Capítulo XXVII

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                              (Heitor)

  Estávamos tão próximos, depois de dias tão distantes, foram dias longos confesso, mas necessários para compreender o incompreensível que se tornou minha vida.

  — Disse que tentou me esquecer, posso saber como?! —.

  — Precisamos falar disso agora? —. Evitou falar do assunto, achei bem estranho, mas não o pressionei, apenas questionei mais uma vez.

  — Por que não falar? Estamos bem —.

  — Porque nem eu gosto da resposta —. Fico alguns segundos em silêncio, refletindo qual seria o significado por trás daquelas secas palavras.

  — Agora me deixou curioso —.

  — Esquece isso, como você mesmo disse, estamos bem. Se eu falar talvez estrague tudo —.

  — Desculpa, mas não tem como me esquecer, se fez alguma coisa de errado é melhor me falar. Porque senão, nunca vou mais te olhar da mesma maneira, sabendo que esconde algo —.

  — Tudo bem eu falo, mas não vai ser nada legal —.

  — Não pode ser algo tão ruim assim —. Nos olhamos, ele saiu de cima de meu peito, e sentou-se na cama.

  — Nem sei por onde eu começo, mas acho que eu estava tão ansioso por conta de tudo. Era o ballet, e ainda por cima tinha você, muito mais complicado, que começou a persistir nos meus pensamentos. E muito bem, foram por esses motivos que tentei te esquecer —.

  — Os motivos eu entendo, só não me disse o que você fez —.

  — Eu fiquei com outro cara —. Algumas palavras soam como tiros, altas e violentas. Outras são tão assustadoramente terríveis que fazem as pernas tremerem. Foram esses mais ou menos os efeitos de suas palavras em mim.

  — Ficou com outro cara?! Como assim ficou com outro cara? —. Me levanto da cama, fico de pé, o encarando.

  — Fiquei com ele Heitor — Suspirou irritado — Eu disse que não seria nada agradável —.

  — Agradável? Chama isso de desagradável? Você deu pra outro cara e acha que eu tenho que gostar disso? Não isso é perfeito, perfeito eu aqui que nem um idiota me preocupando em como você estaria em uma outra cidade, e você lá bem feliz —.

  — Eu não dei para outro cara, eu não estou pedindo nada a você, então acho melhor baixar o tom de voz —.

  — Você dá para outro cara, e depois me chama aqui fingindo que não aconteceu nada —.

  — Porque está irritado? Não temos nenhum compromisso, ou por acaso acha que sou sua propriedade? —. Ele disse já ficando irritado. Muitas coisas se passaram pela minha cabeça, mas apenas uma delas se pareceu mais plausível, catei minhas roupas do chão e comecei a vestir.

  — Desculpa, não sabia que você era desses que ficam com todos apenas por prazer. Mas te digo uma coisa, não vou ser usado por você —.

  — Deixa de ser infantil, eu não transei com ninguém, e outra não te devo nenhuma satisfação, nem a você nem a ninguém —.

   — Tudo bem como você preferir, se tentou me esquecer espero ter conseguido, porque eu quero que desapareça da minha vida. Nunca mais me procure, se divirta com qualquer um por aí, mas me esqueça —. Depois de dizer essas palavras, peguei minha jaqueta e saí por sua porta o mais rápido possível. Quando saí do prédio caía uma chuva fina, porém muito fria sobre mim.

  — Se você pensa que vou ficar me humilhando por sua causa está muito enganado, me erra também seu machista —. Gritou da sua varanda e depois se dirigiu para dentro do seu apartamento. Eu estava com tanta raiva.

   A possibilidade de outro cara ter tocado sua pele era algo tão repulsivo para mim. E só de pensar que ele esteve com outro cara, isso me dá náuseas.

  Quando cheguei em casa, passei direto para meu quarto fechei a porta, e cai de cara em cima da minha cama, onde extravasei toda minha fúria. Eu ainda não acreditava que ele tinha feito isso, sei que não temos nada mas ficar com outro cara é muita falta de consideração comigo.

  O pior de tudo é que estávamos tão bem antes dessa discussão, tínhamos feito amor, mas de uma maneira mais especial que a primeira. Com ele muito mais seguro aos meus braços.

  E pensar que aquele corpo foi possuído por um outro alguém, isso me incomodava bastante. Ainda pior que isso foi a maneira como viramos as costas um para o outro. Pedi que ele saísse de minha vida, coisa que nem eu sou capaz de fazer, pois o desgraçado estava na minha mente. Porque eu gostava dele, gostava demais dele.

  — Heitor, o quê aconteceu? —. Vovó perguntou batendo na porta e em seguida entrando no quarto.

  — Nada —.

  — Que nada Heitor? Você entra aqui feito uma bala, nem fala comigo, é depois fica aí escondendo seu rosto —.

  — Vó, não é nada que a senhora precise se preocupar —.

  — E como é que não vou me preocupar com você Heitor? Se só tenho você —.

  — Só estou cansado do trabalho, e estou com dor de cabeça —. Tiro meu rosto do travesseiro, e em seguida olho bem no fundo de seus olhos.

  — Quando quiser falar a verdade eu vou estar aqui —. Foram essas suas palavras antes de sair do meu quarto. Ela já sabia que eu estava me envolvendo com alguém. Eu já esperava isso, afinal ela me conhece desde de sempre.

  Fiquei horas pensando no que aconteceu, foram pensamentos de me tirar o sono. Eu sentia uma raiva muito grande, misturado a outro sentimentos. Acho que o bailarino foi uma grande decepção, grande não, enorme.

   Sei que o que aconteceu entre nós é confuso, eu também senti essa confusão na minha cabeça, mas em momento nenhum agi com tamanha canalhice. Essa era uma atitude de uma pessoa de baixo nível, baixíssimo nível. E vindo justo dele, uma pessoa tão refinada, delicada.

  Não sei o que será de mim nos próximos dias, mas espero que nossos caminhos não se cruzem mais, pois vou tentar esquecê-lo também, não da forma estúpida como ele fez, mas do meu jeito. Creio que será fácil para ele, afinal já tinha tentado.

   E nem sei se conseguiria manter minhas palavras caso o visse, afinal mesmo estando muito errado, ele acertou quando falou que juntos não havia controle de nossos corpos.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

O vôo do CisneOnde histórias criam vida. Descubra agora