treinar ballet, e eu não usaria na frente dele.

   Peguei uma toalha limpa e levei para ele. Percebo que tremia devido ao frio do ar-condicionado.

   — Vou separar uma roupa pra você, mas acho difícil caber, é todo grandão você —. Aproveitei minha ida e coloquei a água do chá no fogo. Caçei no meu armário alguma roupa que coubesse nele, calça foi até fácil, afinal eu usava algumas coisas bem frouxas, já camisa não foi da mesma maneira.

   Mas por sorte eu tinha um agasalho que também era frouxo. E lá ia eu entregar-lhe as roupas para vestir.

   — Sim, não, não está tudo bem, tchau —. Ele falava ao telefone.

   — Era minha avó, me perguntando se eu estava abrigado —. Explicou rindo tentando desfarçar o frio.

   — Vai lá se trocar —. Apontei para meu quarto, ele seguiu.

   Fui preparar o chá, mas pensei melhor e decidi fazer um café, nem todo mundo gosta de chá. Sei que não posso julgar as pessoas, mas ao que parecia ele não gostava muito de chá.

  — Bem, acho que ficou bom —. Heitor aparece já vestido, em seguida vai se sentar no sofá. Digamos que ele ficou engraçado com aquela roupa. Ele tinha uma cara tão de menino e um corpo de homem adulto.

   Enquanto eu terminava nosso lanche, o meu celular toca, ele estava na sala, do lado do sofá, na mesinha. Heitor olha, e depois diz:

   — "Hora do alongamento" —. Lê alto. Eu fico um pouco constrangido por estar na sua frente, então respondo-o:

   — Pode desligar, depois eu faço —. Ele olha para o celular que tocava Chopin, e em seguida diz:

   — Não está se sentindo incomodado, está? —.

   — Só um pouco, mas relaxa, depois eu faço —.

   — Você mesmo me disse que alongamentos são importantes, então acho que não deve se incomodar com minha presença —.

   — Está bem —. Depois de terminar o café, pego meu celular e coloco em uma música no aleatório, e toca uma serena sonata de Beethoven.

  Começo a me alongar, primeiro tocando os dedos dos pés, logo em seguida abrindo as pernas o máximo que consigo. Seus olhos estavam fixos em mim, e quando nossos olhares se cruzavam apenas os meus recuavam.

   A última parte consistia em levantar minha perna comigo de pé, o máximo que eu conseguisse. Segurei meu pé e o levantei mais alto que minha cabeça.

  Nesse momento tive um pequeno desequilíbrio e quase caí, mas para minha surpresa e desespero Heitor rapidamente me segura por trás, pondo sua mão na minha cintura. Um arrepio sobe minha espinha. Meu estado é de tanta surpresa que não consigo formular uma frase sequer, então ele continua ali detrás de mim.

  Suas mãos eram fortes, minha pele sentia isso. O fato de eu estar estático apenas exemplifica como fico estático ante sua presença.

  Abri meus olhos, e pelo reflexo do espelho a nossa frente nossos olhos se encontraram. Meu olhar assustado junto do seu confiante.

  — Você quase caiu —. Explicou, sua confiança rapidamente desapareceu, no lugar dela dúvidas surgiram. Abaixei minha perna devagar.

  Continuamos nos olhando por um tempo através do espelho.

                           (Heitor)

    Ao ver seu corpo quase caindo, tive o impulso movimento de segurá-lo, com o intuito de impedir que se machucasse. Ele termina seu alongamento, mas ficamos parados daquela forma por algum tempo.

  — Desculpa, acho que já vou embo... —. Inesperadamente ele se vira e me beija. Seus lábios massageavam os meus devagar. Ele cessou o beijo assim que percebeu que eu não o retribuía.

  — Ai meu Deus que vergonha, me desculpa não foi minha intenção —. Ele se afastou e foi rumo a cozinha. Fiquei parado por um tempo, tentando acontecer o qhe acontecia. Nunca fui beijado por outro homem antes. E isso era uma área inexplorada.

  — Aqui, toma um pouco de café —. Era visível sua vergonha e arrependimento. Me sentei no sofá, e olhei assustado de um lugar para o outro.

   Tomei o tal café, ele me olhava totalmente constrangido ainda, repetindo a cada minuto seu pedido de desculpas.

   — Heitor fala alguma coisa, me xinga pelo menos —. Disse. Coloquei a xícara em cima da mesinha, me levantei. Olhei para a porta, minha vontade de ir embora era imensa.

   — Ei, desculpa mesmo, não foi minha intenção —. Segurou meu braço, olhei para aquilo. Por um momento ao ver aqueles seus olhos pesados e aquela minúscula boca, eu me perdi completamente da minha mente.

  — Xiu! —. Ponho meu dedo em sua boca e o impeço de falar. Quando dei por mim estávamos nos beijando novamente, mas dessa vez de verdade. O levei contra a parede e o pressionei.

   Algo que deveria ser estranho, foi incrivelmente bom, e extremamente viciante. Paramos um pouco, novamente por minha causa. Me afastei e fui sentar no sofá um pouco.

   — O que é isso? —. Pergunto ainda sentido o sabor de seus lábios.

   — Eu não sei, é-é —. Ele gaguejava. Eu não conseguia voltar, nem fugir. Basicamente estava perdido, preso no mesmo lugar.

   Renan escondia o rosto com as mãos, e veio em minha direção de novo. Olho assustado para aquilo. Ele senta-se ao meu lado no sofá. Segura meu queixo e puxa novamente para beijar-me.

  CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

  

  

  

  

  

 

  

  

 

 

 

  

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora