Parte III - Queria que estivesse aqui: Capítulo CI

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O VOO DO CISNE
PARTE III
QUERIA QUE ESTIVESSE AQUI

(Renan)

  Era noite, disso eu sabia, pelo menos disso. Dias haviam se passado desde o desastre que havia sido aquele dia. Eu não comia, não sentia nada além de tristeza, porém a saudade do Heitor crescia.

 
Acho que já estava na hora de procurá-lo, eu já perdi uma parte importante da minha vida, não podia perder a outra, não podia deixar que tomem a outra parte.

   Imersos em meus pensamentos tão profundos, assustei-me quando da porta ouvi batidas, e batidas impacientes. Naquele horário só poderia ser Heitor. Me alegro, pela remota possibilidade de estar com ele. Então me apresso em ir atender a porta, arrumo apenas o meu cabelo que estava bagunçado.

  Quando abro a porta, não era bem o que eu esperava, embora ainda fosse Heitor que batesse a porta, não era queda imagem que eu aguardava. Ele estava destruído, com os olhos vermelhos, era possível ver lágrimas descendo e o seu estado de desolação.

  — Eu posso entrar? —. Perguntou, mal conseguindo falar. Fiquei espantado pelo seu estado, o segurei pelo braço e o conduzi para dentro do meu apartamento.

   — Heitor, meu amor, o que aconteceu? —.

   — Deu tudo errado Renan, minha avó... —. Ele não conseguiu continuar, o choro venceu-lhe. A julgar por seu estado, pelo fato de estar trazendo consigo um porta retrato, suponho que ele tenha sido expulso de casa.

  — Ela não aceitou você? —. Ele apenas balançou a cabeça negativamente. Eu lhe abracei forte, nunca eu havia visto o Heitor daquele jeito, tão fraco, tão abalado.

  — Ela me expulsou de casa Renan, eu posso ficar aqui? Eu não sei para onde ir —.

  — Meu amor, se você quiser, você pode morar aqui comigo, mas não precisa pensar nisso agora, vem aqui —. O chamei para deitar a cabeça na minha coxa.

   Ele ficou chorando por longos minutos, eu já estava desesperado, pois aquilo me machucava demais, pois mo fundo eu sentia um pouco de culpa, afinal eu lhe pressionei para contar, e olha só o que eu fiz, fiz ele se afastar da sua família. Se eu não houvesse entrado em sua vida, isso nunca teria acontecido.

   — Desculpa Heitor, isso tudo é culpa minha, está tudo dando errado por minha causa. Eu não acho justo você ficar comigo e sofrer dessa maneira —.

  — Por favor não termina comigo, você é tudo que me resta, se eu não tiver a você, eu não tenho mais nada que me prenda a esse mundo —. Ele falou me agarrando forte.

  — Eu nunca que vou terminar com você amor, se lembra daqueles juramentos que fizemos em Gramado, de que nunca abandonariamos um ao outro, pois bem, eu estou aqui, e estou feliz que esteja aqui também, mesmo que desse jeito —.

   Aquele seu olhar de desalento, sem rumo, me causava uma profunda dor, ele havia perdido uma parte importante da sua vida. Eu bem que ainda acreditei que dona Olga amasse o neto incondicionalmente, e eu estava errado. Não sei que avó é essa, com um neto como o Heitor e ainda o trata dessa forma.

  — Quer alguma coisa meu amor? Um suco, alguma coisa pra comer, eu peço o que você quiser —.

   — Eu só quero que essa dor pare. Porque isso está me matando Renan. Só queria ter o amor de vocês dois, mas agora apenas tenho o seu —.

  Agora essa era nossa situação, eu estava fora do ballet, Heitor fora de casa, um par quase perfeito, pelo menos tínhamos um ao outro e isso nunca ninguém conseguirá acabar, por mais que tentem e tentem.

    Fiz um suco para o Heitor, dentro coloquei um calmante, ele precisava dormir, não queria vê-lo como um zumbi. O coitadinho já tinha passado por coisas demais hoje. Foi bem difícil o convencer a tomar, mas no fim ele cedeu.

   — Eu pensei que daria tudo certo, ela sempre disse que me amava apesar de tudo —.

   — Heitor, pense um pouco nela também, por 25 anos ela imaginou você de uma forma, aí do nada ela descobre que esse você nunca existiu, e todos os planos que ela fez para o futuro de vocês nunca irão se concretizar —.

  — Acha que ela pode voltar atrás? —.

  — Se eu acho? Eu tenho certeza disso meu amor, ela só precisa de um pouco de tempo, assim como nós precisamos de tempo para aceitar um ao outro, ela precisa de um pouco de tempo também —. Eu estava se divertindo bastante otimista. Nem mesmo eu acreditava nessas palavras. Mas nunca se sabe.

   Pouco a pouco o sono foi chegando para ele, já era muito tarde quando ele foi dormir, o arrumei no sofá, ele estava bem confortável. O cobri para o proteger do frio, lhe dei um beijo na testa. Eu amava aquele homem demais.

   Agora que o Heitor iria morar comigo, fiquei muito pensativo acerca de tudo, sobre o fato de eu não estar mais na companhia e também sobre muitas coisas.

  — Foda-se aquele ballet meia-tigela, eles que perderam um bailarino de verdade —. Digo comigo mesmo. Amanhã eu iria até uma outra companhia e iria fazer minha matrícula.
Não seria eles, nem muito menos Cassiano e Hugo que me impediriam de dançar. Agora não era apenas eu quem dependia do meu futuro mas também Heitor. Não tenho tempo pra ficar me lamentando por coisas simples, quando tenho ainda muito o que fazer.

   Assim pensando em muitas coisas, acabei perdendo a hora e fui dormir muito tarde, quase perto do amanhecer. Deitei ao lado de Heitor, ele me abraçou bem forte.

   Olhei para o meu amor antes de dormir, ele foi tão corajoso, assumindo nosso relacionamento. Creio que nunca farei nada igual. Por isso eu tinha que batalhar bastante por seu amor. Batalhar pelo meu príncipe.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

 

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