Capítulo CXIX

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                             (Renan)

   No caminho para a igreja, eu estava bastante pensativo acerca de tudo. Pensando em como minha vida era algo totalmente inconstante e incontrolável. O aniversário de um ano de namoro com o Heitor se aproximava, sinceramente eu não esperava nem que fossemos namorar nem muito menos namorar por um ano.

   A verdade é que ele soube me conquistar, entrou na minha cabeça de um jeito que agora é impossível tirar. Quando penso no futuro não o limito apenas a uma coisa nossa, sempre penso em nós dois, pois só serei feliz se ele estiver comigo. Sei que ele está se tornado complicado ultimamente, mas mesmo assim, quero viver ao seu lado para sempre.

   E ao olhar pela janela eu sentia muitas coisas, coisas boas.

   Ao chegar na igreja sentei em um lugarzinho no canto da terceira fila, a igreja estava muito bonita. Cheia de flores das mais belas espécie, Adamastor pelo visto não tinha poupado nenhum pouco em seu casamento. Ele estava no altar conversando com os convidados, ele tinha pintado os cabelos, antes bastante esbranquiçados agora estavam pretos como o céu noturno. Ele vestia um terno preto muito chique e certamente muito caro.

   Os convidados estavam encantados, seja pela decoração impecável ou simplesmente pelo o fato de um casamento de conto de fadas como aquele iria acontecer.

   Agora sentado naquele banco eu apenas esperava o Heitor chegar junto de sua avó. Eu já estava impaciente, tinha inclusive pensado em como seria uma boa ideia dançar no palco de uma igreja. Justo eu que não sou muito adepto de crenças religiosas. Diferente do Heitor que é todo religioso. Embora ele também não seja muito de frequentar a igreja.

   Adamastor olhava frequentemente para a porta, mesmo antes do horário estipulado. Ele estava visivelmente nervoso. Pelo o que me falaram, acho que foi amor a primeira vista de sua parte. Já que desde a primeira vez que viu dona Olga ele não conseguiu mais parar de pensar nela. Bem eu seu como é passar por isso, afinal eu também passei por poucas e boas nas mãos do Heitor. Essa família deveria ter alguma coisa para deixar as pessoas completamente loucas por eles.

   Olhando aquela decoração bobagens passaram pela minha cabeça, embora eu não fosse religioso, a ideia de casar naquele lugar não era uma coisa tão absurda para mim. Eu conseguia imaginar eu entrando na igreja, com o Heitor no altar de terno azul cabelos bem penteados. Isso foi quase como um vislumbre uma visão de um futuro improvável, mas foi uma bela visão.

   Eu sorria, e depois escondia o sorriso pois estava em público, certamente quem me olhava pensava que eu estava ficando maluco ou coisa assim. Caso isso viesse a acontecer creio que eu morreria de felicidade, afinal eu estaria realizando o meu sonho com o homem que eu amo tanto.

                             (Heitor)

   — Sei que eu não deveria, mas eu agora estou lembrando do meu primeiro casamento — Vovó disse já com uma voz chorosa, a olhei rapidamente pelo retrovisor, ela visivelmente estava emocionada.

   — Põe que não deveria? —.

   — Vou casar com outro hoje. Nunca pensei que isso viria a acontecer. Queria apenas ter entrado na igreja com seu avô mas nunca ter saído de lá sem ele —.

   — Bem vovó, algumas coisas está além de nossa compreensão e de nossas vontades —.

    — A igreja estava tão linda naquele dia, ele estava tão lindo naquele dia, parecido com você, um pouco mais baixo é claro e o cabelo um pouco mais escuro. Sem falar no nariz bem pontudo. Ele era o homem mais bonito que eu já tinha visto na vida. Ele trabalhou tanto tempo para podermos celebrar nossa união. E no final valeu a pena —.

    — São belas lembranças —.

    — São, nunca vou poder esquecê-las, e pensando bem, nem pretendo. Mesmo que eu viva com o Adamastor, nunca vou esquecer o seu avô, porque ele é uma parte inextinguível da minha memória. Uma parte vital da minha vida —.

   — Acho que no fim, ele desejaria isso para a senhora, ele com certeza desejaria que casa-se outra vez, viver sozinho é um grande castigo. Ninguém merece não ser amado —.

    — Eu gosto do Adamastor, amo muito, mas ainda assim meu amor pelo seu avô ainda é maior. Eu posso ser feliz ao seu lado, mas mesmo no meu momento de maior felicidade ainda terei comigo nossos momentos, que foram tantos. E aqui estou eu falando deles antes de me casar. Como uma velha cheia de lembranças remotas —.

   — Ora continue, ninguém aqui pode julgá-la, até porque estamos nessa juntos —.

   — Eu só quero que você saiba que eu pensei muito antes de... —.

   — Vó, não precisa se explicar, hoje é seu dia, a mim não deve explicação alguma. Eu só espero do mundo do meu coração que seja feliz. Porque a senhora merece muito. Sei que a partir de hoje não viveremos mais juntos, mas sempre terá um pedaço no meu coração, assim como eu tenho um pedaço da senhora na minha vida —.

   — Você quer me fazer chorar? — Ela sorriu — Acho que cheguei em uma idade em que tudo me faz chorar, era tão mais fácil se controlar antigamente. Hoje me olho no espelho e tento relembrar como eu era nos tempos jovens da minha vida, mas eu não lembro, pois na minha cabeça sempre fui velha. Acho que já me acostumei com as rugas na minha testa. Mas de uma coisa eu sei, não vou morrer sozinha, um dia estarmos todos nós reunidos novamente. E quando esse dia chegar Heitor, saiba que vou sorrir como nunca antes eu sorri, quando eu abraçar seu avô, ele deve estar cuidando do meu Dudu —.

   — Quem é Dudu? —.

   — O meu anjinho, o seu tio que morreu ainda criança, bebê na verdade. Poucos dias depois de nascido. Seu avô ficou devastado, mas agora ele deve estar feliz — Ela olhou para o céu deu um sorriso e disse —Eu quero tudo o que eu perdi Heitor tudo de voltar, juntos das que eu conquistei. Nessa terra eu estou apenas sobrevivendo. E você é uma das poucas coisas que me dizem que não, que há algum prazer em estar aqui —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

  

  

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