Capítulo LXVIII

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                             (Heitor)

   Ao chegar em casa, encontro com a vovó ao telefone, com certeza falando com a tia Otávia. Ela nem sequer falou comigo, só o que faltava agora estar com birra dessa idade.

  — Boa tarde também dona Olga —. Digo passando por ela, vou a cozinha beber água. Ouço ela falando de mim para minha tia.

  — Ele anda muito ocupado ultimamente, sabe como é —. Depois que terminei, vou para o meu quarto mas sou parado no meio do caminho.

  — Fala aqui com sua tia, e aproveita pra contar a novidade —. Ela saiu de perto e foi se sentar no sofá. Olhei aquilo sem muita paciência pra esses chiliques.

  — Oi tia —.

  — Oi Heitor, não lembra mais da família não é? Se eu não ligar você não me liga —.

  — Desculpa, mas é que é são tantas coisas sabe, trabalho, faculdade, a vovó —. Olhei para ela deixando bem claro que ela me estressa às vezes.

  — Eu sei, eu sei. O seu tio já separou o leitão, vai ser grande esse ano, daquele jeito que você gosta, bem assado, até ficar com aquela crosta —.

  — Pois é tia, até que eu adoraria experimentar, mas é que nesse ano não vou poder ir passar o Natal com vocês —. A minha tia não disse nada por longos segundos, até que finalmente falou.

  — Por que? —.

  — Porque vou a Gramado, passar o Natal lá e também descansar um pouco, pelo menos por uma semana —.

  — Mas você sempre passou o Natal conosco, seus primos estão com saudades, o Pedrinho vive perguntando por você, disse que até jogaria bola quando vocês chegassem —.

  — Eu também sinto saudades do Pedrinho, ele cresceu muito? —.

  — Não fuja do assunto Heitor —.

  — Mas eu já dei a resposta tia, quero passar um tempo sozinho, para descansar —.

  — Longe da sua família? No Natal? Sua avó sabe disso por acaso? —.

  — Sabe é inclusive está aqui com uma cara de velório, mal falando comigo —.

  — Queria que eu estivesse como? Sabendo que na única época que todo mundo se junta no ano, você vai fazer essa desfeita. Heitor até que eu gabava você, mas depois dessa, depois dessa... —. Ela nem terminou de falar.

  — Vó pelo amor de Deus, deixa de drama, eu vou passar o Natal longe vocês, e não ir embora pra sempre. Do jeito como fala parece que desonrei a família —.

  — Que drama o quê?! Tudo bem eu não falo mais nada, só espero que esteja feliz —. Ela se levantou e saiu para o jardim

   Tia Otávia desligou o telefone, e eu fiquei ali na sala, parado tentado entender o que tinha acontecido. Era a complicado.

                  
                             (Renan)

   — O que você faz aqui? —. Pergunto quando vejo minha mãe no ballet, ela estava arrumada, com aquela sua cara de soberba.

  — Isso é jeito de falar comigo? Só vim fazer uma visita, ver se estava fazendo tudo direitinho —.

  — E então? Satisfeita? —.

  — Nem um pouco, você parece um mendigo desse jeito, e o que você anda comendo? Está gordo, parecendo uma baleia. E do jeito que está dançando vai chegar a lugar nenhum —.

  — Tá, tá. Entendi, eu sou péssimo, você é boa. Agora pode ir embora e me deixar ensaiar em paz —.

  — O que é isso? —. Ela segura minha mão e toca na aliança, não demora muito tempo para entender.

  — Agora eu entendo. O que foi que eu te disse sobre esses casos, isso só vai atrapalhar sua carreira, você tem que ser focado. Homem só presta pra uma coisa, pra te derrubar e depois pisar em cima de você —.

  — Isso não é da sua conta, vai embora, não te devo satisfação —.

  — Quero ver quando o seu pai souber, acha que ele vai gostar de saber? —.

  — Vai embora agora, ou vou mandar os seguranças virem te tirar daqui —. Ela finalmente foi embora, não sem antes, fazer aquilo que eu mais odiava. Levantar minha cabeça tocando no meu queixo.

  Era sempre assim, ela aparecia para me colocar para baixo, eu eu sempre me sentia mal depois. Saí do salão rapidamente, entrei no banheiro fechei a porta, e no espelho me olhei. Tirei meu collat, e fiquei olhando meu corpo, percebendo que ele estava mesmo mais inchado.

  E foi assim que comecei a chorar. Meio que sem razão, afinal nada daquilo fazia muito sentido. Apenas fiquei chorando na frente do espelho, me sentido um lixo, olhei para o meu cabelo, ele parecia tão horrível eu estava horrível.

   Não consegui voltar a treinar, depois disso fui para casa, muito estressado. Entrei e deitei na minha cama, apaguei a luz, e fiquei debaixo do lençol, pensando em tudo que ela me disse. Era por esse motivo que eu não gostava dela perto de mim, porque ela me fazia chorar. Ela fazia questão de deixar bem claro como eu era incapaz de chegar onde ela queria.

  Queria que o Heitor estivesse aqui comigo, vom certeza ele faria me sentir melhor, com uma daquelas suas piadas infames. Mas infelizmente ele era muito ocupado, parecia ter duas vidas de tão sobrecarregado que ele era.

   Segurei na nossa aliança, lembrei que lá dentro havia o seu nome, para eu me lembrar dele sempre. Eu tinha certeza o Heitor não queria ferrar com minha vida, até porque isso não parecia ser do seu feitio. Aconteça o que acontecer eu nunca vou deixá-lo, nem sequer pela minha carreira.

  Na verdade, depois que conheci ele, dançar perdeu muito espaço em minha vida. Antes era minha prioridade, mas agora parecia algo sem graça, que de vez em quando me deixava feliz, enquanto Heitor me deixava feliz todo o tempo.

   Queria tanto que minha vida fosse mais fácil, todo mundo tem direito de errar, menos eu, se eu errar tudo desmorona. Tem mil dedos apontados para mim, e apenas uma mão para me levantar da queda, a do meu bombeiro.

  Ironicamente ele me derrubou, para depois levantar minha vida ao máximo. Eu não quis segura sua mão no início, e agora não quero mais soltar. Que coisa irônica. É o amor, é o mistério do amor.

  — Vou lutar por nós dois, por nosso futuro, prometo, meu homem —.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.

 

 

 

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